Wednesday, April 06, 2016

Aniversários

Desde que deixei de receber dinheiro no aniversário passei a deixar de lhe dar qualquer importância. Nessa altura, fazia-me diferença para orientar os meus gastos e era dinheiro extra; na verdade, o Natal não é muito diferente. A principal diferença entre uma data e outra é que, apesar de tudo, consigo ignorar muito mais facilmente o meu aniversário do que os últimos 15 dias do ano, época que me exaspera.

Há mais do que um motivo para o pouco caso que atribuo ao meu aniversário.
Em termos meramente intelectuais, não dou especial relevo ao facto de nascer num determinado dia. Se fosse outro seria sempre o mesmo dia e a Terra não interromperia a rotação por ter nascido nem a desacelera sempre que o dia se repete, anualmente.
Envelhecer, em si, não me chateia nem me alegra. É o que é e lutar contra inevitabilidades é estúpido.

Em termos mais terrenos e palpáveis, chateia-me os que se lembram de quem quer que seja porque, por acaso, se nasceu nesse dia há umas décadas atrás.
São mensagens (graças a Deus pelas mensagens. Atender telefonemas era muitíssimo mais doloroso) de gente que se queixa de há muito tempo não nos ver; mensagens de gente que anda na sombra à espera que surja a data em que é suposto dizer alguma coisa e descarrega tudo de uma vez; mensagens de gente que quer sempre combinar coisas mas que depois se esquece (novamente, graças a Deus); mensagens de gente que quer um resumo do que aconteceu nos restantes 364 dias ou fazer um resumo do que lhes aconteceu nesse mesmo período.

Agora, ao almoço, perguntaram-me se não ficava contente com algumas das mensagens que recebia de certas pessoas e a minha resposta foi esta:
Essas pessoas deixam-me contente sempre que me mandam mensagens, todos os dias. Não fico mais contente por ter sido ontem.

Para que seja, ainda, mais claro o pouco caso que deixo a este dia:
Na véspera, à meia-noite (nem sei se se pode dizer véspera ou dia), tocou um despertador, que não me pertencia, e não percebi porquê.
Era o meu aniversário...não me lembrava...

O dia em que calhou de ter nascido foi óptimo, este ano.
Nada a apontar, bem pelo contrário. 
O que se passa é isto:
Teria sempre sido um dia óptimo, como foi, independentemente da data em que tivesse ocorrido.

Enfim...
é um bocado como nos funerais: todos somos óptimos no dia do nosso aniversário, mesmo quando não somos.

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