Tuesday, August 10, 2010

As palavras do (saudoso) António Feio transformaram-se numa espécie de mantra: "não deixem nada por fazer, nada por dizer".
Dá-me volta ao estômago esta coisa do descobrir do sentido da vida, especialmente quando nada de novo vem com ele. Isto é, no fundo, o reanimar do adolescente "carpe diem" que me seguiu por todo o secundário e, volta e meia, segue novamente, especialmente quando um ou uma dos moranguitos ou moranguitas dá conta do seu lema de vida.

Pá, isto é profundamente estúpido.
Se há alguém, no mundo, que não pense, em teoria, claro, que não devemos deixar nada por dizer nem nada por fazer, que o ideal seria o carpe diem, é estúpido demais para ter em conta.
Por outro lado, os que seguem, fielmente, estes princípios são, na sua maioria absoluta, criminosos ou dementes.

Os dias não são aquilo que queremos. Os dias são um compromisso, maior ou menor, com os outros dias, aqueles que se seguem.
Seria insuportável (na realidade e não na teoria) um mundo em que se levasse este mantra à prática. Todos temos compromissos, todos temos família, todos temos amigos...e isso não se compadece, nunca, com a verdade absoluta e nem (pasme-se!!) com sermos exactamente aquilo que somos.

Voltando ao António Feio, direi que não me choca que tenha dito o que disse e nem duvido que acreditasse, piamente, no que proferiu. A grande diferença entre ele e o resto de nós (a maioria, pelo menos) é que ele sabia que ia morrer e, nesse momento, tudo isto do "não deixar nada por fazer nem por dizer" leva um banho de realidade; quando sabemos que pouco ou nada nos espera no futuro, porque ele não existe, aí sim, aí sabemos que não pagaremos por ser verdadeiros, não haverá vergonha que nos apanhe e nem consequências.
A liberdade, utópica, é isto, na verdade: A Ausência de Consequências.

RIP António Feio.

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