Os Tempos Antigos
Ainda não me tornei um Velho do Restelo e espero não me vir a tornar...mas já dei - e dou - por mim a lamentar o tempo que passou mas apenas de vez em quando.
As minhas maiores queixas quanto aos tempos actuais estão, as mais das vezes, ligados à desconexão com a realidade e à hiper-valorização dos sentimentos próprios e, por esta via, da importância que o pessoal se anda a dar no plano geral.
O advento das redes sociais e do progresso vende que podemos ser o que quisermos mas não podemos. É um facto!
Muitos dos que trabalham comigo, por exemplo, podem muito querer ser tão espertos como eu e isso nunca vai acontecer;
Muitos dos atletas com quem convivi e que vi eram e seriam sempre muito melhores do que eu por mais que treinasse.
Poderia ser dito que podes sempre fazer mais e ser melhor, o que considero verdadeiro mas não que se te esforçares vais conseguir ter o sucesso que o Jordan teve. Não vais. Ou melhor, é um erro estatístico se fores.
Sucede que muita gente confia que as palavras/acções e realidade são uma e a mesma coisa mas não são.
...é um problema de educação, não é?
Sou plenamente favorável a dar toda a confiança que se conseguir a quem se está a criar mas é bom que essa mesma criança entenda que esforço é importante mas não tudo, às vezes perde-se e há gente que é melhor do que nós.
Medalhas de participação é o caralho!
(enquanto escrevia esta última frase, lembrei-me que a parteira estava a falar do neto e demonstrou orgulho quando disse que ele tinha chorado porque não tinha tido 5 a tudo. Pensei pá, não devias ter orgulho nisso...não é bom... porque apesar de não me lembrar de chorar pelo mesmo motivo, essa criança era eu)
Mas o assunto nem era este...
Quando Ela descobriu que estava grávida, quis fazer um curso de maternidade.
Naturalmente, achei estúpido porque a quantidade de atrasados mentais que conseguem desenrascar-se prova que é muito mais do que possível! e disse-o convictamente. Mas, no mesmo fôlego, disse, também, que se quiseres, fazemos isso.
E disse-o porque saber mais é sempre melhor do que saber menos e estar preparado é melhor do que não estar preparado.
Se eu acho que o negócio da maternidade é nojento?
Acho.
Acho que é um negócio que se apoia no sentimento de culpa que consegue transmitir às futuras e recém mães caso não comprem um determinado produto ou não tirem um determinado curso. Detesto-o por isso.
...mas nem sempre é fácil, com o preconceito - justificado! - que descrevi aferir o que é mesmo preciso e o que nos tentam impingir.
Bem, o curso, por peripécias várias, acabou por não ser feito mas tivemos um curso intensivo aquando do parto e nos dias que se seguiram.
Se o achei fundamental? Não, não achei...MAS!
Quando o meu irmão tinha uns meses de vida teve de ir para o Hospital com ar de quem ia tombar. Acho que esteve lá perto.
Pelos vistos, o médico meteu-lhe um termómetro no rabo, ele defecou-se todo e voltou, quase de imediato, ao normal.
Ora, a minha filha - acho que como todos os recém-nascidos e bebés - sofre de cólicas mas, em virtude do curso não precisará de um médico nem de ir para as urgências pelo mesmo motivo que o meu irmão foi; nós sabemos (e já fizemo) a cena do termómetro.
É muito fácil olharmos para trás e achar que aquilo é que era.
Lembra-me sempre da minha ex que me ligou a dizer que a nossa relação era incrível! Ela já não se lembrava do motivo de não ter durado ou de ter acabado. É selectivo.
Também eu sofro do mesmo, quando me esqueço.
Mas, depois, um gajo vai ver a evolução das estatísticas da mortalidade infantil, por exemplo, e a realidade demonstra-nos que o avanço tecnológico é very cool.
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