Ingenuidade?
A relação entre pessoas é o mais recorrente dos temas que por cá anda. Não tem necessariamente de ser amoroso, pode ser de qualquer tipo.
Tenho para mim que o maior problema da humanidade não é o cancro nem a guerra nem a cobiça nem nada desses clássicos. Todos estes desvios (se é que o são. É difícil chamar desvio ao que é comum mas optarei por ser optimista) resultam da necessidade de preencher vazios que, por vezes, nem nos damos conta existirem.
Para ser mais ou menos compreensível, o que quero por palavras demonstrar é isto:
Há algum tempo, um idiota entrou numa igreja de pretos e matou os que conseguiu. Houve muitas tentativas de explicação e uma delas resultou do primo: a namorada dele trocou-o por um preto, há algum tempo. Parece parvo. Acredito nela.
Não sei se a sério ou a brincar, li algures um gajo dizer que o problema de Estaline é que não fodia o suficiente. Analisando o tipo de vida que levava (uma completa negação de relações pessoais em benefício da Revolução) tendo a considerar plausível.
Em termos mais pessoais:
quando comecei a trabalhar, um gajo de quem tinha uma boa impressão que entretanto se desvaneceu disse-me, para controlar o meu génio: é preciso ter cuidado, sabes. É que o gajo com quem estás a falar ou negociar pode ter-se chateado com a mulher de manhã e isso acaba por te foder a ti. É mais velho que eu e apesar de ter descoberto o otário que é o acumular de anos antes de mim fez com que ele tivesse razão.
Dei-me conta, em termos práticos, do que acabei de descrever quando me apanharam num dia azedo e me chatearam. Desci as escadas em estado de cegueira, entrei na sala de reuniões a 1000 e o gajo que me estava a irritar teve medo de apanhar e fodeu-se na negociação. Arrependi-me e remendei o mal que tinha feito mas foi uma lição quase completamente apreendida.
Por que me lembrei disto?
Uma das minhas ex esteve a queixar-se do marido e descreveu-me o quadro pelo qual estará a passar (não posso jurar, não estou lá). Não vos vou massacrar com a história em si mas o sumo da coisa é que o gajo está a sentir o terreno fugir-lhe - e bem, não está a imaginar coisas - e optou, primeiro, pela lágrima e quando ela não resultou partiu para a ameaça o miúdo vem comigo e que tais.
Daqui só sairá uma de duas coisas:
1. Ela encara e segue;
2. Ambos viverão amargurados.
Ela sabe disso. Ela vai, mais tarde ou mais cedo, encarar e seguir.
(é verdade que no caso dela junta-se a personalidade de não aguentar este tipo de merdas com o facto de nunca ter gostado dele o suficiente mas, bem vistas as coisas, será só ela que se casou com quem não gosta o suficiente?)
(no pecúlio de exs: Esta casou mal, não vai durar; Outra casou, primeiro, mal e agora não sei mas mesmo que tenha acontecido de novo não me diria da mesma maneira que não admitiu a primeira; Outra não faço ideia mas acho que está feliz mas se não estivesse aguentaria firme, foi educada para isso).
Disse-lhe que este é o meu assunto favorito e que é por isso que as pessoas não são felizes.
Respondeu-me felicidade é um estado passageiro (dá para perceber porque foi minha namorada?!) e concordei. Emendei a mão para é por isso que as pessoas são infelizes.
...e de volta à Ingenuidade:
Eu sei que isto parece uma construção adolescente e é possível que só para eles faça sentido. É, até, possível que mais do que parecer uma construção adolescente o seja mesmo. Não sei. Pode ser.
Por isso voltamos ao início.
Iria o Hitler desatar a matar judeus se fosse feliz?
Iria o Estaline pintar a Revolução de sangue se fosse feliz?
Iria o outro idiota matar pretos se não tivesse sido trocado por um?
Iria eu ficar próximo de espancar um gajo porque estava fodido da vida?
Iria a minha ex estar metida num buraco e de ânimo desfeito se já tivesse resolvido a sua situação?
Iria a gaja que trabalha comigo e é insuportável ser insuportável se tivesse quem a satisfizesse?
Iria o Abramovich comprar iates em cima de iates se alguma vez - e agora - tivesse estado realmente apaixonado?
Novamente: eu sei que isto é simplista e que parece que só me interessarem as ligações amorosas. Eu sei. Mas acompanhem-me: todos e todas somos o resultado de uma relação amorosa. Ok, pode não ser mesmo amorosa mas é entre duas pessoas.
Se quem nos fez resolvesse a vida deles a nossa seria menos vazia ou mais completa.
Se quando nós fizermos (os que de nós fizerem) a nossa prole a fizermos onde queremos e não onde estamos presos ela será menos estragada do que muitos de nós.
Eu sei. Chamam-me simplista outra vez.
Vamos ver se nos entendemos: a solução é simples mas o caminho pode não ser. O destino é claro mas podemos não conseguir fazer o caminho.
Tenho para mim que ninguém quer ser infeliz mas tenho, também, para mim que se sobrevalorizam muitas coisas: o que pensam de nós, o que vão pensar de nós, a dificuldade pela qual vamos passar, a dor que iremos causar, a dor que nos causaremos... mas 20 anos depois, quando tudo estiver fodido e for, potencialmente, irreparável, como é?
Ingénuo, eu sei.
Ingénuo e, potencialmente, não feliz mas infeliz não quero.
Só estou onde quero e só está comigo quem quer.
Não preciso nem quero favores; não preciso nem quero companhia pela companhia; não preciso nem quero que tenham medo de me magoar; não preciso nem quero que me digam coisa diferente da que querem.
Simples e simplista.
E não é tudo um bocado assim?
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