Gosto de viajar sozinho. Não me sinto só nem tenho medo.
Já fui com amigos e já fui com família e se é verdade que nunca tive uma experiência traumática, com uns ou com outros, via-me forçado (por uma questão de bom senso) a ter horários e vontades em conta que não eram, necessariamente, as minhas.
Sozinho, faço o que quiser, quando quiser e ainda tenho a vantagem (foi a parte mais difícil, assumo, mas a que mais me enriqueceu) de ser forçado a conviver de perto com uma cultura que não é a minha...ou dou em doido...apesar de gostar de estar sozinho às vezes preciso de falar.
Outra das razões que me levou a aventurar-me sozinho foi o meu gosto pelo pouco comercial. Não me refiro, unicamente, a lugares mas também a actividades.
Os meu amigos, como eu, gostam de cerveja e mulheres, daí que as nossas férias resumem-se, em grande medida, a isso (o que não critico...entre nós e em conjunto é impensável visitar museus. Pode ser parvo mas não é menos verdade).
Para uma breve ilustração, conto, resumidamente, o que mais me marcou na minha viajem ao Nordeste Brasileiro:
Estive em lugares belíssimos! Uns previamente preparados e outros onde decidi ir já depois de lá ter chegado, alguns com poucas horas de antecedência. No entanto, passando as praias, as caipirinhas, os forrós e achés, os pequenos-almoços colectivos, a funcionária da prefeitura que se dispôs a levar-me a jantar porque o que eu queria não encontrava, marcou-me um lugar chamado Itapipoca.
Itapipoca apareceu-me por acaso. Não lá ia. Apenas lá tive de passar para ir de um lugar a outro, era um ponto entre A e B.
Cheguei eram umas 2 da manhã. Fui despejado na praça central e teria de apanhar um ônibus na manhã (não sabia qual nem a que horas). Sentei-me, assim, num banco estranho, numa cidade desconhecida e com tudo o que tinha na mão, desde dinheiro a passaporte (a roupa preocupava-me menos).
À minha volta havia um enorme número de prédio degradados e muitos mas mesmo muitos desalojados. Muita gente a dormir na rua. Via tudo isto por entre uma penumbra rasgada, aqui e ali, por asmáticos lampiões.
Estava rebentado. Não dormia há mais de 18 horas e tinha feito uma viagem de 5. Estava muito pouco confortável, tanto fisica como animica e emocionalmente, factos potenciados por estar onde não sabia, no meio de quem não conhecia e sem saber quando partiria.
Então, a revelação do meu prazer quase erimita cristalizou-se:
Passou um carro perdido na estrada e parou ao meu lado. O que queria? Assaltar-me? Não. Queria saber se estava tudo bem. Porque estava ali e o que esperava. Quando lhe disse que desistira do ônibus e que já esperava um taxi, recebi, em resposta, que havia um taxi na cidade e que este só começava a trabalhar pelas 5 da manhã (cerca de 2 horas depois...contando que o horário era respeitado, o que no Ceará é tudo menos certo). Foi-se embora.
Depois, dois dos desalojados fizeram o mesmo. Vieram ao meu encontro. Além de quererem saber o mesmo que o condutor, ainda me ofereceram café, daquele que estavam a fazer no passeio. Emocionado, declinei. Não por nojo ou coisa que o valha. Declinei porque não podia beber nada quente, estava já suficientemente abraçado pelo bafo de calor nordestino.
Em agradecimento, tanto pelo café como pela companhia como pela simpatia, fui ao boteco aberto e comprei a cerveja que consegui transportar nos braços. Então, todos no jardim, afundamos as preocupações. As deles, bem reais e dolorosas, e as minhas, que se resumiam a ter de esperar e precisar de uma cama para dormir...
A finalizar esta pequena aventura:
1) vi boias frias! Não pensei que ainda existissem, sempre achei que eram coisas de novela de época. Não, não eram. Um camião de caixa aberta transportava todos os que conseguia. Iam sair agora, madrugada ainda noite, e voltariam....bem, não sei;
2) os meus amigos foram bater à porta do taxista porque eu estava cansado e queria partir.
Nunca teria visto isto acompanhado.
Ninguém sairia de um lugar com bares e tudo mais para se meter onde nem sequer sabia exactamente.
Nunca teria passado por Itapipoca e seria, hoje, bem mais pobre.
Já fui com amigos e já fui com família e se é verdade que nunca tive uma experiência traumática, com uns ou com outros, via-me forçado (por uma questão de bom senso) a ter horários e vontades em conta que não eram, necessariamente, as minhas.
Sozinho, faço o que quiser, quando quiser e ainda tenho a vantagem (foi a parte mais difícil, assumo, mas a que mais me enriqueceu) de ser forçado a conviver de perto com uma cultura que não é a minha...ou dou em doido...apesar de gostar de estar sozinho às vezes preciso de falar.
Outra das razões que me levou a aventurar-me sozinho foi o meu gosto pelo pouco comercial. Não me refiro, unicamente, a lugares mas também a actividades.
Os meu amigos, como eu, gostam de cerveja e mulheres, daí que as nossas férias resumem-se, em grande medida, a isso (o que não critico...entre nós e em conjunto é impensável visitar museus. Pode ser parvo mas não é menos verdade).
Para uma breve ilustração, conto, resumidamente, o que mais me marcou na minha viajem ao Nordeste Brasileiro:
Estive em lugares belíssimos! Uns previamente preparados e outros onde decidi ir já depois de lá ter chegado, alguns com poucas horas de antecedência. No entanto, passando as praias, as caipirinhas, os forrós e achés, os pequenos-almoços colectivos, a funcionária da prefeitura que se dispôs a levar-me a jantar porque o que eu queria não encontrava, marcou-me um lugar chamado Itapipoca.
Itapipoca apareceu-me por acaso. Não lá ia. Apenas lá tive de passar para ir de um lugar a outro, era um ponto entre A e B.
Cheguei eram umas 2 da manhã. Fui despejado na praça central e teria de apanhar um ônibus na manhã (não sabia qual nem a que horas). Sentei-me, assim, num banco estranho, numa cidade desconhecida e com tudo o que tinha na mão, desde dinheiro a passaporte (a roupa preocupava-me menos).
À minha volta havia um enorme número de prédio degradados e muitos mas mesmo muitos desalojados. Muita gente a dormir na rua. Via tudo isto por entre uma penumbra rasgada, aqui e ali, por asmáticos lampiões.
Estava rebentado. Não dormia há mais de 18 horas e tinha feito uma viagem de 5. Estava muito pouco confortável, tanto fisica como animica e emocionalmente, factos potenciados por estar onde não sabia, no meio de quem não conhecia e sem saber quando partiria.
Então, a revelação do meu prazer quase erimita cristalizou-se:
Passou um carro perdido na estrada e parou ao meu lado. O que queria? Assaltar-me? Não. Queria saber se estava tudo bem. Porque estava ali e o que esperava. Quando lhe disse que desistira do ônibus e que já esperava um taxi, recebi, em resposta, que havia um taxi na cidade e que este só começava a trabalhar pelas 5 da manhã (cerca de 2 horas depois...contando que o horário era respeitado, o que no Ceará é tudo menos certo). Foi-se embora.
Depois, dois dos desalojados fizeram o mesmo. Vieram ao meu encontro. Além de quererem saber o mesmo que o condutor, ainda me ofereceram café, daquele que estavam a fazer no passeio. Emocionado, declinei. Não por nojo ou coisa que o valha. Declinei porque não podia beber nada quente, estava já suficientemente abraçado pelo bafo de calor nordestino.
Em agradecimento, tanto pelo café como pela companhia como pela simpatia, fui ao boteco aberto e comprei a cerveja que consegui transportar nos braços. Então, todos no jardim, afundamos as preocupações. As deles, bem reais e dolorosas, e as minhas, que se resumiam a ter de esperar e precisar de uma cama para dormir...
A finalizar esta pequena aventura:
1) vi boias frias! Não pensei que ainda existissem, sempre achei que eram coisas de novela de época. Não, não eram. Um camião de caixa aberta transportava todos os que conseguia. Iam sair agora, madrugada ainda noite, e voltariam....bem, não sei;
2) os meus amigos foram bater à porta do taxista porque eu estava cansado e queria partir.
Nunca teria visto isto acompanhado.
Ninguém sairia de um lugar com bares e tudo mais para se meter onde nem sequer sabia exactamente.
Nunca teria passado por Itapipoca e seria, hoje, bem mais pobre.
1 Comments:
Sou do Ceará e ainda não conheço itapipoca, mas acho mesmo que deve ser um desses lugares em que tu só passas quando está entre a cidade A e a cidade B, como falaste. Também viajo só, por liberdade, por comodidade, por opção de vida, estou quase sempre só e viajo bastante, não preciso esperar por ninguém, fico onde quero, vou aonde quero, na hora que quero, sem ter que esperar grupos, horários prestabelecidos, etc. uma maravilha a autonomia, não? parabéns por ter conhecido tanto em tão pouco tempo. meu msn é rafaellecosta@hotmail.com
abraços.
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