Paz Desconhecida
Dentro de mim, existem dois lobos: O lobo do ódio e o lobo do amor. Ambos disputam o poder sobre mim.
E quando me perguntam qual o lobo vencedor, repondo: O que eu alimento.
(provérbio indígena)
Ninguém manda no K!!!
- Isso dizes tu. Ninguém de fora manda em ti mas por dentro...
(diálogo com quem tinha razão)
Nunca está contente, K.
- Isso não é verdade!
Tens razão. Está contente antes, durante e um bocadinho depois.
(diálogo com quem tinha razão)
K, por que motivo não tens ninguém?!
- Simples: ninguém me quer porque ninguém está para me aturar.
Não me parece. Tu é que és demasiado exigente...
(diálogo com alguém que só tinha metade da razão)
És a pessoa mais espectacular que eu já conheci, K.
- É porque tiveste azar a vida toda. Sou um buraco negro e isso não é espectacular.
Não, não és!
(diálogo com quem não tinha razão)
Então?! Vamos fazer o quê, agora?
- Descansar, K. Descansar não faz mal...
Pois. Não sei. Eu sou o gajo que faz sempre magia, caso contrário não sei para que sirvo.
(diálogo com uma afirmação verdadeira)
Somos todos imperfeitos e, infelizmente, eu também. É uma coisa que me chateia e com a qual vivo mal.
Facto é que apesar de verdadeira, a afirmação que precede contém um dilema maior do que a simples verdade de que falta-nos sempre um bocadinho mais; a afirmação que precede indicia que sabemos que somos imperfeitos e que conhecemos e sabemos qual a imperfeição de que padecemos...e isso não corresponde à verdade.
Quantas pessoas conhecemos que encaram as suas imperfeições como virtudes? E quantas pessoas conhecemos na situação precisamente inversa?
Mais: aquilo que a sociedade qualifica como defeito será um defeito? Ou será a sociedade a olhar por si e a ver aquilo que lhe interessa e, por isso, a encaminhar-nos para a virtude que a serve mais a si que ao próprio?
Não gosto, particularmente, da sociedade e ela também não gosta muito de mim. É um caso feliz de concordância entre a matilha e o lobo. Não fomos feitos um para o outro.
Quer que eu use fato quando não é fato que quero usar;
Quer que não diga palavrões quando são palavrões que gosto de dizer;
Quer que me preocupe com a educação plástica que vendem desde cedo quando é verdadeiro que me apetece ser;
Quer que compre o carro que não quero ter para dever o dinheiro que não tenho para aparentar um sucesso que não possuo nem quero possuir;
Quer que dê valor ao que me interessa pouco e que preencha o meu vazio com palavras ocas e gestos vazios;
Quer que, também eu, seja o gajo que não se importa de levar no rabo desde que ninguém saiba.
....
Este desfasamento com a distopia em que vivemos faz com que o espelho em que me vêm distorça.
Não me apetece usar sapatos. Blasfémia.
Os outros dizem uma coisa e fazem outra. Relaxado.
Não me apetece dizer bom dia a todos que comigo se cruzam na rua. Animal.
Os outros dizem bom dia como eufemismo para vai pró caralho. Relaxado.
Percebo, enquanto escrevo, que isto parece um bocado um desabafo adolescente ou, pior, uma coisa de revolucionário mas, até nisso, estarão enganados. Distorcem.
Não tenho vontade - nem possibilidade, julgo - de mudar o mundo nem de corrigir toda esta gente que nos envolve. Sei muito bem onde estou metido e com maior ou menor custo tenho de cá andar.
O que isto é, de facto, pluraliza. Por um lado, resulta do meu mau-feitio reinante de agora; Por outro lado é mais um prego na pouca esperança que tenho na correspondência entre pensamento e palavras daqueles que me rodeiam.
.....
E é por causa deste emaranhado de palavras e frases e sentimentos e cenas que é melhor vir aqui do que mandar alguém foder pelo telefone ou rebentar a cara a alguém no trânsito.
Não se confundam: não tenho problema com nenhum dos actos descritos, o que tenho problema é com a prática de actos em momento destemperado que me pode fazer arrepender do foder que usei ou do nariz que meti para dentro.
Sou bem como muita coisa mas péssimo com arrependimento.
....e por causa de tudo isto, suponho não ser necessário deixar expresso qual dos lobos costumo alimentar.
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