Empatia
A Empatia é a arte de sermos capazes de nos colocarmos no lugar dos outros. Parece uma cena que provém da virtude ou da experiência mas por vezes é absolutamente impossível; impossível não porque o que outra pessoa passa nos ser inimaginável mas porque vivemos outras vidas em outras cabeças apesar de todos termos pernas e braços e muitos de nós falarmos a mesma língua e, inclusive, termos mais ou menos as mesmas experiências de vida.
Para tentar enquadrar isto, uma história inofensiva, recente e irrelevante:
Fui sair para ir a um espectáculo na Sexta-feira à noite e planeei ir para casa cedo porque Sábado de manhã tenho sempre cenas a fazer. Quando as circunstâncias são estas saio de carro porque sei que não vou beber e, assim sendo, não faz sentido usar taxis ou transportes públicos.
Tanto o espectáculo como o pós-espectáculo foram muito melhores que o planeado, então o planeado saiu furado e acabei por ficar pela rua até mais ou menos às 6 da manhã. Como estava de carro, dominei a sede com vontade férrea, como costuma acontecer.
Quando eram umas 5 e tal da manhã decidi ir para casa e levei duas amigas comigo.
Meti-me no carro e lá fui eu. Sóbrio, consciente e devagar porque tenho sempre receio de ser abalroado por um bêbado e, por isso, duplico a cautela.
Íamos todos tranquilos a conversar e com um CD a rolar apenas como música de fundo quando me aparece, ao lado, em alta velocidade, um carro branco que abre o vidro e me manda encostar - numa voz bem audível - e me mostra uma placa de STOP. Estavam lá dentro dois polícias fardados e eu encostei.
Aqui há que dizer o seguinte: ia devagar, a conduzir com segurança, não infringi nenhuma lei do Código de Estrada e não havia carroa à minha frente ou atrás.
Ou seja, os tipos vieram especificamente para me mandar parar a mim, por isso vieram em velocidade elevada.
Entramos, então, na empatia:
Eu encostei o carro e pronto. Nem sequer hesitei.
As minhas amigas assustaram-se imenso e disseram isso mesmo aos polícias.
Para elas, aquilo tinha sido ridículo e de mau gosto não porque apareceram de gás sem motivo aparente (o que, para mim, era ridículo) mas porque àquela hora da noite se lhes fizessem o mesmo que me fizeram elas teriam medo e era, até, possível, que não parassem porque temeriam ser assaltadas ou pior.
Nunca tal me ocorreria.
Espantosamente, quando contei a história à minha mãe e a uma outra amiga, hoje, elas tiveram a mesma reacção: medo de ser assaltadas ou pior por uns gajos num carro sem identificação e por gajos que podiam estar disfarçados de polícias.
E aí está!
Era-me impossível sentir esta Empatia porque nunca me ocorreu que pudesse ser assaltado. Nem sequer me passou, rapidamente, pela cabeça.
Eu que peso, provavelmente, quase o mesmo que as minhas duas amigas juntas e que já andei várias vezes à pancada não tenho medo das mesmas coisas. E falta de medo das mesmas coisas impede-me de pensar o mesmo que elas.
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