Estou Com Alguma Pressa...O Que Quase Me Envergonha
EUSÉBIO E O PANTEÃO
Quando se começou a dizer que o Eusébio ia para o Panteão começou-se a cheirar o pedantismo parvo que varre a comunicação social.
Ah, um futebolista?! Onde já chegámos!!!
Bem, a mim só me pareceu mais rápido do que devia e nem o facto de ser benfiquista (o Eusébio, claro) me importou muito.
O futebol, ainda que reles aos olhos dos intelectuais, é muito mais importante para o mundo do que os próprios dos intelectuais; quantos idiotas hão-de ter franzido o olho mas têm a Margarida Rebelo Pinto na mesinha de cabeceira? quantos idiotas hão-de ter franzido o olho enquanto viam uma conferência do Gustavo Santos? quantos idiotas hão-de ter franzido o olho enquanto lançam loas ao José Rodrigues dos Santos e à sua...vamos dizer arte em itálico e reforçar a ideia para que não se pense que não estou a ser ofensivo.
Importância não é o polissílabo mas a sua ausência. Só se deve lançar mão do complicado quando o simples não chega.
Tenhor por aqui colado em qualquer lado um poema do Pessoa que se lê de cima para baixo e, depois, de baixo para cima; percebem-se perfeitamente os dois, nenhum deles é excessivamente ornamentado.
Peçam ao Chagas para fazer assim uma coisa enquando muda a graduação dos óculos.
Diga se você me quer ou não /
Diga se comigo é feliz /
Todo mundo sabe/
O que existe entre nós dois/
Diga tudo agora e não depois./
Nosso amor não é cinema/
Desses de 1100/
Nosso amor não é comédia /
Pra dar risos pra ninguém/
Quanta gente me pergunta/
Se ao seu lado vivo bem/
Eu não minto, digo tudo:/
Sem você não sou ninguém/
...e a essência do que é simples.
É mais ou menos isto que eu quero e, na verdade, tive.
Nosso amor não é cinema desses de 1100
Nosso amor não é comédia pra dar risos a ninguém
Não é para ser visto com pipocas, não é para ser engraçado nem para ser seguido de oh que fofo é sério, é tenso, é denso, é o que é e não o que devia ou queria que fosse.
quanta gente me pergunta se ao seu lado vivo bem
A imperceptibilidae de entender que aquilo dá aquilo e que aquilo faz alguém feliz. Não interessam as cores e a ordem; não interessa o que parece nem o que pensam; não interessa se é o que se quer ver ou se deseja à pessoa que pergunta.
E porque só isso interessa e porque a quem é perguntado se deu ao trabalho de responder, ainda que talvez não devesse
Eu não minto, digo tudo, sem você não sou ninguém.
Da mesma maneira que o cérebro ordena palavras desordenadas para lhes dar sentido, dando-se muitas vezes o caso de inventar palavras que lá não estão para que sinta que percebe, o mesmo fazem as pessoas quanto ao que não compreendem: como podes tu estar com aquele animal (podendo não usar o termo animal)?
Porque ele só é um animal para vocês, que não o conhecem.
Atravessem a rua no momento em que um carro vai a passar e vos pode atropelar e vejam se são os vossos coninhas ou o meu animal que se atira para a frente para não serem vocês ou eu a apanhar com o carro.
(esta última é uma citação mais ou menos fiel de uma situação real)
E eu nem quero diferente.
Entende-se a banalidade, estranha-se a particularidade....e eu não quero ser banal e nem ter nada banal porque não sou um cinema desses de 1.100.
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