Thursday, November 03, 2016

Berlim

Estava, certo dia, a falar com uma pessoa que achava que eu sabia imensas coisas sobre política internacional e tal e temeu que, num qualquer futuro, surgissem conversas deste tipo com outras pessoas, caso em que ela estaria impreparada.
Disse-lhe: Não te preocupes. Se estiveres encostada às cordas é fácil! Dizes que o que quer que seja que estiverem a falar aconteceu por causa da queda do Muro de Berlim. É sempre verdade.
Ela riu-me.
Eu não estava a brincar.
O riso dela revelou que, de facto, entendia pouco destas coisas. 
Dá para ligar toda a actualidade ao Muro de Berlim e, se o soubermos fazer, é indesmentível. Tem, ainda, a vantagem de que caso a pessoa com quem estivermos a falar entender um bocado daquilo que diz não terá como discordar: Win Win.

Lembrei-me disto porque estou a ler um livro sobre economia paralela e, também ele, faz remontar o desenvolvimento deste tipo de economia e a sua cada vez maior semelhança a corporações internacionais à queda do Muro.
Será sobre isto?
Não. Vamos em duas pequenas referências ao que não me trouxe aqui.
É engraçado que apesar da ligação histórica de que falei, os Autores não fazem qualquer referência a uma qualquer conspiração para o que sucedeu. É mais um perdoa-os, eles não sabem o que fazem do que um foi a maçonaria! Foi a maçonaria e os illuminatti (se é que se escreve assim).
É sempre giro encontrar algo de ardiloso e complexo que não é pintado como uma conspiração.
Há consequências que são só imprevisíveis e acho que a queda do Muro foi uma delas (sendo certo que algumas delas eram, obviamente, queridas).
Será sobre isto?
Também não.

No dito livro, é contada uma história de uma família fictícia que se destina a ser a imagem da classe média americana e o seu declínio.
O rendimento que, em termos reais, decresceu; a casa que compraram sem a poderem pagar; os cartões de crédito que carregam para se aproximarem das celebridades que lhes entram pela casa dentro; o seguro de saúde e as reparações da casa que não fazem porque não têm como...e a lotaria em que jogam todas as semanas para, com fé, lhes resolver todos os problemas.

....e a lotaria.

O jogo - Euromilhões, por exemplo - são, para mim, a revelação de:
1. desespero;
2. sonho de ver os problemas resolvidos sem fazer rolha.
Na verdade, o jogo faz-me lembrar a religião no sentido em que é uma fé não correspondida; bem, pelo menos no jogo alguém ganha mas não estou certo de ter conhecido alguém que tenha visto água transformar-se em vinho.
Gostaria de ter uma melhor opinião mas não tenho. 
Faz-me uma confusão desgraçada aquela pessoa que vive imersa em dificuldades mas vai rebentar dinheiro em bilhetes de lotaria, em raspadinhas, no bingo e no que quer que seja na esperança de que o pão que lhe faz falta agora será menos importante do que Ferrari que imaginam poder comprar depois.

Sim, eu sei.
Há uns quantos que ganham os muitos milhões que se sorteiam mas poderemos ou deveremos botar fé numa ocorrência em que temos menos hipóteses do que sermos atingidos por um raio duas vezes (sim, disseram que é esta a proporção para o Euromilhões)?

...mas isto, para mim, não é novo.

Há anos, contaram-me uma história de como entraram no casino fodidos e saíram com dinheiro para pagar as férias da família.
Isto foi-me contado, naturalmente, com alegria e orgulho mas eu só pensei - não disso - caralho, mas quanta cheta tiveste de andar a meter durante anos para uma coisa desse tipo acontecer?!
Sim, uma história de sucesso, por quem a contou, tornada em tragédia, por quem a ouviu.

Isto do casino é um bocado como a burrice: ninguém perdeu, ninguém é burro.
Quantos de vocês já ouviram, na primeira pessoa, a história de como alguém se fodeu a comprido no poker? Ou no bjackjack? Ou na roleta? Eu nunca ouvi.
Se só acreditássemos em experiências contadas na primeira pessoa, não se conseguiria perceber como os casinos continuam abertos se ninguém perde...

...e nisto, é como a burrice.
Se ninguém é burro como é que há tantos burros no Mundo?

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