Descobri, há largos anos, que nunca seria outra pessoa. Nessa altura, contudo, acreditava, também, que isso era uma enorme vitória, aquilo que todos deviam desejar.
Volvido algum tempo, percebi que, de facto, nunca me tornaria noutro mas que também nunca seria o mesmo. Assim começou a saga de limar arestas.
Com o passar dos dias, a grande benção de ser sempre e constantemente eu passou a vestir um fato mais escuro, não negro mas mais escuro.
Seria uma enorme alegria, para mim, poder dizer, com verdade, que foi de observar como os outros se destroem e comem que decidi fazer algumas alterações, contudo, tal seria pura e simplesmente mentir. O que aconteceu foi que o que em mim foi progredindo surgiu de me ver comer outros, inconsciente de que o fazia mas, ainda assim, alimentando-me de outras almas.
Felizmente, porque apenas sofro de cegueira parcial (o orgulho e a competitividade são a pala que repousa sobre o meu olho direito), penso que nunca destruí ninguém que merecesse o afago da minha mão mas, malogradamente, nunca terei a certeza porque nunca perguntarei.
Aqueles (mais aquelas, se não quiser empurrar os factos para fora de casa) que operaram uma ou outra mudança em mim só o fizeram depois de serem podados dos meus ramos.
Foi a gentileza da minha primeira mulher que, depois de devidamente esgotada e de alma fracturada, me abriu os olhos para o facto de que não tenho de ser ferro todo o dia e todos os dias, para o facto de que o meu não não teria de estar gravado em pedra e poderia ter sido apagado e para o facto de que por mais que nos amem (e esta ainda me ama) o limite do tolerável ainda existe.
Não se pense que isto era unilateral, não o era de todo.
Acordava a pensar que faltavam menos uns minutos para a ver e dormia muito rapidamente para a ponte de um dia para o outro viesse mais depressa. Gostava dela com aquilo que me parecia todas as células do meu corpo, contudo, gostava mais ainda de ser eu e não outra pessoa qualquer.
Vivi com ela muitas coisas. Viajamos, passamos semanas sem ver mais ninguém, fomos verdadeiramente inseparáveis e recebi muito mais do que aquilo que estava preparado para receber e não fui capaz de dar mais de metade do que aquilo que tinha.
De tudo que passei e vivi posso dizer, para que este quadro fique devidamente pintado, que a lembrança mais feliz que possuo desse tempo foi quando ela se abraçou a mim, com todas as forças que tinha, e encostou a cabeça ao meu peito enquanto chorava compulsivamente porque, por um momento, enquanto cozinhava, quase tinha queimado a minha mão.
É o pouco tornado em muito e o imperceptível que, depois, se torna o sol de todos os astros.
É como as histórias que se contam, com enorme entusiasmo, aos amigos. Aquelas que relatam a ida ao México com a amada, aquele jantar no restaurante mais romântico e singular da Europa, aquele relógio recebido no aniversário... isto conta-se e dá-se um relevo exterior mas o que nunca esquecemos e o que torna singular o que para os demais é plural é aquele dia em que tudo correu mal e em que ela, silenciosamente, te puxou a cabeça para o seu colo e dele fez fortaleza.
Volvido algum tempo, percebi que, de facto, nunca me tornaria noutro mas que também nunca seria o mesmo. Assim começou a saga de limar arestas.
Com o passar dos dias, a grande benção de ser sempre e constantemente eu passou a vestir um fato mais escuro, não negro mas mais escuro.
Seria uma enorme alegria, para mim, poder dizer, com verdade, que foi de observar como os outros se destroem e comem que decidi fazer algumas alterações, contudo, tal seria pura e simplesmente mentir. O que aconteceu foi que o que em mim foi progredindo surgiu de me ver comer outros, inconsciente de que o fazia mas, ainda assim, alimentando-me de outras almas.
Felizmente, porque apenas sofro de cegueira parcial (o orgulho e a competitividade são a pala que repousa sobre o meu olho direito), penso que nunca destruí ninguém que merecesse o afago da minha mão mas, malogradamente, nunca terei a certeza porque nunca perguntarei.
Aqueles (mais aquelas, se não quiser empurrar os factos para fora de casa) que operaram uma ou outra mudança em mim só o fizeram depois de serem podados dos meus ramos.
Foi a gentileza da minha primeira mulher que, depois de devidamente esgotada e de alma fracturada, me abriu os olhos para o facto de que não tenho de ser ferro todo o dia e todos os dias, para o facto de que o meu não não teria de estar gravado em pedra e poderia ter sido apagado e para o facto de que por mais que nos amem (e esta ainda me ama) o limite do tolerável ainda existe.
Não se pense que isto era unilateral, não o era de todo.
Acordava a pensar que faltavam menos uns minutos para a ver e dormia muito rapidamente para a ponte de um dia para o outro viesse mais depressa. Gostava dela com aquilo que me parecia todas as células do meu corpo, contudo, gostava mais ainda de ser eu e não outra pessoa qualquer.
Vivi com ela muitas coisas. Viajamos, passamos semanas sem ver mais ninguém, fomos verdadeiramente inseparáveis e recebi muito mais do que aquilo que estava preparado para receber e não fui capaz de dar mais de metade do que aquilo que tinha.
De tudo que passei e vivi posso dizer, para que este quadro fique devidamente pintado, que a lembrança mais feliz que possuo desse tempo foi quando ela se abraçou a mim, com todas as forças que tinha, e encostou a cabeça ao meu peito enquanto chorava compulsivamente porque, por um momento, enquanto cozinhava, quase tinha queimado a minha mão.
É o pouco tornado em muito e o imperceptível que, depois, se torna o sol de todos os astros.
É como as histórias que se contam, com enorme entusiasmo, aos amigos. Aquelas que relatam a ida ao México com a amada, aquele jantar no restaurante mais romântico e singular da Europa, aquele relógio recebido no aniversário... isto conta-se e dá-se um relevo exterior mas o que nunca esquecemos e o que torna singular o que para os demais é plural é aquele dia em que tudo correu mal e em que ela, silenciosamente, te puxou a cabeça para o seu colo e dele fez fortaleza.
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