Monday, February 16, 2015

A APARENTE QUEDA DE MITOS

Como ainda é demasiado recente, tudo, para assumir como permanente usei o aparente mas de aparente tem pouco.
Começa em literal e encaminha-se para o metafórico, do palpável para o intangível.
É preparar, vem raiva porque sou pouco dado a desilusão.

O FÍSICO

Como é sabido, procuro pouca coisa fora e alimento-me, basicamente, dentro de portas. Não é algo que planeei desde miúdo nem de que me orgulhe particularmente. É possível que por fora seja o herói que Sérgio Godinho descreveu como o cobarde que corre prá frente e por dentro seja uma outra coisa.
Independentemente disso, como o que conta é o resultado, não me dei mal com esta independência feroz e, por vezes, atroz.

No que diz respeito ao meu corpo, sempre foi usado como uma arma de combate mas menos bem tratado porque nunca lhe fiz revisões.
Apesar de, como ad nauseam tenho escrito e começa a incomodar, sempre ter sido gordo fui também um desportista de primeira linha em todos os desportos que pratiquei; não era fácil de entender como puxava mais que quase todos e menos fácil era de perceber como era rápido e ágil a puxar isto tudo. Mais esquisito é o facto de eu não gostar particularmente de desporto mas, aqui, ambas as coisas se juntam: eu gosto de ganhar e ser melhor e para isso o corpo precisou de colaborar com a mente desse por onde desse.

Nada de doenças; nada de ossos partidos (de forma relevante); nada de lesões chatas; nada de nada.
Ferro! Nem a bebida nem os cigarros nem a pancada nem nada me parava e havia muita dificuldade para me abrandar.

Agora, tenho uma merda crónica - de que nunca mais falarei aqui - que não será, em princípio, particularmente grave nem fará de mim um exemplo de estoicismo. Não será feito um filme de loas à minha bravura.
O que acontece é que Ferro já não sou e essa merda deu cabo de mim.

A coitada - por ser nova e por eu ser o que sou - não estava a perceber o que estava a acontecer:
Não vale a pena ficar assim, isto não é nada de extremamente preocupante!
Pois, como pode entender que obrigar-me a encarar cuidados e algumas restrições e visitas de rotina é o mesmo que sentenciar-me à negação? Não pode. As pessoas não são assim...

Mas, normalmente, não vão aceitar a consulta em X porque ainda nem começou o tratamento. Eles primeiro precisam de saber o que é..
Sim, não estou a duvidar de si nem da sua competência. Quero que tente marcar e depois eu trato do resto.

Marcou.
Não percebeu que é a minha maneira de reagir a quem me faz mal. Mesmo quando é o meu corpo.

Pronto, tem aqui a receita e agora é para começar hoje.
Pois...hoje não vai dar. Devo começar amanhã.

Assim será.
Não percebeu que não gosto de ser controlado nem receber ordens. Mesmo quando é para o meu bem.

Não é suposto ser derrotado por dentro.
Não é suposto dar de mim.
Não é suposto falhar.
Não é suposto ser outra coisa que não a que quero.

Quinta-feira era de Ferro. Hoje não sou.
Amanhã estarei melhor mas não hoje.

A MENTE

Ligo e desligo muito depressa.
Deixei de falar com um amigo meu durante quase 10 anos porque, uma vez e com alguma razão, me disse que da próxima me dava um soco. Admiti não lhe bater. Não admiti a ameaça;
Deixei de falar com um familiar muito próximo durante 2 anos - mora a 100 mtos de mim - porque uma vez me virou a cara. Admiti não reagir. Não admiti a falta de respeito.
Com muito sacrifício mantenho contacto com quem me deu vida e apenas o faço por outra pessoa que me merece mais consideração do que a que dispenso a mim mesmo. Desiludiu-me uma vez. Não me desilude mais.
Nestes casos, como em outros, precisaram de me pedir desculpas de forma clara. Não foi preciso ser humilhante nem nada de exagerado: Lembras-te daquilo? Desculpa. Não se resolveu porque raramente se recupera o que se perde mas voltou ao possível.

Dou tudo o que quero dar mas nada do que não quero.
Conversa em SMS 1:
Gosto muito de ti...estou cheia de saudades.
Não respondi e desapareci, até agora, do mapa; não quero ligações emocionais. Erro de SMS.
Não quero dar.

Conversa em SMS 2:
Não me queres dar boleia, K?
Claro. O problema é que não me parece que chegues...
Contigo chego sempre...
Ainda não tinha acabado de ler e já tinha as chaves do carro na mão. Queria-me o corpo e com isso não tenho problemas.

Agora, não sei que dizer nem fazer...o que é mentira. Sei tanto uma coisa como outra mas como não quero, para mim é o equivalente a não saber.

Por muito ofensivo que isto possa parecer, nunca quis ser o para sempre de ninguém. Quando gostei quis sempre que fosse para sempre - poderia eu querer menos? - mas mais que isso precisava de saber que eu era o máximo na vida de quem quer que seja. O número 1. Tudo meu. O resto era pequeno quando comparado comigo.
Quando as coisas acabavam - e acabaram sempre - eu sabia que tinha conseguido o mais importante: EU SOU O GAJO PELO QUAL TODOS SERÃO MEDIDOS!!!
E fui. E sou.

Agora...
Porque não mudas? ou algo de parecido ouvi eu hoje.
Não sei. Não quero. Não posso. Não consigo...
E isto é tão mais horrível pelo facto de querer o que é pior que não querer porque...perco.

É uma mistura de querer muito e medo... ouvi também.
Há meia dúzia de semanas seria o mesmo que levantar-me em ombros. Sim! Sou muito de tudo! Isso assusta! É assim, querida!.
Hoje tive dificuldade em ver algo de bom nisto.

É péssimo tudo isto, mas piora.

Passou-me tudo pela cabeça. Passaram-me coisas que não sou capaz de escrever porque tenho dificuldade em admitir.
Pensei bom, é partir para o ataque ainda a meio da conversa e meia dúzia de passadas depois já sabia coisa nenhuma.
Comprei o fato de enfermeira para ti. Vais buscar-me depois da festa? li no telemóvel. Trabalho amanhã, não vai dar responderam os meus dedos. Eu que tenho dificuldades em contar quantas directas apliquei no, vá, último ano para satisfazer a carne. Trabalho amanhã...foda-se, que burro.

Ouvi, também, de outro lado, quem se vai foder és tu! Pois sou ou pois estou.

Haverá muita gente a pensar que isto é bonito; que é para isso que se vive; que precisamos de alguém.
Não quero. Não posso. Não devo...
....e não sei querer um bocado de coisa nenhuma.

Pensei que o gosto muito de ti e sinto muito a tua falta e o tenho ciúmes do que é meu e o pensei em ti o fim.de.semana todo me iam inflar o ego e retornar-me ao pavão que sempre fui.
Obviamente não aconteceu.
Obviamente aqui estou, fora de dia, fora de hora, fora de tudo porque tenho raiva a sair-me pelos poros e preciso de a destilar porque as pessoas não merecem pagar pelos meus problemas.

Ia dizer que o meu corpo pagaria mas, como já escrevi, também já teve mais crédito.

LOVE AFFAIR

É um dos meus filmes favoritos e é difícil explicar porquê.
Em tese, é a história de dois gajos noivos que encornam os respectivos. Tudo que detesto. Uma das minhas ex adorava as Pontes de Madison County, aquilo a que chamo uma pêga.

Porque é diferente o Love Affair?
Bem...
Há anos atrás um gajo falou-me daquilo que descrevia como Os Perdidos (sim, muito antes do Lost). Então, os perdidos eram, para ele, gente que deambulava no mundo e que, de vez em quando, se encontrava uma com a outra; uma coisa meia metafísica, eu sei, mas não me parece mal.

No Love Affair encontraram-se perdidos. Gente que não sabia que se queria porque não se conhecia. Gente que - pelo menos ela - achava ser feliz porque, descobriu depois, não conhecia a felicidade.
Eu entendo isto. Eu entendo o fogo que consome a alma e o desatino de ter de ser agora.
Neles não vejo culpa. Neles vejo a criança que vê a luz pela primeira vez. Não era só luxúria, também era luxúria.

Nem posso dizer que não seja uma coisa adolescente.
As pessoas constroem vidas e fazem planos e têm responsabilidades e acomodam-se. Não tenho nada a opor. Tudo que disse se consubstancia em ser adulto. A felicidade, para os outros, é muito ligada a segurança e previsibilidade. A vida, para os outros, é desagradável se parecer uma montanha-russa porque enjoa e os picos não compensam as depressões.
Tudo certo. A realidade é a irmã feia da fantasia mas é muito mais bem sucedida.

Compreendo mas não entendo...
Acho que está certo mas sou incapaz de aceitar.
Serão todas essas pessoas - provavelmente vocês - mais felizes que eu dentro da felicidade que entendem como tal.
O mundo é mais harmonioso quando controlável e isso é bom.

Eu não sei.
Eu não consigo.
Saber da existência do mais e ficar com menos não é algo que os meus olhos consigam fixar.

Entendam-me:
Não acho que seja eu quem está certo. A realidade e a vivência desmentem-me.
Perguntem-se é isto:
Será que eu me importava que a pessoa que está comigo soubesse que o que a fazia feliz era outra coisa que não eu?!
Pareço ouvir um coro de NÃOS e a maioria de vocês está a mentir porque a maioria de vocês entende como muito mais terrível estar sozinho.

É provável que estejam certos...
Se o meu corpo me falhou por que não a razão?

Ps. Eu regresso!!! Provavelmente mais parvo que nunca!!! Eu regresso sempre!!!

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