Tuesday, January 24, 2012

Volta e meia dou uma vista de olhos ao programa do Piers Morgan para ver quem por lá anda. Não vejo o programa independentemente do entrevistado porque não morro de amores pelo entrevistador (como não morreria de amores por ninguém em nenhuma profissão que admirasse o Donald Trump).

Ontem o convidado era o Sean Penn. Metade por ser famoso e metade por causa do estupendo trabalho que tem vindo a fazer no Haiti.
Como seria de esperar, a coisa resvalou para a corrida à presidência dos EUA e aos concorrentes Republicanos. Como seria, ainda mais de esperar, nenhum destes candidatos agrada ao Sean Penn (como não agradam a qualquer pessoa instruída) mas a surpresa, para mim, foi outra. Pareceu-me relevante e fez-me pensar (mesmo correndo o risco de me magoar).

O Santorum defende, por exemplo, a criminalização do aborto. Ora, isto não é novo, aqui acontecia o mesmo há uns anos mas a diferença, que não é, de todo indiferente, é que QUALQUER ABORTO SOB QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA SERIA CRIME. O que quer isto dizer? Que nem mulheres grávidas em virtude de violação ou incesto nem mulheres cuja gravidez lhe acarrete risco de vida poderia abortar.
É a puta da loucura, eu sei, mas a parte que me fez pensar não foi esta, esta só me deu uns arranques.
O que me intrigou foi isto:
O Piers pergunta ao Sean Penn qualquer coisa dentro deste genero: "Não sente algum respeito por um tipo como o Santorum que, apesar de se discordar dele, assume aquilo que é sem tentar enganar ninguém?"; depois de uns segundos, o Sean respondeu-lhe: "Se o respeito? Se respeito um tipo que pretende que a minha filha seja presa caso decida abortar? Não, não o respeito!"

Ora, é evidente que o Sean Penn não podia respeitar um tipo destes - interrogo-me como poderia alguém fazê-lo - mas o facto de nem a sinceridade deste candidato granjear alguma simpatia preocupa-me.
Não é que eu consiga, racionalmente, explicar que deveríamos ter algum apreço por quem se assume como é por mais estúpido, ignorante e, até, criminoso que isso seja mas consigo, racionalmente, perceber que é muito mais perigoso instigar à mentira e à mascara para que, quando for tarde demais, a mentira acabe e a máscara caia.

E o grande problema é este: Quando apenas estamos dispostos a ouvir aquilo que nos interessa estamos, também, a instigar para que nos mintam.

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