RIP Anthony Bourdain
Soube do suicídio enquanto almoçava.
Acompanhei a carreira do Bourdain desde o início do No Reservations (há-de haver por aqui um ou outro post a respeito) e perdi o contacto mais recentemente com o Parts Unknown e perdi-o quer por uma questão logística - o canal e horário não ajudaram - quer porque a virtude do orçamento maior prejudicou o que o programa tinha, para mim, de melhor (em suma: menos dinheiro e menos exotismo faziam com que o essencial fosse um extremo cuidado na imagem e na narrativa. Esta é a minha opinião mas aceitarei, facilmente, estar a ver mal as coisas).
O suicídio.
Pá, não serei falso ao dizer que previa que fosse acontecer mas a minha surpresa foi nenhuma.
O Bourdain nunca foi um exemplo de gajo saudável em nenhum aspecto.
Eu sei que, agora, estava em forma e fazia jiu-jitsu diariamente; eu sei que tinha uma namorada nova em ambos os sentidos mas não confio que alguma vez tenha largado as drogas. Pode ter deixado a heroína. Pode ter deixado a cocaína. Não terá deixado os vicodins e por aí fora.
A cabeça dele também nunca foi a mais apta à saúde.
Não estarei a ser exagerado quando digo que havia repulsa dele para com ele.
Em suma: os actuais abdominais definidos não o ajudaram.
Não ajudam ninguém.
Recebi uns emails dando conta da surpresa e do choque, tendo o mesmo acontecido num ou noutro encontro social.
...acho que as pessoas não botam fé no que estão a ver.
Eu achava o Bourdain top mas tenho as mais profundas dúvidas de que seria o tipo de pessoa com quem gostaria de conviver.
Gente interessante tem o problema de ser, as mais das vezes, avariada e difícil de lidar.
Ah, K, mas isso não pode ser uma regra absoluta!
Não é. Mas há-de estar perto disso.
O que torna alguém interessante é - na minha opinião - o facto de ser pouco comum. Não irei ao ponto de dizer especial mas, seguramente, diferente do comum.
Ora, esta diferença é muito semelhante a desenquadrado. As pessoas que fascinam são inadaptadas e são-no porque se regem por um outro tipo de regras e porque as ligações dos seus cérebros não são exactamente como as nossas.
Quando vemos um cão a mijar numa sala de jantar, no Youtube, achamos espectacular mas teremos um sentimento diferente se descobrirmos que a sala é a nossa.
Percebem o que quero dizer?
As mais das vezes - estou convencido disso! - aqueles que mais são admirados nunca seriam os mesmos com quem quereríamos jantar.
Bem: o inadaptado Bourdain seguiu o trilho de muitos outros inadaptados.
PS. Ontem, ao almoço, a discussão foi como ele teria morrido. As opiniões andavam pela droga e eu disse que me parecia improvável. Isso seria pouco dramático. Deve ter-se enforcado.
RIP Anthony Bourdain.
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