Wednesday, March 20, 2013

Fukuyamas

Há uns tempos decidi ler o livro que trouxe fama ao Fukuyama, O Fim da História, livro que defendia que haviamos chegado ao pináculo do desenvolvimento social (mormente a democracia liberal) e que, parafraseando, a partir dali seria sempre em velocidade cruzeiro.
Ora, sem precisar de ler o livro a coisa parecia-me parva; primeiro porque se há coisa eventualmente sem fim é a história e do desenvolvimento, ou o seu inverso, humano; segundo porque, mesmo sem um enorme desenvolvimento académico relativamente a parâmetros como a história e a economia, conhecia, outrossim, a música Por Enquanto, dos Legião Urbana mas na voz da Cássia Eller que diz se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar/ que tudo era pra sempre/ sem saber, que o pra sempre, sempre acaba.
Poucas coisas são mais verdadeira.
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Ora, o tempo, como não podia deixar de ser, veio mostrar que tanto o Fukuyama como todos os outros que pretendem resumir a uma ciência perene o que depende da evolução da realidade estão, mais cedo ou mais tarde, errados.
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Como forma de piada, muitos dizem que o problema não são dos planos/esquemas/previsões infalíveis, elas são, de facto, infalíveis, o que falha é a realidade. A realidade é que tende a não colaborar...e isso é profundamente injusto.
A realidade, tão imprevisível como os humanos, tende a defraudar expectativas, tende a ter vida própria, alimentada dos humanos que a conformam e nem depende, em grande medida de factos racionais, quanto mais científicos.
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Já por aqui escrevi uma vez, julgo, que o ódio do Che para com os americanos não dependia daquilo que ele dizia em discurso, apesar de poder, até, acreditar nisso. Diz-se que a sua génese aconteceu quando o Che estava num bar com a namorada e os GI´s, mais poderosos e numerosos, se meteram com ela e ele, impotente, nada pôde fazer.
Seria possível prever o que deste episódio resultaria?
O Dick Cheney era, como todos os GOP, fervorosamente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo até que o seu filho o informou que era Gay. Agora é a favor.
Seria previsível que algo deste tipo fosse acontecer?
A penicilina descubriu-se porque um bonas deixou o seu alimento criar bolor.
Seria este o resultado esperado da falta de cuidado?
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Voltando ao princípio, o problema não são falhas de previsões (a menos quando são evidentes, o que não se coaduna com o fim da história), o problema, neste caso, é sequer pensar que se consegue prever tal coisa.

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