Saturday, March 21, 2020

Mortalidade

Questão que não é recente mas que se corporizou.
Por estes dias, no meio de uma conversa, disse-lhe que o que me chateia, realmente, é que é improvável que a vá ver com a idade que tenho hoje, ou seja - para não ser críptico -, é improvável que vá ver a minha filha chegar aos 40.
Não digo que seja impossível;
Não digo que seja muito improvável;
Direi, apenas, que é improvável.

Como disse, a questão não é nova.
A partir dos 30, há uma década, comecei a achar que era tarde para ser pai.
Não garanto que, hoje, ache coisa diferente.

Sendo tudo ainda nem sequer novo - Ela ainda está grávida mas está muito mais do que estava há 2 meses e esses 2 meses parecem ter sido há uma semana - todas as questões recebem apenas suposições como resposta; e suposições criadas no éter. 

Fisicamente, hei-de estar pior preparado.
A minha forma física nem é má quando comparada com o que já foi. Mas a verdade é que também já foi melhor.
Continuo a não precisar de dormir muito mas já precisei menos;
O meu corpo pede dois ou três dias de recuperação quando bebo mais do que devia mas, felizmente, é posto cada vez menos à prova.

...no que não depende do físico, a impressão que tenho é que nunca estive melhor.
Não me lembro de ser mais rápido e nunca fui mais experiente;
Não me lembro de ser mais ponderado e nunca soube mais;
Não me lembro de ser mais paciente e nunca aprendi melhor.

Por respeito à verdade, continuo a não considerar-me paciente. Só estou mais.

O argumento óbvio e real para o que me apoquenta é que nada me garante, sequer, que a vá ver nascer; não me garante agora como não me garnatia há 10 ou 15 anos atrás.
Mas eu não funciono assim.
A probabilidade de ver os 60 é maior do que ver os 80.
É assim que eu funciono.

Estou muito melhor a aceitar o que não posso controlar mas ainda tento controlar tudo o que consigo.
É por isso que aceito que posso apanhar o COVID mas já não aceito colaborar para isso.

Tenho de sair de casa quando preciso de víveres mas, há um par de dias, Ela disse-me que precisava de se comprar sumo. 
O sumo era para mim e para o meu pequeno-almoço. Era comigo que estava preocupada.
...mas não. Não saio para comprar sumo para mim. Beberei água.
Gosto de sumo ao pequeno-almoço? Claro. Mas sumo não é, para mim, nem remotamente essencial, por isso não irei a uma qualquer superfície para o comprar.

Percebem?
Eu posso apanhar COVID. Posso, até, já o ter apanhado...mas nunca por ter ido comprar sumo!

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