Saturday, October 11, 2014

Já Quase me Esqueci como se Escreve

INSEGURANÇA

1
Como já escrevi mais vezes do que o devia, as pessoas olham para as outras e avaliam-nas segundo os seus próprios parâmetros. Quando vêm alguém a olhar para o chão pensam que as estão a evitar se for essa a artimanha que as próprias usam para evitar pessoas, nunca lhes ocorre que estão à procura de uma moeda que lhes caiu.
É a natureza humana, não o descuro, e como também sou humano é também a minha natureza mas como conheço o facto tento escapar-lhe.

Há uns tempos atrás conheci uma miúda a quem achei graça (âmbito estritamente profissional) e como fiquei com boa impressão, não tentei criar dificuldades.
A dado momento, o comportamento dela para comigo mudou e, como sempre, andei a vasculhar as minhas memórias para tentar perceber onde falhei no tacto involuntariamente porque voluntariamente sabia que não o tinha feito.
Não encontrei resposta além da insegurança que a miúda sentiu quando percebeu que lhe era desconfortável lidar com areia que a sua camioneta não comportava.

Como a miúda era e é neófita, fui dando uns apertões leves (que foram sentidos como violentos) só para me deixar em paz. Resultou mas, ainda assim, não fiquei ressabiado com ela. Neófita.

Uns dias depois ela veio falar comigo e disse-me o que a tinha desagradado.
Não direi em concreto porque é desinteressante e nem utilizarei qualquer metáfora porque me é impossível encontrar uma tão insignificante. Nunca lá teria chegado.

Parece que a coisa se resolveu e espero que assim seja mas não estou certo.
Normalmente, a maioria das pessoas diz metade do que quer e pensa que a coisa está sanada e para mim até está porque não me interessa.
Problema? INSEGURANÇA

2
A questão da liderança é-me muito cara. Gosto da teoria e da prática (voltará em 3) mas se não se pensar nela ainda antes de a ter o trilho encontrará muitos pedegrulhos.
Da minha experiência pessoal - relativamente parca em ser liderado, um pouco mais extensa a liderar e muito grande a ver isso acontecer - a maioria das pessoas em postos de liderança (os intermédios, entenda-se) está preocupada e chicotear a sua equipa e em laurea-la para o exterior.

O que quer isto dizer?
Internamente, trata-a pior do que devia. Entende-se não apenas como hierarquicamente superior mas também intelectualmente e, naturalmente, isto nada tem de mal se for verdade mas ainda que seja verdade - ou especialmente se for verdade - tem muito de mal quando se esfrega tal coisa na cara dos subordinados.
Só um idiota acha que alguém pisado faz mais e melhor. As pessoas fazem mais e melhor se perceberem o que estão a fazer e por que o estão a fazer para ti. As pessoas pisadas fingem que fazem e fingem que te têm apreço mas na realidade fazem o estritamente necessário ou mais que isso porque, no seu âmago, estão a pensar vai paró caralho!.

Externamente, dentro da estrutura que as tutela, este líder intermédio cobre de laudas os seus colaboradores directos. São todos um sonho e imensamente inteligentes, quer o sejam ou não.
Porquê?
Porque só alguém extremamente capaz pode ser superior hierárquico de tanta genialidade.

Por que motivos uso os intermédios?
Simples. Porque este tipo de merdas não rola com facilidade onde o ar é mais rarefeito, onde a coisa ou acontece ou não e não se pode disfarçar.

Pensem, por exemplo, nisto: Se vcs estiverem rodeados por 10 pessoas e 8 dessas 10 acharem que vcs são umas bestas podem achar que bestas são as 8 porque não vos entendem...e podem estar certos. Da minha experiência, contudo, quando muita gente acha uma mesma coisa tende a haver motivos para isso. Convém, pelo menos, conceber que talvez vcs sejam mesmo umas bestas.

Por que motivo são estes intermédio - que são a maioria - tão incapazes ainda que de si mesmo acham outra coisa? INSEGURANÇA

3
Para mim, apesar de muito ter lido sobre coisas ligadas à liderança mas não especificamente sobre liderança - e não o faço porque precisamos de saber mais sobre pessoas/política/psicologia e a própria condição humana para liderar do que de organigramas - liderar resume-se a 2 coisas: Exemplo e Compreensão.

Exemplo:
é preciso que as pessoas que pretendes que te sigam vejam e não apenas ouçam o que tu fazes.
é preciso que as pessoas vejam que não as estás a mandar fazer coisas enquanto ficas ao telefone a bajular a tua própria chefia e que vais almoçar durante 3 hs enquanto eles partem pedra.
é preciso que não subsistam dúvidas quanto a fazeres, pelo menos, o mesmo - em termos de empenho - daquilo que pedes sendo muito vantajoso fazeres mais.
é preciso levares a candeia e se ele for atrás não se vê nada.

Compreensão:
é preciso que as pessoas entendam o motivo que leva a que sejas tu e não outra pessoa a liderar.
é preciso que as pessoas entendam que o que pedes que seja feito é relevante e faz parte de um todo, todo esse que também convém que saibam qual é para verem a sua porca na engrenagem e entendam a sua importância.
é preciso que as pessoas percebam que não és burro e que tens competência para o que fazes. Competência essa que não tem nem deve ser exclusivamente técnica porque as pessoas não são lideradas por quem sabe mais de uma determinada matéria mas por quem é capaz de as levar do ponto A ao ponto B.

NÃO PODES SER INSEGURO

4
Falando, agora, de mim em específico (egocêntrico aguenta pouco tempo):
Um dia destes estive reunido com uma mulher que não conhecia mas que me conhecia a mim. Não visual ou carnalmente mas sabia coisas sobre mim.
Por natureza, importo-me pouco com isto, sendo que a minha principal preocupação é parecer o que sou e não outra coisa.

Pormenores da coisa são desinteressantes. O que aconteceu é que me relembrei de algo que andava perdido no vácuo há muito: Gente esperta é perigosa.

Ela é esperta, muito esperta.
Ela é segura, muito segura.
A coisa pareceu que me correu bem mas é impossível ter a certeza e a minha única consolação é que correu como tinha de correr. Agora, alea jacta est

O que me pode ter safado foi isto:
apesar de ela ter conhecimento bastante alargado sobre o que eu fazia, como fazia, com quem fazia e tudo o resto, não me conhecia a mim e para isso estava menos preparada.
Gente esperta e confiante gosta de controlar o ambiente e esforça-se por isso mas, como é humana, não pode deixar de estremecer quando é apanhada na curva.

O que aconteceu foi isto:
a conversa foi levada para onde ela não contava e gente deste tipo não desiste, adapta-se.
Ora, por muito talento que se tenha, quando perante o desconhecido temos de nos adaptar mas adaptar lança-nos uns metros para um lugar onde não contávamos estar e, por isso, menos controlado.
No esforço de recuperar controlo, ela teve de abrir mão daquilo que não queria: mostrar-se!

Não foi uma competição...mas se tivesse sido eu tinha ganhado.
Em contrapartida, a maioria da faca e a maioria do queijo está com ela, pelo que o resultado em si terá ou dois vencedores ou 1 e se for só 1 não vou ser eu.

Foi divertido. Espero que aconteça mais vezes porque de gente chata estou farto!

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