Thursday, February 04, 2016

CHORO!!

Não, não chorei. (in)Felizmente é uma capacidade que não me assiste a menos que apanhe vento violento na cara ou que esteja muito muito cansado.
Este Choro é o brasileiro. Antecessor do Samba e a (para mim) melhor versão de Jazz com nome.

Há cosia de mês e meio descobri que havia um lugar que tinha Roda de Choro por cá mensalmente. Quando fui ver a data, descobri que tinha falhado por um dia, pelo que tive de esperar um mês, mês esse que acabou ontem.
Tinha medo que fosse demasiado fraco para apreciar porque o que ouço é de topo mas não foi demasiado fraco. Foi bem tocado (à excepção do Cochichando que só me entra nos ouvidos quanto tocado pelo Trio Madeira Brasil). Foi muito gostoso
Durante, mais ou menos, uma hora e meia fui feliz e não peço muito mais que isso.

Deixem-me, primeiro, descrever (estou com algum tempo):
Livraria quase impossível de identificar com uma sala manhosa no fundo. Umas 5 filas de, talvez, 5 cadeiras e uma mesa pequena à frente.
À minha volta haveria 3 pessoas mais novas que eu e o resto era o bando do geriátrico. Nem uma cerveja à vista. Poderão pensar bem que te fodeste mas não foi o caso. Saiu melhor que a encomenda, coisa que percebi pouco tempo depois de me sentar.
Perguntei a uma velha se os dois lugares ao lado dela estavam ocupados e ela respondeu-me que apenas um estava. Sentei-me no vago e, passados uns momentos, chegou outro velho que conhecia as duas; perguntei quer vir para aqui que há ali outro lugar? e ele respondeu-me não. Vim cá para ouvir música não para conversar!.

Cool! Viemos ao mesmo.
De facto, além das palmas não se ouvia nada além da música.
Fiquei contente.
É mesmo isto.

Como não havia ruído e apenas música, além de ouvir dava tempo para pensar nas coisas.
Pensei que o meu gosto por música meramente instrumental (esta mas não todas) surgiu mais ou menos quando fui crescendo e aprendendo que não é preciso palavra para tudo. Correndo o risco de me querer dar um carolo, é como se dizer coisas em algumas alturas alterasse a verdade do que está a acontecer.
...mas a verdade é que Choro não me chega, também preciso de Samba; a verdade é que o momento não me chega, preciso de palavras. Só talvez precise de menos e talvez nem isso seja verdade.

A ausência de palavras, as mais das vezes, causa desconforto. Os jornalistas aprendem isso e eu aprendi isso com eles: é ficar calado para ver quem preenche o vazio primeiro e para se preencher o vazio às vezes diz-se o que se não quer, o que é sempre o mais revelador.
Quando se está calado e confortável, alguma coisa está a acontecer e quase nunca é mau. Quando não se precisa de encher ar, algo de diferente nos envolve e quase nunca é mau. Quando não se precisa de criar assunto do nada tem-se a sensação de se ter chegado.
...como não somos tão evoluídos como gostaríamos, às vezes precisamos que nos avisem que chegamos porque chegar só não chega.

Deixem-me tentar concretizar:
Ontem, ficaram-me duas coisas na cabeça, o Doce de Coco (acho que a colo ao fim) e queixo-me Às rosas, mas que bobagem/As rosas não falam/Simplesmente as rosas exalam/O perfume que roubam, a ti (cantaram As Rosas Não Falam, do Cartola).
No meio do que queria ouvir e do que fui ouvir, cantar não era uma das coisas e, mesmo assim, foi esta quadra do que se cantou que também me marcou a memória.

Durante o tempo em que durou, fui feliz.
Mal acabou e saí, estava contente.
Acordei contente, ainda.
Agora, está a passar e a realidade começa, novamente, a fazer das suas.


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