Monday, August 10, 2015

O Estado Islâmico reflecte verdades sobre todos nós. Não estou a falar de questões metafísicas, ainda que pudesse, mas algo bem mais simples como a natureza humana que, despida da sofisticação da capacidade de raciocínio singular, continua a ser animal.

O sucesso do EI não se prende, apenas, com a sua capacidade de armamento; ele teve e tem apoio da população.
Parece esquisito porque não andamos por lá mas não é assim tanto. Não é particularmente diferente do que sucedeu com a Alemanha Nazi nem com o Portugal de Salazar, no seu íntimo.
A população das terras conquistadas sente-se mais segura com um regime completamente repressivo que chicoteia quem não reza, entre tantas outras coisas, e sente-se mais segura porque sabe com o que contar, mesmo quando é assim tão terrível. 
Esta é, por exemplo, uma lição para aqueles mentecaptos que acham que o Estado é imprestável: é necessária ordem e, na ausência de uma que seja justa, uma injusta é melhor que nenhuma.

Ademais, os gajos do AI, por entre julgamentos que terminam em tiros na nuca e apedrejamentos, vão dando pão a quem não tem acesso a ele e a comunidade tolera um tiro ou outro se tiver o que comer porque, como em tudo na vida, nunca somos nós quem vai apanhar porque seremos sempre cumpridores.
...vi um tipo a quem perguntaram o motivo que o levou a submeter-se (não no sentido literal mas porque o procurou) a um tribunal do EI (sharia) e não aos comuns. Porquê? Porque este é mais rápido e a coisa fica resolvida.

Ordem, pão, rapidez.
Vende-se a liberdade por isto e, para ser honesto, acho que o pão seria suficiente.

Pode parecer que critico, porque sentado na minha poltrona europeia, mas não é o que estou a fazer.
Haverá sempre idealistas que preferem liberdade a pão e eles são necessário. Não falo dos comunistas que não preferem a liberdade nem a democracia, embora o bradem a todos os ventos, porque não querem nem uma coisa nem outra; querem a privação da liberdade e da democracia mas de acordo com os seus ditames.
Falo de idealistas que são capazes de mudar o mundo, nem que seja porque o tentaram, e que põe o corpo juntamente com as palavras mas ainda que tal seja admirável não sinto como sendo exigível.

É inconcebível, mormente por falta de memória, que alguém se submeta à repressão por um prato de lentilhas mas isso é para quem tem um prato de lentilhas.

Lembrei-me disto, também, porque este fim-de-semana ouvi gente julgar outras pessoas por comportamentos que já não lembram terem sido os deles próprios.
Mais uma vez, eu também julgo e, às vezes, até parece que o faço do cimo de uma altivez moral que não tenho nem julgo ter...é uma questão de carácter e de incapacidade de ser abrasivo.

É fácil falar-se de fora.
É fácil dizer-se que se faria uma outra coisa.
É fácil pensarmos que estamos num pedestal ao abrigo das intempéries.

....e depois a merda acontece e somos como os outros.

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