Saturday, October 01, 2011

As obras de arte são, para mim, aquelas que revelam o que todos queremos ou quisemos dizer mas que nunca fomos capazes. Muitas das vezes nem sequer sabemos disso até o ver/ouvir/ler cristalizado nas palavras/melodias/pinceladas de quem nos enfia isso na cara.

Há muitos motivos para nem todos conseguirmos fazê-lo. Seria óptimo que o único motivo para essa incapacidade fosse, apenas, um dom que nasce com uns poucos de nós.
A verdade, muitas das vezes, é mais crua do que isso, a verdade, muitas vezes, é que somos cobardes, medrosos, merdosos e portadores de tantos outros predicados do mesmo calíbre; a verdade é que não queremos que seja verdade, não queremos ser nós a ficar presos num passado, não queremos que outros sejam mais para nós do que nós para eles.

Há uns anos apanhei isso no "Problema de expressão" dos Clã. Foi uma música que ganhou uma enorme e merecida notoriedade porque, especialmente para nós portugueses, o "só pra dizer, que te amo...e até parece que estou a mentir, as palavras custam a sair, não digo o que estou a sentir...digo o contrário do que estou a sentir" é a passagem a som o que todos já sentiram. Uns porque, de facto, não encontraram as palavras e outros porque não tiveram a coragem de as usar. Para uns e para outros: PARVOS!

Agora apareceu o Someone Like You da Adele. O caso deste é um problema mal resolvido, um amor que acabou apenas para um dos integrantes passados e que serve de âncora passada a uma vida presente.
A quem isto nunca aconteceu?
Este tema nem sequer é novo. O que surge como uma tempestade que tudo leva é, na minha opinião, alguma sanidade no desvario. Alguma resignação na verdade. Alguma compreensão no meio de uma tempestade de tristeza. Há um desejo de felicidades a quem prosseguiu. Não é um presente envenenado, é só um presente.

No meu caso, por exemplo, consigo explicar exactamente o que sinto e penso, e faço-o aqui, com outro nome e outra cara porque não conseguiria fazê-lo de outra forma. Porque não consigo fazê-lo de outra forma. Não é uma personagem, sou eu...mas sou eu sem roupa e nisso sou como os outros, não gosto de ter frio.

Enfim, nas sábias palavras do House "everyone is miserable", por isso, porque seria eu diferente?

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