Thursday, March 24, 2016

Ocidente e Os Terroristas

Durante as intermináveis reportagens sobre o sucedido na Bélgica deparei-me, novamente, com o raciocínio de que nós, Ocidentais, perdemos muita da testosterona que nos deveria preencher e tornamo-nos demasiado sensíveis.

A nossa sociedade avançada desabituou-se da dureza e perdeu a perspectiva porque embarcou na tese do Fukuyama de que a história teria acabado com o advento da democracia liberal e representativa.

A morte de uns poucos milhares de americanos empurraram-nos para 2 guerras;
A morte de meia dúzia de belgas (e franceses, antes deles), faz-nos sentir que toda a civilização está a ser atacada e seremos invadidos;
Um burro que entrou com um par de sapatos armadilhados no avião obriga-nos a descalçar sempre que queremos voar;
Um cão que poderia ser uma fonte de epidemia é abatido e há manifestações de milhares e milhares.

Poderão pensar que estou a ser bruto e parvo mas não me parece ser o caso. É só tentar ter perspectiva.
A mansidão da vida ocidental roubou a nossa resistência. É impossível estarmos preocupados, por exemplo, com civis mortos durante uma guerra e querer ganhá-la; entendam, não é que diga que se devem matar civis (sendo certo que quebrar o espírito de um povo não é desprovido de sentido em tempo de guerra) mas não pode ser uma questão crucial nem paralisante.
A mansidão da vida ocidental levou a que, por exemplo, se considere sub-humano o tratamento dado a terroristas e alguns criminosos mas já não empolar a vida de um cão relativamente a milhares de humanos que morrem da mesma doença que levou a que o dito cão fosse abatido.

...e do outro lado temos gente áspera que vive uma vida real que a endureceu.
Quantos iraquianos ou sírios morrerão numa hora? Serão menos do que os que morreram em França ou na Bélgica nos últimos anos? 

Eu acho que o problema com o terrorismo é socio-cultural, ou seja: a análise da estrutura onde se inserem os bombistas e outros que tais é semelhante, até em questão etária.
Miséria física é apta a criar miséria mental e gente sem rumo aceita o rumo que quiser.
O problema principal, contudo, é este:
Também eu acho que a pena é mais poderosa que a espada mas apenas a longo curso. No imediato, aparece com uma pena num duelo e vamos ver quem acaba com um ferimento fodido.

Em suma:
até quando pessoas como eu, que acham, de facto, que a violência não vai resolver o problema poderão aceitar apanhar sentados e, depois, quem no Ocidente terá coragem para uma política de salgar a terra?
Até o Krishna teve de aviar uns quantos, a dado momento, porque era o que tinha de ser feito.

....e agora...

Num dos telejornais, apareceu um general (acho que na reserva) a falar das falhas na intelligence (repetiu esta expressão tantas vezes que me apeteceu espancá-lo) e que o principal problema se prendia com a legislação: era demasiado difícil conseguir escutas e fazer rusgas.
O que lhe escapa - porque para um martelo tudo é prego - é que são as garantias de que não é fácil conseguir-se autorização para escutas e para rusgas que torna o Estado de Direito...Estado de Direito.
Países onde é simples (o que costuma ser sinónimo de arbitrário ) escutar e invadir e prender são pouco democráticos e tendentes a serem democracias musculadas, no mínimo, ou ditaduras, normalmente.

É o livre acesso às pessoas e a indiscriminada ligeireza com que uma suspeita ou um indício se transforma em prova que veste um estado de polícia e coisas como a Stasi.

Então, o e agora foi por isto:
Também eu me sinto a padecer de falta de testosterona quando tão irritado com uma escutazita ou tal, até porque não tenho nada a esconder nem temer (em princípio).
Também eu amansei com a ideia de segurança e de justiça.

Se eu me vejo assim, imaginem como vejo os abraçadores de árvores em que o Ocidente se tornou...

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