Friday, November 04, 2016

"Vai-se Sempre a Tempo!" (e eu continuo com muito)

Há várias perspectivas para enfrentarmos esta afirmação. Ela não é uma verdade absoluta.
Ouvimos, frequentemente, este Vai-se sempre a tempo de forma indiscriminada; escutamos sempre este tipo de frases, com carácter absoluto, dos a mente chama-se mente...porque mente e dos treinador, basta atentarmos na palavra, é aquele que treina-a-dor.
Se tiverem o mesmo asco que eu a esta gente vazia e à auto-ajuda em particular (sempre que ouço life coach tenho vontade de pegar fogo a tudo o que me rodeia) é fácil tornar esta frase ridícula mas, se nos abstivermos do veículo, ela tem valor e, em certas circunstâncias, é verdadeira.

Pensemos em termos lúdicos:
Se nós gostávamos de saber dançar, é sempre tempo de aprender;
Se nós gostávamos de saber nadar, é sempre tempo de aprender;
Se nós gostávamos de escrever, é sempre tempo de aprender;
Se nós nos interessamos pela História, é sempre tempo de estudar;
Se nós nos interessamos por Mecânica, é sempre tempo de aprender.

Nenhuma destas afirmações é falsa. 
Todos estes actos são válidos.

Se sairmos do campo meramente lúdico, a coisa não é igual...
Aprendi a nadar quando tinha 4 anos e aos 6 comecei a competir.
Entre os 4 e os 6, nadava 3 vezes por semana; entre os 6 e os 13 (quando a minha carreira terminou), treinava diariamente e, a certa altura, dias havia em que o fazia duas vezes.

Não interessa em que forma física me encontre - e, muitas das vezes, era e é miserável - não encontrei, em altura nenhuma, qualquer pessoa que soubesse nadar e que me derrotasse. Tanto em desafios curtos como longos.
TODOS os que me desafiaram eram manifestamente mais leves do que eu; a MAIORIA era mais alto do que eu; a ESMAGADORA MAIORIA (queria dizer TODOS mas temo haver alguma excepção de que não me recorde) estava em muito melhor forma física do que.

Então,
pode-se aprender a nadar em qualquer altura mas é impossível comparar-se isso com quem se meteu na água pouco depois de conseguir andar.
A minha habilidade técnica permite-me nadar mais depressa e mais tempo, quase independentemente de tudo o que a outra pessoa possa ser ou saber.
Haverá excepções? Haverá gente tão dotada que possa recuperar o tempo perdido?
Haverá mas é um erro estatístico.

O que quero dizer é isto:
Para atingirmos um determinado nível naquilo que queremos fazer, às vezes é tarde demais e quanto mais alto o nível que pretendemos menos vezes, ainda, será possível.
K, gostava de conseguir escrever como tu...
- Em princípio, devias ter de começar aos 6 e nunca mais parar...

K, se gostas tanto de música, e de guitarras em particular, por que não vais aprender?
- Para tocar como queria, já não vou a tempo e gosto demasiado de ouvir para andar a assassinar notas...

Para um gajo se divertir, vai sempre a tempo.
Para um gajo ser realmente bom, é tarde muitas vezes.

Pensemos na Vida
A resposta é um bocado mais complicada e não sei muito bem a que conclusão chegar.

Em tese, podemos sempre dar um sa foda a tudo mas como há experiências que não vivi, é-me mais difícil ser absoluto.

Como já por aqui escrevi, no Heat o Robert de Niro diz um gajo tem de estar pronto para largar tudo em 10 segundos (já não me lembro se eram minutos...) e a minha vida, vista de fora, permite isto mesmo...e não é casual.
Não tenho obrigações;
Não tenho prestações;
Não tenho dívidas;
Não tenho dependentes (no estrito termo da coisa);
Não tenho muitas coisas.
Juntando estes predicados, vou sempre a tempo de mudar mas a realidade não se dá muito bem com esta minha ideia. Esta asserção eminentemente objectiva é real mas nem tudo é objectivo.

Tinha há uns meses uma ideia de fazer uma determinada cena mas, depois, aconteceu uma outra cena - que não a mim - e o plano alterou imediatamente. Não precisei de pensar. Foi instantâneo.
O que levou a essa mudança, que não teria de acontecer, foi o meu sentimento de responsabilidade exagerado. Eu sinto-me responsável mesmo quando, em tese, não sou e, como todos os narcisistas desta vida, só interessa o que eu acho e se eu acho que sou responsável, eu sou responsável.

Então, em termos absolutos, não é certo que se vá sempre a tempo de mudar.

Agora,
coisa diferente do que descrevi - situações afectivas e etéreas - muitos do que pensam ser tarde demais para mudar fazem-no em resposta a bens materiais ou irreais:
O carro que estão a pagar;
O emprego que têm;
A casa comprada em comunhão e o que lhe vai acontecer;
O que os outros vão pensar;
O tempo e esforço que se investiu;
...são incontáveis.

Isto já me é mais difícil aceitar. Compreender, consigo; não recriminar, consigo. Aceitar...

Como é bom de retirar, a minha postura quanto à Vida é a de que a Felicidade em termos completos e permanentes, não existe. Assim, nunca é tempo para se ser Feliz.
MAS
vai-se sempre a tempo de evitar ser Infeliz. Sobre a Infelicidade tempos algum controlo.

(ia acabar aqui mas lembrei-me da Bimby)

Ontem, a Bimby foi assunto.
O meu maior problema com a Bimby - além do preço - é fundamentalmente filosófico: 
eu gosto de cozinhar e do que isso envolve, pelo que a ideia de uma máquina daquelas fazer isso por mim, enerva-me.
Cozinhar relaxa-me e, além disso, acho que alimentar pessoas é um acto de carinho (ia escrever amor mas bolsei, pelo que evitei) e quando se quer que os outros se sintam acarinhados perde-se tempo com isso.
A máquina chateia-me...
Então, ontem disseram-me:
Fui a uma merda dessas. O meu problema era o mesmo que o teu mas, depois, percebi que é muito pior!
"O puré fica óptimo!" e eu perguntei se descascava as batatas...Não!
"As caipirinhas ficam óptimas!" e eu perguntei se era só mandar os ingredientes lá para dentro...Não! Há uma ordem!
Então, para que caralho quero eu isso?!
Pois...
Nunca tinha aqui chegado. Os meus problemas com a Bimby aumentaram...

(Sabes K, eu não pareço mas sou muito tradicional. Eu queria dizer Telecel, ainda! e ri-me muito com isto. Telecel é um sonho e eu era Telecel. Também preferia dizer Telecel)

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