Monday, February 28, 2011

Incomoda-me a ideia que nasceu há alguns anos de que quem dirige ou, ridículo dos ridículos, quem aparece na televisão tem de ser (na verdade, parecer) impoluto, de uma brandura extrema e pintado de branco virginal.
A culpa não é só da exigência que nasceu de uma sociedade que se vê mal ao espelho, não. A culpa é, também, de quem alimenta este tipo de status quo. Desde os que exigem que aqueles que vemos sejam um exemplo como aqueles que são vistos se assumirem como tal.

Vejam isto.
Se os pais de uma criança (comecemos pelo início da vida) fumam, como é possível criticar um político/actor/desportista por fazer o mesmo? Estamos numa era de paternidade estendida? Uma forma de ipaternidade?
Será que somos todos tão estúpidos ao ponto de sermos influenciados pura e simplesmente pelos actos? Sem qualquer sentido crítico que permita ajuizar o que é a seguir e o que é a evitar? Será que porque o Tiger Woods comeu 1000 gajas quando era casado somos levados a pensar que isso não é contrário a qualquer sentido de moralidade a menos que este mesmo Tiger Woods venha dizer que errou? Se ele não dissesse passaria a ser o padrão para um qualquer relacionamento?
É crível que pelo facto de que a Amy Winehouse se apresentar bêbada ou drogada este será o caminho trilhado pelas multidões? É possível aceitar que não cantaremos nunca como ela e não aceitar, sem auxílio, que não lhe devemos seguir o trilho?

O velho ditado de que "é preciso uma aldeia para criar uma criança" foi substituído por "é preciso uma televisão para criar uma criança"?

Detesto tudo isto!
Esta desresponsabilização nutrida por uma nova ideia de exemplo é a imagem da nova incapacidade de ler um mapa, de chegar a algum lado com os meios disponíveis. Hoje somos GPS e, na verdade, também sou um e não vejo nada de mal com isso. O mal não é o GPS, o mal, como tudo na vida, é o que fazemos com ele. Não podemos ficar desnorteados e perdidos porque o chip se engana. É necessário aprender e nunca esquecer a base. É necessário que caminhemos antes de correr, é necessário que aprendamos antes de ensinar.

A maioria dos ídolos de hoje são estúpidos e, na mesma medida e sentido, são estúpidos os que os elegem como ídolos e, apenas para piorar, se a notoriedade é dada pelo número os admira temos, inevitavelmente, que a estupidez reina entre nós.

Assumidamente, não tenho ídolos. No dia em que conhecer ou tiver conhecimento de um tipo ou uma tipa que não sangra, como eu, admitirei segui-lo ou segui-la. Até lá, faço o que posso com o que tenho e não preciso de nada emprestado.

1 Comments:

Blogger Rafaelle Benevides said...

lembrou-me o crepúsculo dos idolos. nietzsche (tbm) é o meu filosofo predileto. abraços.

5:58 AM  

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