Monday, July 20, 2015

Menos e Menos e Menos e Menos

Acho que em 2006 o Bourdain foi fazer um dos programas dele ao Líbano, mais concretamente para Beirute.
Enquanto fazia as cenas dele e dava conta do pulso da cidade, de bar em bar (bastante movimentados) começou um ataque aéreo israelita; acho que soaram sirenes mas não me lembro bem.
O pessoal saiu dos bares em busca de refúgio e um tempo depois houve notícia de que o perigo havia, momentaneamente, passado e...voltou tudo para os bares.

Eu, como os outros portugueses e, até, a maioria dos europeus tem muita dificuldade em entender como se volta para a cerveja depois de uma ameaça ou efectivo bombardeamento.
Parando meia dúzia de minutos e perscrutando um pouco mais do que é o mundo não civilizado (expressão maravilhosa por parva) percebe-se que os libaneses fizeram o que fizeram porque a humanidade adapta-se a tudo.
Se de cada vez que havia uma ameaça se parava eles nunca andariam e isso é tolerável de vez em quando mas não sempre.

Então: bem, ainda não foi desta. Onde íamos? Ah, o prato tradicional!

Por motivos que evito descrever e escrever, o que também não farei agora, fui forçado a ir despindo, camada a camada, o que podia dispensar sem saber, anteriormente, que o poderia fazer. A realidade fez questão de me mostrar que enlouqueceria se não me habituasse a menos e mostrou-me, também, que não é só em questões de indumentária que menos é mais.
Há uns anos tinha um telefone (que era um sonho, um objecto que lamento ter perdido mas que hoje jamais compraria...porque não é importante) que quando ia ficando sem bateria ia desligando as funções acessórias e mantendo as essenciais, até que a bateria morria e iam todas de vela. No entanto, ia sobrevivendo o mais que podia desprendendo-se de coisas supérfluas.

Eu, como o resto da humanidade quando tal se torna necessário, adapta-se o melhor que pode ao que tem e ao que é exposto.

O problema que surge, no meu caso em concreto mas acredito que seja aplicável a mais daqueles que se cruzam connosco na rua, é que nem tudo o que nos forçamos ou somos forçados a dispensar deveria, em termos gerais, ser dispensado.

Vou tentar ser menos ambíguo mas não juro.
Deixei de dar importância a quinquilharia. O telefone, a que já me referi, é uma dessas quinquilharias.
Não preciso, e não quero, o último modelo que é capaz de fazer centenas de cenas que não me interessam e de que não preciso. Não me interessa que seja super-rápido porque não preciso de super rapidez. Não me interessa que seja impressionante para quem vê porque não estou interessado em impressionar.

Deixei de dar importância aos bares e restaurantes da moda. 
Não preciso, e não quero, ver e ser visto num lugar cuja maior e muitas vezes única virtude é apenas essa. Não preciso, e não quero, perder tempo em lugares destinados a pavonear futilidades como o carro em que se chega, o relógio que se tem ou os sapatos que se usa.
O pior deste tipo de lugares, que já frequentei com assiduidade e onde era conhecido e reconhecido, é que o que realmente se deveria ir lá fazer, mas não se vai, é fraco. As bebidas são más (nem vou começar a falar da salada que se serve e a que se chama gin, agora) e a comida péssima; a única coisa que valoriza, tanto uma como outra, é o desproporcionado preço.

Deixei de dar importância a relações pessoais que sejam mais do que amizade e, por vezes, à amizade em si.
Quando somos forçados a adaptar a melhor forma de o fazer é sozinho.
Haverá quem tenha ideia e experiência diferente. Ouvimos e lemos, muitas vezes, falar do quanto alguém que estava lá ajudou e apoiou e tudo o resto. Pode tudo ser verdade mas a mim não aconteceu assim.
Como é sabido, não gosto de partilhar dor e problemas porque acho que os multiplico e não que os divido, então, quando tenho de fazer coisas prefiro fazê-las sozinho, isolado. Se correr bem, óptimo; Se correr mal, mau mas apenas mau para mim.

O desagradável destas alterações e mudanças que o tempo nos impõe é que nos desenraíza. Quando os hábitos e ambiente se alteram temos de ir atrás dos ventos, se queremos sobreviver. Os ventos levam-nos mais para onde querem do que para onde pretendemos. 
O agradável destas alterações e mudanças é que mostram que somos muito menos frágeis do que aquilo que, por vezes, pensamos e comprovam o velho a necessidade é a mãe de todas as coisas.

Em suma, reconhecendo que acho que me perdi, a dado momento, e não era bem isto que tinha em mente: Quando não se pode viver, sobrevive-se.

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