Tuesday, December 05, 2006

Presença



Várias vezes discuti com quem comigo partilhou a cama a minha impossibilidade de sentir o cheiro da outra pessoa.
Aliás, só depois de muitas confirmações por parte de muitas pessoas comecei a conceber como possível a existência daquela marca.
Ora, essa impossibilidade maném-se, continuo sem conseguir sentir o odor da pele de quem quer que seja.
Há pouco tempo (há uns 3 minutos mais precisamente) dei de cara com uma outra evidência que apesar de suspeitar dela só agora confirmei:
Eu sou capaz de me fazer passar por uma pessoa que não sou mas sou incapaz de fingir que não estou lá.
Estava eu descansado, relaxado, como que a pairar perto de um determinado lugar, sem querer que me vissem, sem ter interesse que soubessem que lá estava, quando me fizeram chegar aos olhos: "eu sei que tu estás aí... não te vejo mas sinto o teu cheiro. Nem vou dizer o teu nome para que só TU saibas que eu sei.... mas que sei...sei!"
É o único elogio que procuro (se é que procuro algum).
Não tenho a veleidade de querer ser o melhor (não sou mesmo), não tenho a intenção de ser insubstituível (ninguém é).
Quero que saibam que sou eu e mais ninguém, quero que a minha indelével marca lá fique.
Não sei se é querer muito ou se é querer pouco, no entanto, no que à minha relação com pessoas diz respeito, nunca pedi mais que isso.
Parece-me pouco quando o objectivo é encontrar alguém (afinal, se é lembrança, ainda que inesquecível, passou).
Parece-me muito quando o objectivo é que nunca te esqueçam (afinal, se é lembrança, especialmente quando inesquecível, daqui a 20 anos quando ela estiver casada, ainda vai saber quem tu és).
Infelizmente, a minha marca tem a cor do sangue e não da alegria.
Uma vez disse a uma menina que: "eu dou muito pouco mas, em contrapartida, sugo tudo que a outra pessoa tem. Não é que seja um predador e nem que retire disso algum prazer... eu só não me consigo ligar verdadeiramente a ninguém mas consigo que se liguem a mim."
De uma coisa ninguém me pode acusar... eu não engano.
Das primeiras coisas que aviso é: Eu se fosse a ti mantinha a distância...
Aliás, uma vez passei uma época de pura lua de mel e no fim, quando tinhamos fisicamente de nos separar, eu disse: Quase fiquei destroçado...a sorte é que eu não tenho coração.
(mas sempre há a teoria, que nunca entendi, de que o que eu faço é marketing...)

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