Thursday, October 06, 2011

Quem olha à volta é levado a crer, quando apenas se encontra a pele, que estamos numa época de inovadores e de liberdade e de livre expressão.
Pura mentira.
Não que a liberdade ou o livre pensamento seja, nos dias de hoje, coartada por ditaduras (menos onde elas existem, obviamente) mas porque se foi desfiando e, movimento contínuo, agrilhoando neurónios por uma invisível mas extremamente forte linha. Não é uma lição nova mas o mais perigoso dos inimigos é aquele que desconhecemos, aquele de quem nunca ouvimos falar ou, no limite, o que passou a lenda e, por esse mesmo motivo, se tornou mais folclore do que realidade.

Hoje somos todos enviados para a mesma morada mas julgamos ter trilhado o nosso caminho, pensamos ter lá chegado pelos nossos próprios meios e, orgulhosos, plantamos uma bandeira de individualidade. O problema é que de tantas bandeiras individuais se faz um colectivo.

Reparem, por exemplo, nas expressões da moda como "a pior traição é trair-se a si mesmo" ou "sou frontal" ou "carpe diem". É tudo uma parvoice, se pararmos para pensar nelas.
O "trair-se a si mesmo" como o pior dos pecados é estúpido ao ponto de se entender que é mais grave uma ferida auto-infligida do que magoar um terceiro qualquer que nada tem que ver connosco. Como pode um acto que apenas é devido ao próprio sobrepor-se a quem nada com ele tem que ver?
A frontalidade é uma desculpa para a má educação. Hoje o pessoal acha que tem o direiro de dizer o que quiser porque isso é "frontalidade". Não, isso é estupidez. É tão importante o que se tem a dizer como a forma como se diz. Não é a sobrevalorização da forma sobre o conteúdo, é a ligação entre a forma e o conteúdo.
O "carpe diem" então... é a pior coisa que saiu do "Clube dos Poetas Mortos". Carpe Diem é o hoje sem consequências do amanhã e só assim pode viver quem sabe que amanhã vai morrer ou quem é mentecapto.

Isto são tudo afirmações de liberdade?
Não, não são.
A liberdade não é ou não deve ser constrangida por Hollywood; a liberdade não é seguida de um produto que nos faz sentir realmente livers, como uma Coca-Cola; a liberdade não é "they say jamp and you say how hi" mesmo quando não percebemos que nos estão a mandar saltar.

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