Saturday, February 28, 2015

RESULTADOS vs INTENÇÕES

GRÉCIA

Não se ouve falar sobre muito mais além da Grécia nas últimas semanas e, a meu ver, justificadamente. Joga-se muito com esta situação e, sem querer ser demasiado dramático porque, em tese, as coisas acontecem e a Terra continua a girar, o futuro próximo está meio nublado.
Como percebo pouco sobre a maioria das coisas e um bocadinho mais sobre a remanescente minoria não vou pensar em número, qua tale, mas antes no que acontece quando isto acontece porque como alguém muito mais esperto que eu - cujo nome não recordo - disse, quanto mais longe se consegue ver no passado mais longe se consegue ver no futuro.

Pensará, alguém, que a Grécia é um ninho de comunistas e esquerda extrema? Pensará se não souber o que a Grécia era tanto no passado recente como no mais longínquo.
Pensará, alguém, que a Grécia decidiu mudar radicalmente de vida? Pensará se não se perceber que não foi a Grécia que decidiu, as circunstâncias decidiram por ela.
Pensará, alguém, que a Grécia acreditou que com estes gajos que pôs à frente alguma coisa iria mudar, significativamente? Pensará e, aqui, estará dentro daquilo que me parece ser verdade, resultado de ignorância mas, ainda assim, terá acontecido.

O que, na realidade, aconteceu é bastante simples de entender. No momento em que se não tem mais a perder ou que se julga não ter nada a perder, o que, internamente, é a mesma coisa, faz-se qualquer coisa.
A experiência Grega, recente, com governos de coronéis não os deveria impelir para qualquer tipo de extremismo; o entendimento que, neste momento, o corte com a Europa a levará a muitos e muitos anos de buraco não os deveria querer fazer espiar esse futuro, até porque devem conhecer a Argentina que entrou onde entrou com a vantagem comparativa de ter moeda própria.
Os Gregos, ou alguns, saberão tudo isto mas parece-lhes que a coisa não pode piorar, então foram para os pretensamente radicais.

O que vai acontecer? Divido-me entre o nada e o pouco...ou a biqueirada para outro lado.
Os Gregos chegaram ao sa foda e pode ser que se fodam e, com ele, nós.

O problema com este tipo de jogos ou sentimentos é que do outro lado há mais pessoal.
Neste momento, não me parece que a maioria queira a Grécia fora da Europa. Infelizmente, tal não me parece dever-se a um qualquer sentimento de solidariedade - um fato que nunca serviu à Europa - mas ao pensamento de que, neste momento, será pior mandar a Grécia às urtigas a segurá-la.

Os perigosos radicais de cachecol qualquer coisa sabem disso melhor que os compatriotas e o radicalismo deles está a esfumar-se, como acontece a todos os que têm responsabilidades maiores do que bradar contra. Os perigosos radicais de cachecol percebem que, se não souberem fazer bem as contas, os outros vão chegar ao mesmo tipo de comportamento que os Gregos: sa foda, mandá-los embora não deverá ser pior que ficar com eles.

O problema disto é que a UE é o maior período de paz que a Europa consentiu em toda a sua história, que não começou ontem.
Se a UE se desmorona não será, apenas, um problema económico.
A Rússia esfregará as mãos, a China esfregará as mãos e passaremos, provavelmente, para a efectiva e anunciada queda do Ocidente.

(gostaria muito de falar sobre os gajos do Syriza que, como acontece de Este a Oeste, hoje em dia são aquilo a que se chama comunicadores e não outra coisa. Deixámos a substância em benefício da mensagem porque se entende que a aparência é melhor - e mais rápida - que a realidade. 
É um dos males maiores da Democracia.)

EVOLUTION

As pessoas não mudam. 
Estava a pensar sobre isto há uns dias. Sou dos que acham que, realmente, as pessoas não mudam mas dei por mim a tentar definir o momento em que as pessoas se tornam nas pessoas que não mudam.

Porquê?
Eu era uma criança muito diferente do adulto em que me tornei. Era extremamente sociável, bem disposto sem restringir destinatários. 
Parece-me que se juntou a fome com a vontade de comer, naquela altura; uma criança adulta (o que normalmente é entendido como engraçado e que, agora, me irrita muito) com coisas para dizer, imitações de figuras públicas para fazer e que, lá como cá, gostava muito de escrever, quando aprendeu, mas já não lá como cá, tornava esse gosto público.

Primeiro filho, primeiro neto, primeiro muitas outras coisas. Muito apaparicado, muito amado, muitas outras coisas.

As pessoas mudam? Ainda lá não chegámos mas as crianças mudam.

Na adolescência, desde o seu início até mais ou menos o meio ou mais para o fim, a coisa meio que se alterou mas não extremamente.
Deixei de ser tão sociável mas ainda tolerava uma vida social activa. Já era manifestamente mais agressivo e menos tolerante mas, ainda assim, não o misantropo em que me fui tornando.
Por exemplo,
ainda para o meio e final da adolescência fui ganhando prémios e vendo publicadas cenas que fazia e não quero com isto falar da qualidade da minha prosa mas antes do facto de ainda a mostrar...sendo certo que no final da adolescência já usava heterónimos.

A memória mais clara e precisa da minha mudança, não que não conseguisse identificar outras mas não é um trabalho a que me queira dar ou que me fizesse, agora, particularmente bem, é a do momento em que passei a perceber que conseguia sacar gajas e isto aconteceu relativamente tarde.
Fui para casa de uma amiga minha com um outro amigo meu e, a dado momento, chegou uma amiga da minha amiga. Linda, loira, mais velha que eu, boa, extrovertida, enfim, daquelas que o bar pára quando aparece e aponta para o que quer.
Pensei: meu Deus... é muita areia para o meu camião mas, na realidade, não foi. Poderia dizer que bati imensas teses e a ludibriei mas não foi o caso. Ela gostou e eu gostei e a coisa deu-se. 

O que aconteceu?
Não sei, nunca perguntei. Não estive com ela muitas vezes, não me apaixonei, não nada. 
O que aconteceu?
Varria-a sem saber que o estava a fazer e fui ganhando prática. O Mundo nasceu de novo e com ele um outro gajo. Não sei se melhor ou pior mas que gostava muito mais de si e que começou a recuperar o tempo perdido com toda a voracidade com que conseguia.
Sem esta gaja não teria tido visitas do outro lado do Atlântico porque me queriam conhecer nem me teriam querido em Milão nem me teriam querido como quiseram.

Foi uma coisa boa?
Eu gostei e gosto mas depende sempre do que se quer da vida...

Então, as pessoas mudam?
Depende, suponho, do momento em que pensemos nas pessoas ou da magnitude da mudança.
Apesar de tudo quanto disse, sempre tive um mau feitio terrível, sempre quis em vez de daqui a bocado, sempre me incomodou ter menos do que queria e mais ainda menos do que entendia merecer... mas não era a mesma pessoa que sou agora ou ainda não era pessoa.

No meio de tudo isto, como é evidente, há muito mais; há muitos mais momentos importantes que formaram a minha visão do Mundo e como lido com ele; há muitas cicatrizes, há muitas nódoas negras, há muitos ossos partidos, há muita alegria, há muita carne, há muita sorte e algum azar.

Uma amiga minha, casada com um dos meus melhores amigos, começou a namorar com ele ao mesmo tempo que eu comecei a namorar com a minha primeira namorada.
Como sempre me dei bem com mulheres - não todas, claro - ela não é excepção e, muito no início, disse-me que tanto eu como o meu amigo, com quem ficou, precisávamos que uma mulher nos pusesse a mão porque caso contrário iríamos estragar.
Achei muita graça e não achei nem acho que ela estivesse enganada. Gajos como nós não podem ficar sem ter quem os segure porque não lhes vai fazer bem. 

Sou, como vocês, a soma de todos os momentos pelos quais passei, dos mais relevantes aos mais insignificantes. 

Nós, pretensamente adultos, não mudaremos mas podemos afinar ou desafinar.
Há quem julgue, por exemplo, que uma experiência de quase morte muda as pessoas e posso dizer que assim não é. Pode fazer com que nos contrariemos durante algum tempo mas, depois, o curso do rio volta ao mesmo.

Morrer muda tudo, quase morrer não muda nada.

O ELEMENTO PSICOLÓGICO

Como não escondo, o que interessa, em última instância, é o resultado, a meta, o fim, a finalidade. 
Se quiser ser absolutamente honesto, deveria ainda interessar-me mais porque se o fizesse teria menos problemas com isso. Se apenas e só o resultado me interessasse seria mais lambe botas e mais contido porque a força bruta é, muitas vezes, contraproducente...mas isso levaria a um assunto mais profundo que, de momento, não me interessa que se consubstancia no sinto-me muito frequentemente mais burro que os burros porque os burros ignoram e eu sei...e mesmo assim faço o mesmo.

Mas o elemento psicológico.
A importância do elemento psicológico, em puro, existe porque as motivações apontam para o que acontecerá. Se soubermos porque fez alguém alguma coisa entenderemos o que fará em situações similares no futuro. E isso é importante porque se conseguirmos manipular essa intenção poderemos manipular o resultado.
Se as pessoas acharem que estão numa determinada situação em que não estão farão o que fariam se estivessem e teremos o que queremos, contra a vontade da outra pessoa que não sabe que não está onde pensaria estar.

Aliás, o sistema jurídico, por exemplo, baseia-se na intenção quase em absoluto e a intenção não é mais do que o elemento psicológico.

O elemento psicológico em quem não me interessa pessoalmente só me serve para o resultado;
O elemento psicológico em quem me interessa pessoalmente serve-me para tudo.

Não me interessa o elemento psicológico de uma mulher que me quer levar para a cama. Interessa-me que me queira levar para a cama.
Não me interessa o elemento psicológico de uma pessoa que faz o que quero que faça. Interessa-me que faça o que quero que faça.
Não me interessa o elemento psicológico de alguém que me favorece. Interessa-me que me favoreça.

Em termos pessoais, como não poderia deixar de ser porque sou o que sou, interessa-me quase em absoluto. E quase porque a factura da realidade faz-se pagar e eu sei que se faz pagar. E quase porque oblitero o que se pode pelo que se quer. E quase porque, ainda que dolorosamente, o fogo adora a gasolina.

O problema que se vai colocando é que quando me interessa este elemento passo a exigir muito mais e nisso não me sinto especial. Bem, talvez seja especial na quantidade e qualidade que exijo mas não na exigência em si.

Detesto impor comportamentos a quem quero, apenas, que os tenha e, por isso, não o faço sempre que consigo evitar o que é a esmagadora maioria das vezes.
Já não me importo de parecer que imponho comportamentos a quem os quer ter mas não se sente confortável a tê-los. Não me faz sentir parvo, faz-me sentir que facilito a vida a quem merece.
Gosto que me toquem porque quero e não porque têm pena de mim. Melhor. Se me quiserem tocar porque têm pena e eu percebo, a merda arde muito rapidamente. 

Não gosto que me magoem mas se não me pretenderem magoar, fico menos irritado. O seu contrário dá o resultado inverso.
Não gosto que se defendam usando as minhas características, marca de cobardia que muito me incomoda especialmente porque sinto que não mereço ser assim tratado. 

O que se pode tem limites, o que se quer não.
Admito, a custo, as limitações dos outros quanto ao que conseguem fazer mas já sou muito menos tolerante quanto ao que querem.
Admito, a custo, que a força não acompanhe a vontade mas já não o seu contrário.

O que interessa isso?
Mais uma vez, como o elemento psicológico, é uma nuance quase imperceptível mas que, para mim, é decisiva.
Posso não receber o que não se pode dar. Natural. Evidente. É a vida.
Posso não receber o que não se quer dar. Não. 

Esta pequeníssima diferença e que, por vezes, quase não se consegue detectar, pode fazer com que a recordação seja boa - o que muito prezo - ou má - o que desprezo.

É possível que achem que sou demasiado sensível a tudo isto e, provavelmente, estarão certos. Lamentavelmente, como todos nós, tenho os meus pontos sensíveis que tento a todo o custo esconder porque mais do que não gostar deles expõe-me e eu detesto sentir-me exposto.
Podem, também, pensar: meu amigo, é a vida. Toca a todos. As pessoas nem sempre têm o que merecem e, uma outra vez, estarão certos.... e voltaremos ao assunto que não quero que se prende com a minha burrice:

Eu convivo muito mal com a desilusão e, por isso, estou permanentemente atento. Permanentemente em estado de alerta.
Não me importo que a coisa corra mal se eu souber que vai correr mal porque, ao fim de contas, meti-me onde sabia e não culpo ninguém por isso.
Sentir que não consegui enxergar nada do que me rodeava deixa-me em estado de completa apoplexia... e eu nunca senti que não conseguia enxergar nada. Engano-me muitas e muitas vezes mas nunca completamente.

Cansei-me.
Ainda me apetecia, quando comecei, falar sobre o que as pessoas conhecem delas e os custos que estão dispostas a sofrer e infligir para se defenderem e o que não entendem e que os outros entendem.
Mas cansei-me.

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