A QUADRA
Esta é, para mim, a pior época do ano.
Não é porque se perdeu o espírito de Natal ou porque agora é só consumo. Para ser perfeitamente honesto, os presentes sempre foram o que mais gostei no Natal, até porque era a época em que tinha mais dinheiro; hoje, nem isso chega.
Pior que o Natal só o Ano Novo.
Nada muda com o andar dos ponteiros. Melhor. Nada muda porque os ponteiros estão num lugar destinado a fazê-lo.
Também já não é a hipocrisia que me incomoda. Também já não é uma festa que me atrai.
Esta época de reminiscência impede-me de usar a minha melhor arma que é a capacidade de não olhar para trás. A ausência de vontade de rememorar impede âncoras e tempestades. A ausência de retrovisores impede que se perca tempo com o que já lá não está mas apenas esteve.
Em frente! Sempre em frente!
Infelizmente, porque sou menos desenvolvido do que gostaria, quando sou abalroado a todas as horas e de todos os lados por introspecções - ainda que torpes e muito pouco sofisticadas - não consigo evitar tomar-lhes parte e reconhecer o muito que poderia ter acontecido e não aconteceu e, especialmente, o que queria que tivesse acontecido e não aconteceu.
Isto pode parecer e, também, ser de somenos para a esmagadora maioria de vocês e ainda bem que assim é. O contraponto ao rolo compressor que me preenche é o problema em fazê-lo arrancar sempre que pára. Se sofresse um bocadinho que cada vez sofreria menos de uma vez. Se acedesse parcimoniosamente ao que preciso não sentiria a falta de tudo de uma só vez.
Fico feliz que os outros fiquem felizes mas a mim mata-me!
É, também, mais que intrinsecamente pesado realmente prejudicial. No mundo real. No dia-a-dia.
A minha paciência é coisa do passado. Ando encolhido numa bolha que me isola muito mais do que protege. Quero dormir. Quero que passe. Não quero encarar.
Felizmente, falta pouco.
Acho que já contei por aqui que, a dado momento, partilhei o mesmo tipo de obrigações com outro gajo com quem me dava bem. A coisa era igualmente difícil para os dois.
A dado momento, em condições em tudo idênticas, uma mulher que trabalhava connosco entrou na sala de um e, depois, na do outro.
Numa das salas, um gajo chorava; Noutra das salas, um gajo estava a partir merdas contra a parede.
Eu não sou de chorar.
....e quando isto parece uma ilustração de uma bicharia de um e de uma enorme descarga de testosterona de outro - sendo que a aspreza é, normalmente, mais admirada de fora e mais querida de dentro - deixem-me que vos diga que as lágrimas secam mas não há cola que faça as coisas voltarem ao seu estado original.
Não aprendi a chorar mas aprendi a atrasar a remessa de coisas contra as paredes. A minha esperança é sempre que espere o suficiente para que a vontade passe.
Vá, daqui a uns poucos dias a coisa vai passar!
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