Friday, November 02, 2018

INCLUSÃO

A minha história é feita de exclusão.
É ler o que aqui anda e que reflecte a realidade como a vejo. Como a vejo mas, mais importante, como me esforço para que seja fiel ao que, de facto, existe.
E eu vejo-me excluído.
Por norma, ainda que assim não seja reconhecido, os mais de nós que se sentem excluídos rebelam-se e sofrem com isso. Apesar de ser comum dizerem que se excluíram e que se sentem orgulhosos de não pertencerem, a realidade é que foram empurrados borda fora. Não saltaram.
Este sentimento é normal. É uma forma de conforto. Evita o falhanço. É como os que preferem nunca competir porque podem perder.

O meu caso é menos comum, ou, pelo menos, assim o entendo.
Já fui social. Já fui convidado para todas as festas. Já tive uma lista telefónica com mais de 200 números. Já fui aos restaurantes mais caros - espero que, agora, possa dizer que vou aos melhores, o que não é a mesma coisa. Já apareci na televisão. Já ganhei campeonatos, tanto individual como colectivamente. 
Fiz isto e fui isto. Deixei de ser e de querer ser.
O último resquício que ainda sobra é capaz de ser o competitivo. Resquício que tento apagar mas que não consigo plenamente. Hoje, evito competição não porque tema perder - já perdi muitas vezes, ainda que o deteste de todas as formas e feitios - mas porque não gosto do gajo que sou quando estou a competir.

....e tudo isto porque fui jantar com os Vegan.

Já por aqui falei deste meu amigo. Um dos poucos amigos que tenho e, muito mais que provavelmente, o meu melhor amigo Homem.
Quando estávamos a jantar, Ela disse que tinha de ir à missa por causa dos Dia de Todos os Santos e o Vegan fez uma piada quanto a seguir a manada.

Ela, por agora ser mais sensível ao que as pessoas dizem e ao que fazem, disse-me, depois, que achava muita graça esta gente super compreensiva e livre seja crítica. E esquisito é, também, que falem em seguir a manada quando fazem o mesmo mas com uma manada diferente.
É verdade.
Ela tem razão.

Eles não são excluídos, como pensam e dizem.
Nos dias que andam a correr, eles são a regra que se está a impor.
É por causa deles que um gajo foi condenado a 16 meses de prisão por maus tratos a animais.

EU sou o que eles dizem que são.
EU não tenho manada.
EU não sigo nada nem ninguém.
...quem vive a amargura da realidade de frente sou eu.

O que eles fizeram foi trocar o Papa pelo Dalai Lama.
Poder-se-á discutir qual dos dois será melhor seguir mas o que para aqui interessa é que se segue alguém.

Ainda neste jantar, perguntei-lhe se gostaria de viver na Índia. Ou, como eles lhe chamam Mãe Índia, o lugar mais super-espectacular do Mundo.
Não, aquilo não tem condições para se viver, disse-me ele.
Até admito que isto não seja hipocrisia mas confrontando o que se diz com o que se sente...não bate uma coisa com a outra.
E o meu problema nem é o desfasamento. O meu problema é esconder o desfasamento.

Eu, por exemplo, direi a quem quiser ouvir que quero ir viver para o meio do monte mas direi, no mesmo fôlego, que precisaria SEMPRE de saneamento básico, internet e tv cabo. Se estas condições existissem, eu iria. Se estas condições não existissem, eu não iria.

....e esta estória que vos conto é um traço dominante em quase tudo com que me deparo no Mundo de que me excluí e é um dos momentos para me ter excluído.

Os outros dizem mas não se sentem forçados a cumprir as palavras.
Eu digo e sinto-me forçado a cumprir o que digo porque as palavras, para mim, só interessam como presságio ou confirmação de actos.

Estes Vegan são pela liberdade e pela compreensão...mas da forma como o Dalai e o Budha lhe diz.
Eu também sou pela liberdade e pela compreensão mas tenho de o fazer sozinho.

Quando deixei de ter um Pai - felizmente, no sentido metafórico porque ele ainda cá anda - não arranjei mais nenhum e não tenho interesse em arranjar.

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