Monday, July 04, 2016

Orgulho e o seu Contrário

Comecemos pelo contrário porque é melhor acabar bem.

A minha incapacidade de estar bem é um problema sério, antigo e, espera-se, não perene.
A ideia de que nunca nada está bem não pode ser considerada parva. O princípio mantém-se tão verdadeiro como sempre foi.
A ideia de que não vale de nada pensar no que está bem feito porque só os erros interessam para progredir não pode ser considerada absurda. O princípio mantém-se tão verdadeiro como sempre foi.

O problema é a falta de medida e como isso afecta os outros.

Guerra permanente é uma ideia mais estúpida do que as ideias que precederam são verdadeiras.
Na constante tentativa de melhorar, é minha intenção ficar contente (vá, mais ou menos satisfeito) quando um problema se resolve; é a minha intenção confrontada com a minha natureza e a intenção costuma perder.

Como é meu apanágio, contudo, não desisto.
...e a graça disto tudo é que o confronto da intenção com a natureza torna-se, em si...um confronto e, por isso, um problema.

Percebem?
Mesmo o que eu quero. O que eu sei que quero. O que entendo ser acertado. É só mais um problema a ser resolvido e, infelizmente, depois deste virá outro.

O inferno dos outros sou eu.

E o orgulho.

Este fim-de-semana que passou fiz almôndegas. Não as cozinhei (ainda). FIZ!
Fiquei orgulhoso. Fico sempre orgulhoso e satisfeito comigo quando faço cenas.

A maioria não entende por que motivo faço quando posso comprar meio feito.
A maioria não entende a minha aversão a usar um picador para a cebola e para o alho e a preferência pela faca...quando com a faca pico pior.
A maioria não entende o asco que tenho à Bimby e afins.

É possível que este meu gosto resulte do facto de o conseguir fazer com as mãos. 
Não me queixo do meu intelecto mas as minhas mãos - quando não para bater ou masturbar - são quase imprestáveis. Já devo ter escrito por cá que já se deu o caso de partir uma lâmpada na mão quando a queria trocar; já parti um copo ao tentar lavá-lo por empurrar a esponja demasiado para baixo e o vidro não aguentou; fico maravilhado com gente que sabe fazer instalações eléctricas e coisas realmente úteis.

Quando páro para pensar, dá-me sempre a sensação de que o agricultor que não conhece Ezra Pound e é incapaz de ter um pensamento sobre a influência do cultura pop sobre a sociedade é bem mais útil que eu porque se esta merda der para o torto, ele continua a ter batatas e eu fico a olhar para o ar a pensar em John Locke ou coisa equivalente...

Acabadas as almôndegas, tomou conta de mim um sentimento que me lembra um outro:
Quando comprei o primeiro carro com o meu dinheiro fi-lo a pronto e, porque eu sou assim, tinha dinheiro para comprar mais 4 iguais.
Pelos parâmetros que nos regem a todos, impostos, é certo, isto deveria ter-me dado um sentimento de sucesso. Não deu.

No mesmo dia, porque estava irritado por ter comprado o carro quando não o queria ter feito (foi uma necessidade e eu detesto necessidades), fui comprar um CD dos Led Zepp.

Adivinhem o que contei às pessoas a quem conto que faço cenas sobre o meu dia?
Pois, caguei no carro.

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