Monday, October 19, 2015

O Kennedy

Ontem vi o 60 minutos que me escapou no fim-de-semana e uma das reportagens teve como protagonista o filho de Ted Kennedy, Patrick.
Sob o coberto de se falar sobre a sua fundação ou coisa semelhante que pretende combater o estigma das dependências - mormente o álcool, se bem percebi - o que interessava, de facto, era o livro que ele escreveu e que entra na dependência familiar: ele, o pai e a mãe, pelo menos.

Num lamiré (porque me interessa menos), o Ted considera a dependência uma doença - não discordo - e uma vergonha para a família que a sofre - não discordo.
Grande parte da família está fodida com ele - não discordo - por entender que é um assunto privado mas ele achou que era momento de abrir as comportas em prol dos outros - não discordo.
(diga-se que quem já frequentou ou frequenta a alta roda da sociedade sabe que é um antro muitíssimo maior de vícios do que o seu contrário, em qualquer latitude).

O que me interessou mais, contudo, foi isto:
O Ted, como a maioria da família, era visto como um homem imponente e poderoso e gente desta não tende a ter paciência para ser controlado...e ele não tinha.
Como toda a gente que assim é, ajudá-lo foi coisa que não ocorreu.
Aparentemente, algo também muito mais comum do que se pensará, a dependência dele terá nascido com o desgosto provocado pela morte dos irmãos, coisa não assumida porque...gente assim não padece de desgostos.
A dado momento, quando o pessoal achou que a bebida estava a passar dos limites, fizeram uma intervenção; ele saiu da sala, sem nada dizer, e mandou uma carta ao mesmo pessoal que diria durante uns tempos, não apareçam por cá, Ficaram surpreendidos, eu não.

Outra coisa muito útil que o Patrick disse é que se pensa que as pessoas bebem (em contexto de dependência) para ficarem alegres (HI) mas, na verdade, o que fazem é tentar ficar menos tristes (LOW), coisa com a qual, mais uma vez, concordo.
Não se limita à bebida nem a algo que possa, hipoteticamente, matar. Tendemos, ainda que uns mais do que outros, a carregar num determinado comportamento para compensar um outro de que não gostamos ou que pretendemos esquecer ou com o qual não conseguimos lidar, especialmente aqueles de nós com características destrutivas para os próprios.

Neste tipo de contexto, lembro-me sempre de uma frase que alguém disse e que reza: pobre da sociedade que precisa de heróis (parafraseei, suponho).
Os heróis são gente esquisita e pouco recomendável. Contrariamente ao que se vende, não são pessoas equilibradas ou cheias de virtudes porque, se fossem, não seriam heróis como os entendemos... só quem não percebe o que são virtudes e defeitos e equilíbrio e por aí fora poderá pensar que um herói faz o que faz porque quer e não porque precisa.

Enfim, a coisa interessou-me e, em alguns pontos, tocou-me.
Não sou nem nunca fui alcoólico mas acho que andei lá perto e só lá não caí porque depender chateia-me.
Revi-me, também, em afogar cenas, coisa que faço com alguma frequência e, sem modéstia, com bastante talento.

...e porque continuo a ser agradecido mas nem sempre o possa (ou queira ou deva) ser expressamente:


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