Wednesday, May 09, 2007

Estrangeiro

Ofereceram-me o "Estrangeiro" de Camus no Natal.
Só agora tive coragem de pegar nele, não sei ao certo porquê.
Não vou falar do livro nem do prefácio de Sartre, não gosto de demonstrações forçadas de uma pseudo cultura que não tenho.
Mas a palavra....Estrangeiro.
Difícil encontrar-me na rua ou num bar ou no local de trabalho ou em qualquer lugar e me achar inadaptado.
Não tenho um comportamento claro de solitário e muito menos de incompreendido.
Na verdade, sinto-me solitário com uma frequência voraz mas nunca me senti incompreendido.
Solitário sinto-me porque ainda não descobri a minha casa.
O facto é que não a procuro e quando na frase acima uso ainda, faço-o por reflexo porque não acredito piamente no sucesso da minha empreitada.
Não saberia contabilizar quantas vezes penso que não sou daqui. Poderia ser um começo, poderia ser um ponto de partida esse saber que não sou daqui.
Infelizmente, ou felizmente, sei que não sou daqui mas também não sou dali.
Também não me sinto incompreendido porque não me faço por compreender.
Foi, já, suficientemente difícil entender-me, aceitar-me e conhecer-me.
O esforço de acreditar e saber que não tenho de fazer sentido em dois sentimentos seguidos porque os tenho e os quero selvagens.
Se escondo dos olhos pra fora o turbilhão de cores, não faço a mínima questão de os esconder dos olhos pra dentro.
Este movimento de exploração interior fez-me, no entanto, um ilhéu que nem peninsula consegue ser.
Não que me entristeça, não é o caso.
Muitas das vezes diverte-me e outras tantas defende-me.
Gostaria de dizer que me sinto estrangeiro por necessidade ou por imposição ou por obrigação ou por medo ou por soberba ou por generosidade, mas não sei se será esse o caso.
Sou o que sou porque a maioria absoluta do que me rodeia parece chato e cinzento e, como um camaleão, misturo-me na amorfidade.
Se o que interessa é parecer....eu pareço.
Se o que interessa é ser...eu sou.
Se nenhuma delas interessa, pouca diferença fará, não tenho um contacto real e absoluto com nada.
O Phenris é, em si, um toque de realidade misturada com a fantasia, nem sempre sou verdadeiro porque também me minto a mim mesmo, apesar de saber que estou a mentir.
O que interessa?
Pouco ou nada, só sobram os ossos.

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