Wednesday, May 29, 2013

A Importância da Roupa

Há uns anos atrás saiu uma música de um gajo chamado Eamon que tinha a clássica batida de balada de amor, quer fosse para o celebrar quer fosse para descrever uma dor de corno. Era, efectivamente uma dor de corno mas não na costumeira lamechice, dizia, por exemplo, Fuck you, you hoe, I don't want you back.
Outra, dentro do mesmo género mas não precisamente igual uma vez que era, de facto, uma canção de amor era uma música dos Tenacious D que, mais uma vez vestida de balada, dizia, por exemplo, I'm gonna Fuck you softly/I'm gonna screw you gently/I'm gonna hump you sweetly/I'm gonna ball you discreetly.


Em ambos os casos, quantos não nativos da língua inglesa imaginaram ou mesmo se aventuraram a cantar isto sem fazer a mais pequena ideia daquilo que diziam e daquilo que o autor dizia?
O ritmo fez metade e aquilo que as pessoas julgam saber sobre o ritmo fez a outra metade.

Outro caso destes e que é ainda mais gritante porque imperceptível à grande maioria dos nativos de língua portuguesa é o Samba.
Quantos dos que passam por nós na rua pensam que nós somos melancólicos e os brasileiros felizes e para dar uma imagem disso mesmo recorrem ao aparente contraste Fado/Samba?
A verdade, contudo, é outra.

Como disse Vinicius de Moraes no Samba da Benção (e será mais ou menos aceite que ele percebia muito de Samba), Mas pra fazer um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/ É preciso um bocado de tristeza/Senão, não se faz um samba não.
A verdade é mais ou menos esta, apesar de não ser absoluta. Ouçam qualquer música do Cartola (samba mais samba não há) e procurem a alegria. Vão perder muito tempo para não a encontrar.

A explicação para isto é mais ou menos a mesma dos exemplos em inglês que já dei: veste-se uma letra com uma cuíca, um tamborim, um cavaquinho, um pandeiro e uns acordos menos soturnos (ainda que nem sempre aconteçam) e somos levados a pensar, por preguiça, talvez, que o que parece é e, como acontece com uma frequência de causar vertigens, a verdade é uma outra coisa.

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