Wednesday, July 04, 2018

Demasiado Sensíveis...

Não é de hoje a minha apreciação ou depreciação quanto à sensibilidade exacerbada da sociedade ocidental ou desenvolvida.
Os ataques terroristas que são terríveis mas que causam um temor muito maior do que merecem e, por isso, ganham;
Os ataques aos jogadores do Sporting na Academia que fez parecer que temos o Boko Haram entre nós.

A minha intenção não é desvalorizar estes incidentes que são graves.
A minha intenção é ressalvar que ainda que graves e manifestamente desagradáveis não são hecatombes.

Então,
há coisa de uma semana fui andar de canoa para um determinado lugar.
A coisa correu mal porque as minhas costas, cansadas do abuso que sofreram durante anos e anos, não se deram bem com aquilo e cederam; naquilo que julgava ser o fim do percurso comecei a ter ânsia de vómito de tanto me doerem...e depois descobri que não era o fim e ainda faltava um bocado.

Fui falar com o gajo que coordenava a cena e disse-lhe (tentarei ser o mais honesto possível!)
Boa tarde. Eu não consigo andar mais na canoa; há outra maneira de sair daqui? (era uma ilha).
- Está cansado? Eu posso ir na sua canoa e vou eu a remar.
Não. Não estou muito cansado. As minhas costas não aguentam.
- Ah...mas eu posso ajudar, como lhe disse.
(este gajo, que não me conhece, não sabia e nem sabe que quando eu digo que não consigo mais a verdade é que já há algum tempo não consigo mais. 
Este gajo presumiu que eu sou como os demais que quando as coisas aleijam um bocado chamam-lhe dor e quando dizem que não conseguem estão a dizer, apenas, que não estão virados para o esforço.
Eu não sou isto. Dizer que não consigo é matar-me mas, com o passar dos anos, passei a admitir que morrer em sentido figurado é melhor do que morrer em sentido literal. No caso, era melhor conceder do que ficar entrevado por dias).

Poderão, então, pensar que fiquei fodido com este gajo por causa disto mas não fiquei.
Ele achar que eu só não me queria cansar e tentar motivar-me era normal; baseou-se na experiência adquirida e aplicou-a. 
Estava errado mas não fez mal.

Então, porque azedou a merda?
Bem...continuando:
Eu não quero ser ajudado. Eu não consigo ir de canoa. Não há outra maneira de sair da ilha?
- Não. Tem de ser de canoa.
....e foi aqui.
Tem de ser é o caralho, pensei eu.
Pois. Não vou de canoa, já lhe disse. Vou ter de chamar um helicóptero?
- (...)
Não há nenhuma merda a motor que faça a travessia?!
- Há...mas tem de pagar.
Não me lembro de lhe ter perguntado se tinha de pagar ou quanto custava. É dizer-me onde apanho o barco a motor e mais nada. Aponte e chega!

Depois de me dizer onde estaria a lancha...voltou a carregar no erro.
Já na cena de embarque:
- Escusava de me ter falado assim. Em helicópteros! disse-me a uns seguros metros de distância que encurtei muito depressa.
Ouça lá: Eu disse-lhe que não ia de canoa; a sua obrigação é dizer-me que alternativas tenho. "Tem de ser de canoa"? Mas tem de ser o quê?!
- Ah (disse mais qualquer coisa que não ouvi)
Não vou continuar a bater boca consigo. Tenho mais com que me preocupar e muitas maneiras de apresentar reclamações. Mais alguma cosia?

Mais nada.
Acabou e a lancha apareceu.

Onde entra a sensibilidade?
Bem, o resto do grupo ficou mais ou menos de boca aberta ainda que não tenha dito nada. Foi uma sensação. É uma sensação que tenho em situações similares.
A verdade fica escondida no meio do desconforto que um confronto cria.
E a verdade é esta:
Eu sou um gajo educado.
Tento pedir e nunca dar ordens; tento tratar com dignidade todo o tipo de profissionais de todas as áreas...e isto é óbvio se me conhecerem.
Agora, filho da puta nenhum me diz que eu não tenho escolha e muito menos um filho da puta que está a ser pago para prestar um serviço.

Confunde-se educação com subserviência ou complacência.

Há uns anos, estava num bar de putas e um amigo pôs a mão na perna de uma das profissionais e a profissional disse-lhe para parar.
O meu amigo respondeu-lhe: Foda-se...queres ver que a puta aqui sou eu?!

É a sensação que tenho, de vez em quando, e que não me agrada.
O empregado era o gajo.
Eu não tenho prazer em tratar alguém como empregado mas também não me importo de - se provocado - retorná-lo à realidade de que está ali a ser pago para me servir.

Ah, K...isso não é maneira de falar com as pessoas!!
Não é o caralho.
Se tiverem noção do que andam a fazer, não preciso de dizer nada.
Se não tiverem noção do que andam a fazer, eu digo-lhes!

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