Quarentena
O que estou, de facto, é respeitar quase escrupulosamente o que uma quarentena seria. Desde sexta-feira passada saí para comprar umas coisas de comida e, aproveitei, comprei cigarros; hoje estive forma mais tempo porque tive de ir tratar de uma ecografia.
Tem sido fácil?
Quando comparado com a alternativa, tem.
Como me canso de dizer, sou um homem simples; se se tratasse só da minha saúde, ainda assim valeria a pena mas sentiria, possivelmente, o sacrifício como sendo excessivo. Não quer dizer que não cumprisse mas ia doer muito mais.
Como se trata mais da saúde delas do que da minha - ainda que apenas eu seja um gajo pertencente ao risco elevado - não há espaço para hesitações nem arrependimentos.
É isto que tem de se fazer para minimizar o risco;
É isto que se faz.
...mas mesmo excluindo o que descrevi, não tem sido tão duro quanto isso.
Felizmente, posso trabalhar a partir de casa. Ocupa-me tempo.
Não preciso de usar phones para ouvir música. Agrada-me.
Para fumar, preciso de me deslocar menos. Porreiro.
Não ouço um constante ruído à minha volta e é mais difícil perguntarem-me coisas parvas ou contarem-me o que não me interessa. Bom.
Comprei um computador e recebi uma máquina fotográfica há pouco mais de uma semana. Feliz coincidência.
...e ainda tem isto:
hoje, uma gaja que trabalha comigo e que gosta mais de falar comigo do que devia, disse-me pelas merdas virtuais que precisava de falar com gente. Só vê e fala com o marido há 7 dias.
Intelectualmente precebo-a.
Empiricamente, foi um bocado o que vi e ainda vejo à minha volta.
Mas eu não passo por isto.
Eu não penso só falo com ela há uma semana...
Tenho sorte.
Tenho sorte, também, que Ela ature os meus acessos de mau humor que raramente são merecidos e menos raramente exagerados.
É possível que esta clausura me esteja a deixar com os nervos um bocado à flor da pele, ainda que não o sinta como tal.
Acho que a única altura em que acho que não devo estar com Ela é quando só vejo vermelho mas, ainda neste caso, acho que não devo estar com Ela mas também acho que não devo estar com ninguém.
Ah, e por mim mas não menos importante:
Eu não estou de facto em quarentena.
Eu não estou de facto obrigado a estar fechado.
E, como em tudo na minha vida, não aprecio ser proibido de fazer coisas que nem sequer quero, pelo que proibir-me do que quero seria bem diferente do que é agora.
Vamos indo.
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