Wednesday, October 07, 2015

A Comunidade

Há uns tempos, quando tive de ir papar um chacete (não sabia, à partida, que o ia ser), apanhei um dos pensadores criticar os americanos porque tinham tomado conta do mundo com o cinema e essas cenas. Ele queria dizer american way mas não sabia.
O chacete foi-o, em larga escala, não porque este tipo de ideias era expressa mas porque estava rodeado de gajos que se julgam intelectuais e independentes mas não são; e não são quer porque não sabem o suficiente para isso quer porque no meio de toda a conversa sobre liberdade e individualidade estavam - eles e eu, lamentavelmente - num prova de vinhos...a coisa mais pedante e pseudo-cenas só recentemente ultrapassada pelos baldes de gin super-in (atente-se: naturalmente, havia quem defendesse esses caldeirões de aquecer bebidas...).

Já por aqui devo ter dito isto: há uns anos (bastantes, julgo) houve um gajo que foi fazer uma reportagem fotográfica pelo mundo, mundo esse, em grande medida, pouco acessível à data.
Essa reportagem que deu em livro permitia que conseguíssemos identificar as pessoas por regiões apenas pela forma como se apresentavam.
Esse mesmo tipo de reportagem, hoje em dia, não permitiria tal coisa porque o mundo homogeneizou-se.

Por que tem isto graça?
Os antigos eram regionais e a comunidade aniquilava o individualismo...e eram diferentes.
Os modernos são internacionais e a comunidade alimenta o individualismo...são todos iguais.

Não é esta história diferente da do gin;
Não é esta história diferente das calças de ganga;
Não é esta história diferente do FB;
Não é esta história diferente dos odiosos selfie sticks.

Os gajos que estavam sentados à mesa, a imensa maioria, não entendiam que eram o mesmo apesar de se imaginarem seres completamente especiais e únicos.

Pode parecer que estou a criticar...e estou!

Ninguém se pergunta o que leva a que se achem indivíduos independentes que seguem a mesma estrada dos outros.
Reparem: não olvido que o homem é gregário e não me chateia que se procure a aceitação. O que me chateie é que se seja estúpido e não se veja.

O pior, ainda, é isto (para quem se importa): é suposto querermos isto e aquilo, é suposto termos isto e aquilo, é suposto sermos isto e aquilo.
É suposto querermos o nosso espaço (eu, que nem sou grande fã de Papas, achei muito engraçado o Francisco ter dito para que vou eu viver para lá? Sozinho? Nem pensar!; os motivos para não sentirmos uma necessidade são muitos mas não é perdoável se a única que interessa não existe...devia existir!);
É suposto termos um telemóvel com cenas. É uma marca de sucesso, independentemente de precisarmos dele ou não. Tenho um amigo que comprou agora um que só faz telefonemas...pensam que ele é maluco e eu acho que ele é são...
É suposto sermos tolerantes mas não se tolera a diferença, taxa-se como sendo uma coisa ou outra.

Vamos a um clássico, porque dos que melhor percebo:
Quando o Ben Harper cantou o Sexual Healing passou a ter milhões de gente a ouvi-lo...e os que o ouviam antes detestaram e passaram a chama-lo vendido.
O Ben disse, a dado momento: eu não tenho culpa... eu faço a mesma coisa mas há mais gente que ouve...
Tem razão, é verdade.
Agora, gosta-se do que não se ouve - sem se gostar mesmo - e essa é a maior franja.
Só que se todos formos indie todos somos pop, coisa que parece um segredo.


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