Saturday, February 20, 2016

Diversos...

DEVAGAR?

Não tenho a certeza que seja uma ideia generalizada mas não é pouco comum e vai-se agudizando à medida que se corre para a frente na faixa etária.
A ideia, neste caso em concreto, é que talvez seja melhor ir conhecendo e ir apaixonando (?), ou seja, conhecemos alguém, vamos conhecendo melhor e melhor e melhor e, a dada altura, pensamos é mesmo isto! Bora passar à próxima fase e sermos um casal!

Racionalmente, nada tenho a apontar. É uma construção lógica. É muito importante e, talvez, determinante a compatibilidade para se pensar no longo curso.
A realidade, contudo, fode isto tudo (felizmente!, digo-o sem reservas).

Não percebo e nunca vi alguém ir-se apaixonando. Já ouvi dizer que aconteceu, já me disseram que lhes aconteceu mas nunca correspondeu à verdade e nunca foi devidamente comprovado (para que fique claro, ninguém me disse que se foi apaixonando porque se sai da boca qualquer pessoa entende a estupidez que acaba de dizer, daí sair em eufemismos).
Há um escritor cujo nome não me recordo que disse qualquer coisa como mas há amor que não seja à primeira vista?!, o que me custa replicar porque tenho dificuldades com o verbo mas...reduzindo a paixão não sei se estará errado.

Concebo, por exemplo, que alguém se aperceba que está apaixonado depois de o estar (culpado) mas fico sempre com a impressão que o sentimento recua muito tempo ainda que não tenha a certeza de ter sido quando bateu os olhos a primeira vez - ainda que os meus olhos mereçam que se apaixonem por eles à primeira.
Não sei se há tempo que faça nascer o toque da pele que se quer sentir. Não sei se há tempo que faça nascer a vontade constante de se estar a tocar na outra pessoa (sei sei, não há!).

Prático:
Uma vez caí numa esparrela deste tipo.
Havia (há?!) uma mulher que gostava muito de mim e pensei foda-se, se ela gosta assim tanto de mim eu também devo gostar dela... e embarquei, mais ou menos, na coisa.
Devia gostar dela, não havia motivo nenhum para que tal não acontecesse. Éramos muito compatíveis e, no papel, ela era tudo o que eu queria e isto sem qualquer exagero: Tudo!
Não resultou e eu quis mesmo que resultasse, foi a primeira e última vez que tal me aconteceu.

O tempo não me fez apaixonar. Não acredito que alguma vez o faça.
Adoro a racionalidade e a ordem mas desisti dela para determinados aspectos porque não é racional que se queira, à força, gostar de alguém mas já é racional deixar-se este sentimento para segundo plano e procurar companhia, apenas.

...eu tenho toda a companhia de que preciso, não quero mais.

AMADO OU TEMIDO

Este é um assunto milenar.
Hoje em dia, momento de abraçadores de árvores e de cada um é cada qual, pelo que ninguém pertence a ninguém será difícil ouvir-se que se prefere ser temido.
Também não o ouvirão dos meus dedos, sendo certo que não tenho qualquer problema com as vacas que me dão os bifes.

A pergunta, quando a ouço, é sujeita a variações e nada tem de absoluta.
Para mim, a coisa funciona nesta base: depende do apreço e do que quero da pessoa em questão.

Dá menos trabalho ser temido do que ser amado e isto muito por causa da natureza egoísta da humanidade.
Imaginem este cenário:
Eu quero que alguém venha cá, de imediato!
Se a pessoa souber que se não vier vai apanhar na tromba assim que a vir, tenderá a aparecer;
Se a pessoa souber que se não vier me vai ferir os sentimentos, tenderá a vacilar.

Então,
o elemento de vontade (amado) é fundamental para mim quando estamos a falar de gente de quem gosto e cujo bem-estar prezo. Pessoas que quero mesmo perto de mim porque gosto delas, não falamos de conhecidos, falamos de amigos mesmo.
o elemento de preservação (medo) chega-me a maioria das vezes, quer porque é muito mais eficaz ao atingir a saúde do próprio quer porque não estou particularmente interessado em que goste de estar perto de mim ou não.

Isto parece um bocado maquiavélico e pode até ser mas se pensarmos, por exemplo, nos cães, eles aprendem muito mais depressa com os encorajamentos negativos do que com os positivos. Eu sei, eu sei, é cruel e não estou a instigar o choque eléctrico, só digo que é mais eficaz.
Nunca ouviram a expressão quem bate esquece por oposição a quem apanha? Pois, é a mesma coisa.

Lembrei-me disto porque me disseram que torno óbvio, sem falar, quando não pretendo a companhia de alguém (estamos a falar de algo estéril como ir tomar um café de 10 minutos), coisa que me agrada; não é que faça deliberadamente por isso mas faria.
As pessoas que sentem isto sentem que não são bem-vindas e devem senti-lo, coisa que evita que me chateie. Não sentem que me vão ferir os sentimentos ao ir, sentem que não terão - elas! - uns 10 minutos agradáveis.

Enfim...para mim, a questão não é tanto aplicada à generalidade mas à particularidade.
Há pessoas que prefiro que me temam e outra que prefiro que me amem.
Esta frase que acabei de escrever reforça a minha ideia original, por acaso: é manifestamente mais fácil fazer com que tenham medo do que fazer com que gostem de nós.

POLITICAMENTE CORRECTO

Não sofro muito com isto de ser politicamente correcto, acho uma perda de tempo mas....
Há uns dias, estava a ouvir alguém falar do fim da vida do avô e aquilo doía enquanto falava disso, doeu-lhe e doeu-me...

Perdi o meu avô há algum tempo e nem sequer era um avô distante, acompanhou-me a vida toda e durante quase todo o percurso só tive razões para lhe estar grato. A coisa azedou um bocado a partir de determinado momento mas nada de especialmente grava; aconteceu o que acontece a toda a gente quando descobre que pessoas que admiram não são perfeitas, coisa que espero que também em aconteça.
Volta e meia, a minha avó sente saudades do meu avô e pergunta-me se me costumo lembrar dele e esta pergunta mata-me: a resposta não é não mas seria raramente.

A minha cabeça diz-me que depois do pessoal morrer não há o que fazer. Não vale a pena levar flores, não vale a pena elogiar na ausência, não vale a pena ficarmos a pensar e a sofrer com a inevitabilidade de um assunto encerrado.
A minha consciência diz-me que devo ser um animal sem sentimentos e diz-me isto por causa do que vejo à minha volta...e sinto-me mal quando exposto a isto.

A génese da minha racionalidade é esta: o sentimento de gostar não deve ser egoísta, tanto de quem parte como de quem fica.
Não deve, quem parte, desejar que se estacione a vida porque uma outra terminou.
Não deve, quem fica, desejar o sofrimento alheio à custa de um sofrimento que pode ser alheio só para poder olhar para o sofredor durante mais tempo.
....mas, ainda assim, dói-me.

Coloquei aqui um gajo que concretizou o meu sonho fúnebre: um bar, samba, cerveja e, não constava lá mas confabularei, gajas boas e tudo a malhar-se.
Acontece que o meu sonho fúnebre não é esse, o que queria mesmo é que me mandassem para uma vala e sa foda. Pegassem no dinheiro do funeral e fossem para a Namíbia ver o deserto acabar no mar. Era isso que queria. Vão. Curtam. Não podem fazer mais nada por mim.

Gostava, também, que nos momentos - a acontecerem, caso não seja uma cena fulminante que também preferia - em que a cena estivesse a escurecer me mostrassem animação como a Morsa a matar-se (que pus aqui) ou a versão do Emigrante pelo Bruno Nogueira a perguntar se o gajo tinha ficado impecável para, depois, ouvir, morreu (vou pôr aqui) ou fotos de pretas podres de boas ou a minha mulher (a haver...) dizer-me que mais magro fico mais giro e que nem nestes momentos páro de pensar em pretas ou o meu filho (a haver...) dizer que tinha mandado o chefe (a tê-lo...) pó caralho.
Alegria.
...e se puder insultar um idiota, também gostava...

E agora:

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