Wednesday, February 03, 2016

Estrutural e Conjuntural

(eu sei, esta merda anda muito movimentada mas, infelizmente, tem sido preciso. Vai voltar ao normal a breve trecho, espero)

O título parece uma coisa sofisticada e assim dito até é mas como acontece com frequência trata-se de algo simples mas com nuances que tendem a confundir. Outra expressão usada mais ou menos para o mesmo efeito é tratar o sintoma e não a doença.
Lembrei-me disto porque o meu almoço andou à volta deste assunto e da distinção entre uma coisa e outra. Quem ouviu percebeu o que queria dizer e a enorme diferença entre um e outro mas que à primeira vista pode passar despercebido.

Ok. Tentemos exemplos simples:
A diferença entre quem mente e quem é mentiroso.
É comum confundir-se mas é coisa diferente. Eu minto e tu mentes. Eu não sou mentiroso e tu podes muito bem não ser, também.
Quem mente é conjuntural e quem é mentiroso é estrutural. Nas circunstâncias certas todos temos de mentir (conjuntura) mas quando fazemos da mentira uma prática passamos a mentirosos (estrutura).

Percebem o que quero dizer?
A distinção não é de somenos. 
Mantendo-nos no campo da mentira, é tolerável que alguém minta mas não que seja mentiroso. É tolerável que alguém num determinado contexto se veja forçado (mais ou menos, não interessa para o caso) a mentir mas já não quem o pratica por desporto.
O que acontece é que porque temos acesso a informação incompleta - porque conhecemos pouco da vida alheia ou porque não podemos ter a certeza do que lhes vai na alma - torna-se uma aposta, ainda que educada, no que é uma coisa e outra.

A minha atenção ao detalhe tem muito que ver com esta merdice.
É importante tentar perceber quem é cobarde de quem tem um momento de cobardia; é importante tentar perceber quem trai de quem tem um momento de traição; é importante perceber quem é maluco de quem tem um momento de loucura; é importante perceber quem mente de quem é mentiroso.
A minha atenção ao detalhe tem uma outra merdice: porque me impede de ignorar a doença e centrar-me no sintoma também me leva a que possa confundir um sintoma mais forte com a doença em si.
A minha atenção ao detalhe tem uma outra merdice: quando preciso de me focar num determinado resultado uso estas evidências que por vezes nem são tão importantes assim e defino-as como determinantes.

Sim. O almoço foi bom.
Por uma questão conjuntural já não acontecia há demasiado tempo. Estruturalmente é para manter, obviamente.

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