Saturday, July 25, 2015

A Natureza Chatei-me

Esta semana, estava a ver um debate sobre a interminável questão da Grécia que, a dada altura, passou para um assunto realmente interessante: a Solidariedade Europeia.
Houve quem tivesse uma opinião parecida com a minha (aprofundamento em vez de alargamento) e união fiscal (com transferências de excedentários para deficitários, como fazem as federações).
A dada altura, um dos gajos disse qualquer coisa como isto:
Certo. Concordo que a solução é essa mas... já viram que um país antigo e, supostamente, estabelecido como a Espanha continua a falar de cisões? Eles, um povo supostamente estabelecido, têm tensões enormes e a Europa, que anda a rebentar-se há séculos vai adoptar a solidariedade? Ah, e a Alemanha continua a não admitir transferência de dinheiro, enquanto tal, entre as partes que compunham duas alemanhas antes da queda do muro. E isso foi há 25 anos!

Filho da puta. Tem razão.
A realidade é fodida e mesmo eu que me esforço muito por ver o quadro geral tenho muita dificuldade em sair da minha zona de vivência imediata.

Porquê a Natureza aqui?

A modernidade, em grosso, poderá ser definida como a altura em que o Homem dominou a Natureza. Se olharmos à volta, é mais ou menos isso que acontece quando se conseguem produzir quaisquer alimentos fora de época, quando se criam barragens para desviar os cursos dos rios ou, inclusive, quando o Ícaro deixa de ver as suas asas queimadas pelo Sol e pode voar sem medo.
Mas depois, um dia, dá-se um perá lá! Estes camelos pensam que controlam alguma coisa?! Ok. Peguem lá um tsunami.
É verdade que a capacidade de recuperação humana depois da catástrofe é muito melhor do que no passado mas, independentemente disso, não dá para controlar os tsunamis pois não?

E isso é, provavelmente, uma das fraquezas imensas que nos impregna e que vemos, as mais das vezes, como força.
A vontade de tudo controlar e tudo prever leva a que estejamos muito menos preparados para o imprevisto. E quanto mais avançada a sociedade mais atrasada é, neste aspecto.
Os povos nómadas da Etiópia estão-se a cagar para o Nasdaq, nem sabem o que é. Estruturas impermeáveis aos elementos (coisa que não existe) são relativamente indiferentes; as casas de adobe quando vão com a santa constrói-se outra e não têm de a andar a pagar depois de destruída porque não têm hipotecas registadas porque não foram financiadas por nada além de terra e braços.
Isto não é uma apologia à miséria, é um alerta para que o controlo total é uma alucinação colectiva que quando quebrada dói muito!

Querem mais?
Esta necessidade de controlo e previsão leva, por exemplo, aos ciclos noticiosos 24 horas por dia.
O problema deste tipo de canais (e vejo muitos porque sou estúpido) é que para estarem tanto tempo no ar têm de dar coisas que não são notícias mas epifenómenos que não servem de amostra para nada mas apenas para panicar.
Em termos reais, interessa que alguém tenha morrido esfaqueado quando ia às compras? Melhor: é mais uma notícia ou um apontamento? Seria notícia se, de hoje para amanhã, começasse a haver um acréscimo gigante de gente esfaqueada quando vai às compras. Será um apontamento se aconteceu uma vez em 20 anos.
MAS! esse apontamento absolutamente insignificante - excluindo para esse efeito o esfaqueado, claro - é coberto durante horas e horas e horas e quando isso acontece temos a ilusão de que estamos perante um acontecimento marcante que deve ser tido em conta...e não deve.

Há uns anos havia uma estatística que revelava que Portugal tinha a menor taxa de criminalidade violenta da comunidade europeia mas o maior receio da mesma.
É preciso mais?!

Querem mais?
Na vontade de controlar a economia fazem-se análises ao minuto das tendências esquecendo-se que não tendências de um minuto. Pode fazer-se uma análise de um sistema com um determinado hiato temporal significativo mas nunca ao minuto nem ao dia.
Depois, como é bom de ver, o pânico instala-se quando os juros, naquele dia, aumentam 2% e o êxtase toma o seu lugar se acontecer o contrário?
A diferença entre uma coisa e outra pode ter sido um camelo que ficou doente e, um dia, não apareceu para comprar cenas. O que revela isso em termos de tendência? Que de vez em quando um gajo está doente.

Isto pode parecer pouco mas não é.
O pânico não é amigo de ninguém e o seu oposto também não. 
Como se quer controlar tudo não se está preparado para o aleatório.

Querem mais?
Dizem-nos que devemos comprar casa e, para isso, muitos fazem empréstimos a 30 ou 40 anos. 
Afinal, o que pode acontecer em 30 ou 40 anos? TUDO!
E o que pode custar esta decisão?
A resposta é ilimitada: podes ficar sem casa e a pagá-la, caso percas o emprego e falhes as prestações; podes ficar preso a uma relação ou casamento porque economicamente não podes sair da situação (podem achar parvo mas só queria moedas de 1 € para quantas pessoas não se divorciaram e, assim, se transformaram infelizes, por causa de uma casa); podes ser forçado a manter um emprego de que não gostas porque tens obrigações; podes não mudar de profissão porque é um risco que não se pode correr ou, inclusive, não é admissível uma perda de rendimento mesmo que momentânea.

Pensar que se controla uma vida a 30 anos é estúpido e não deixa de o ser porque toda a gente o faz.
Uma casa vale isto? Nada vale isto mas parece que não há opção.
(sem sair muito disto, quando ouço os mais iluminados dizerem que as dívidas não são para se pagar mas para se gerir tenho vontade de espancar. Não entendo. Se as dívidas fossem para pagar - e já nem digo todas mas para a tornar controlável - não tínhamos de andar a pensar em reputação e em cada palavra que se diz: só se preocupa com o que os outros pensam quem deve e estes são menos felizes).

Querem mais?
Vamos ser parvos e dizer que ah, se eu destruísse esta merda toda à bomba não havia natureza que se safasse! e também aqui estariam errado, além de parvos pelo harakiri,
Como a Natureza não dura 50 ou 100 anos, daqui a uns milénios, coisa pouca para a eternidade, haveria de aparecer uma célula qualquer e começar isto tudo outra vez e não seríamos nós quem se riria no fim.

E querem o pior?!
Devem haver poucos control freaks como eu.
Tento controla tudo o que me rodeia ainda que pareça que sou estouvado. Detesto surpresas, detesto o inesperado, detesto mudar de hábitos, detesto atrasos, detesto alteração de ritmos... e sei que tudo isto é incontrolável.
Sou perfeitamente capaz de aceitar que não vou ser feliz mas já não que poderei ser controlado, o que é mais ou menos o mesmo de ser infeliz, para mim.
Tenho uma imensa dificuldade em fazer coisas porque sim e raramente as faço. Sou capaz de quase tudo se souber porquê; se o objectivo for claro não há problemas, mesmo que o falhe, mesmo que seja inacessível...agora, porque sim?

Ia escrever mais mas não me apetece.
Para ilustrar, se isto me acontecesse ia ficar muito fodido, provavelmente ainda mais fodido do que se acabasse mesmo:

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