Thursday, April 07, 2016

"Não Quero Que Mudes!"

Esta afirmação vem nos livros daquilo que se deve dizer e as mais das vezes nada mais é do que isso mesmo: o que é suposto dizer-se e o que supostamente se quer ouvir.

A experiência e um olhar desapaixonado mostram-nos que o que se quer (ia dizer o que queremos mas não gosto de me incluir nisto) é, de facto, mudar as pessoas. Pretendemos resguardar aquilo que agrada e alterar o que causa mais desconforto ou aquilo que, pura e simplesmente, não gostamos.
Por ser evidente num breve olhar atento, não perderei muito tempo com isto.
Se algum de vocês achar que esta não é a regra ou é demasiado novo para entender ou demasiado estúpido para a aprender.
Aliás, uma excepção real e completa nunca a conheci. O mais próximo que cheguei de ver (e o que tento fazer mas com sucesso muito pouco promissor) será o reconhecer os defeitos que acompanham os defeitos, entender que uns não vivem sem os outros e tentar diminuir os estragos que provocam ou evitar situações em que eles se revelam.

A temática, para o caso, é diferente e pessoal, como as mais das vezes.

Sinto-me um buraco negro ou um poço sem fundo. Quando me tenho em boa conta vejo-me como um poço sem fundo - porque não consegue ser preenchido - e quando me tenho em má conta vejo-me como um buraco negro - porque suga tudo o que rodeia sem nunca desaparecer ou dar-se por satisfeito.
A ideia, em abstracto, de se querer sempre mais independentemente do quanto se tenha é bom para escrever romances e fazer filmes. É uma coisa sem compromisso e todas as coisas sem compromisso são alvo de admiração e facilmente tornadas histórias de superação (sim, não convém sabermos ou publicitarmos quando corre mal...).
A ideia, em concreto, é menos fixe quando nos toca na pele.

Imaginem que têm muita fome.
Quando estão saciados, a sensação é sublime.
Agora imaginem que só têm muita fome.
Nunca estão saciados, ainda que por breves momentos possa parecer.

E a ligação ao tema é esta:
Existem coisas que quero mudar e quero muito. Essas, se pudesse escolher, seriam as mesmas que quereria que quisessem mudar em mim.
É certo que, por feitio, seria capaz de levar a mal quererem mudar o que quer que fosse...mas precisava. Preciso.

Não me apetece muito continuar a esmiuçar isto, por isso, exemplo concreto:
Uma das pessoas com quem me relacionei mais tempo - esteve entre ser um caso e uma namorada, por isso tenho mais dificuldade em descrever a coisa - ficava literalmente excitada quando eu era agressivo. Quando me irritava com um porteiro, com um empregado de um restaurante, com um outro condutor....enfim...e quando digo literalmente excitada é isso mesmo que quero dizer: ficava a escorrer, também literalmente.

Ora, eu não gosto de engrossar nem de ser agressivo.
É verdade que pode parecer que gosto porque acontece com alguma frequência mas, ainda assim, é uma versão moderada da minha vontade. É resultado de um esforço de me manter calma que não é bem sucedido.

Entendem?
Esta deveria querer mudar alguma coisa em mim, deveria, como eu, querer que eu fosse um bocadinho mais manso.
Não. Alimentava aquilo que eu entendia e entendo como mau comportamento.

Acho que é por causa do que descrevi, em geral, que há relacionamentos destrutivos.

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