Thursday, April 19, 2007


Não tenho mais sangue,
saiu-me pelos olhos.
.
Quem quer nada?
Ofereço vazio com ausência,
dou e encarrego-me da leva
sem custos... levem-me a essência.
.
Ninguém cá mora,
mudaram-se há algum tempo
tementes da chegada da hora
da chama se fazer incêndio.
.
Largaram os pertences valiosos
e salvaram os dedos.
Arrependem-se do abandono
mas terra árida não tem dono.
Anos antes, quando havia solo fértil,
araram e cultivaram narcisos.
Anos antes, com esperança no cantil,
saudavam a aurora com sorrisos.
.
Estranharam....
não se deu nenhum terramoto.
Estranharam....
não veio nenhuma tempestade.
Estranharam....
o ar morreu de morto.
Estranharam....
a terra morreu antes da idade.
.
Não lhes deram respostas
e sentiram as paredes apertar.
Não fizeram perguntas
e pegaram a trouxa sem hesitar.
.
O sol caiu,
a terra abriu,
a chuva desceu,
o narciso morreu,
o ar pesou,
o fogo chegou,
a maré subiu,
a casa ruiu.
.
Sorte que já tinham desaparecido,
Azar do ilhéu que ficou perdido.

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