Saturday, January 30, 2016

FÉ RESTAURADA!

E não é uma coisa boa!

Por estes dias fui avaliado. Não me importo de ser avaliado, per se, o que me chateia é perder tempo com as reuniões conjuntas de apreciação. Chegava-me mandar a cena e depois saber o que tinha resultado, tudo por escrito e com muito menor perda de tempo.
A perda de tempo que referi não se prende, apenas, com a inutilidade do confronto que não o é (se fosse pensaria diferente) mas com a inutilidade do formalismo em si. É uma coisa para dar sainete e não para cumprir o objectivo a que se destina.
Entre muitas outras coisas, o avaliado reflecte-se no avaliador que responde por ele porque a posição hierárquica a isso obriga e o segundo tem tendência a defender-se inflacionando a nota do primeiro. 
Eu sei, é a natureza humana e a isso lá iremos. O que quero dizer é que as avaliações a que fui sendo sujeito durante a minha vida premeiam a mediocridade e a incompetência e, de caminho, a fraqueza das estruturas onde nos inserimos porque se andam a arrastar animais mortos de cima a baixo e quando é preciso correr...

Bem, falaremos de mim, no sentido voltairiano da coisa.
É comum achar-se que as avaliações me chateiam porque não gosto de ser contrariado e apesar de, de facto, não gostar de ser contrariado (quem gosta?!) isso não é um problema desde que perceba. E porque não temo confronto já aconteceu pensar-se que tinha pressionado as notas que me deram, o que levou a um pedido de explicações e cenas pelo topo da pirâmide.
A verdade é esta:
desde que não sinta que a diferença de opiniões é estúpida não tenho qualquer problema. Se eu acho X e a outra pessoa Y, tudo certo. 
Então, nas coisas pretensamente importantes não houve qualquer problema ainda que tivesse havido diferenças de opinião. Entendi-as e não as discuti. Tudo certo.

Depois chegou-se a uma cena de relacionamento inter-pessoal, o ponto onde haveria menos discórdia e onde ainda que houvesse não daria azo a conflitos, certo? Não faço questão de ser social ou sociável, daí...não é? 
Pois, não é. A coisa aqueceu.
Em termos latos, o que aconteceu foi o seguinte: dei-me uma determinada nota (que nem me agradou porque era demasiado alta e isso não é sexy, neste parâmetro mas era justa) e a resposta foi que deveria ser mais baixa.
Novamente: não haveria de ser um problema porque o relacionamento inter-pessoa interessa-me pouco, certo? Errado.

Especialmente neste parâmetro, a nota tem de ser em curva, ou seja, em contexto. Não é possível avaliar este tipo de relacionamentos individualmente porque, afinal, envolvem uma comunidade.
Então, disse tudo bem, essa nota não me incomoda mas gostava de saber quantos 1 vais dar. Pois...nenhum. Começou um sem número de justificativas que envolveram a palavra empatia ao que perguntei então...empatia só com o próprio? Isso parece-me um conceito esquisito ou, no máximo, punheteiro como fazer amor consigo mesmo.
Vou poupar-vos, e a mim, a uma versão desenvolvida, pelo que:
olhando à volta, eu que sou uma besta desbocada dou-me bem com quase toda a gente mas quem não iria ter 1, não. Poderão dizer-se muitas coisas mas, neste quesito, a opinião generalizada conta ou, se preferirem é a única coisa que conta.
Foram dadas voltas e voltas e voltas mas, como é sabido, quando irritado eu não desarmo e pressionei mais e mais até que: pá, é preciso ser hipócrita muitas vezes...

Descansei. Chegou, Tinha de ser verbalizado para me servir. Foi verbalizado. O meu trabalho estava feito. Sa foda a nota.

E a Fé

Já por aqui disse que fico surpreendido quando se vê mais do que a pele das pessoas. E fico surpreendido porque não espero isso mas no caso que descrevi isso acontece com alguma frequência.
Foi esquisito para mim saber que me fazem as vontades porque percebem que não sou só apenas as palavras que digo mas também os actos que pratico. Foi esquisito mas agradável.

O que isto revelou é que apesar de ter renascido a minha esperança na humanidade e na sua inteligência, ela continua a ser muito reduzida, ainda que menos reduzida do que imaginava.
O que isto revelou é que continuo certo. As pessoas continuam a ser cobardes e limitadas nas impressões que têm. As pessoas continuam a cingir-se ao conforto do que parece.

Não tenho de rever a minha filosofia e isso agrada-me. Daria muito trabalho e teria de fazer introspecções mais agressivas do que as que já faço.

E sem sair disto:
Porque hoje em dia está na moda ninguém se assumir como vítima isso parece ter-se transformado em não haver vítimas. Não se diz então não existe.
Entendam: quando uso o termos assumir como vítima não me refiro a vítimas de facto, coisa que não se escolhe a maioria das vezes, refiro-me a vitimização.

O que acontece é mais ou menos isto: descreve-se a situação a que se chamaria vitimização e assume-se que assim se vê aquilo por que se passa mas, depois, diz-se eu não me estou a fazer de vítima como se dizer torna-se, magicamente, em verdade.
Se se descreve o cenário e nele se insere o próprio interessa pouco a ginástica lexical que se tente fazer.

Por exemplo:
A moda feminista em curso ajuda a que se diga que muito se espera delas e que isso é injusto. 
Não desconsidero que a forma superficial com que as mulheres são encaradas (bonitas, feias, arranjadas, sérias, putas...enfim) seja ridícula e irritante. É óbvio que têm razões de queixa. É óbvio que o mundo é assimétrico.
Agora, digam-me se desconsideram isto:
da mesma maneira que se espera, injustamente talvez, determinadas características e comportamentos das mulheres não se faz o mesmo aos homens?
Não é esperado que o homem cace? Não é esperado que o homem proteja? Não é esperado que o homem seja mais insensível?

Sabem o que é um gajo - para homens e mulheres - que veja um outro gajo a apalpar ou desrespeitar a sua mulher e nada faça? Um banana.
Pode ele escolher um caminho de superioridade e pensar que aquilo não justifica a confusão? Pode...e é um banana.
Pode ele justificar mas não te tirou nenhum pedaço e continuar a sua vida? Pode...e é um banana.

Isto para dizer o quê?
Queixem-se menos e façam mais.
Se não querem ser vítimas façam por isso. Não o conseguirão evitar sempre mas aí serão vítimas de facto e não se vitimizarão.
É fácil culpar os outros pelas nossas desgraças e verbalizar que não é isso que se está a fazer, já se fazendo.
É fácil achar-se que os únicos problemas são os nossos mas depois verbalizar que não é isso que se acha.

Politicamente correcto deveria ser o caralho mas não é.
E porque deveria ser mas não é encontra-se, temporariamente, pelo menos, restaurada a fé nas minhas opiniões e na minha visão do mundo.

Ah, isso não é motivo para festejar dirão e poderá muito bem assim ser mas mais do que coisas más irritam-se surpresas.

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