Sunday, August 16, 2020

Os Tempos Antigos

 Ainda não me tornei um Velho do Restelo e espero não me vir a tornar...mas já dei - e dou - por mim a lamentar o tempo que passou mas apenas de vez em quando.

As minhas maiores queixas quanto aos tempos actuais estão, as mais das vezes, ligados à desconexão com a realidade e à hiper-valorização dos sentimentos próprios e, por esta via, da importância que o pessoal se anda a dar no plano geral.

O advento das redes sociais e do progresso vende que podemos ser o que quisermos mas não podemos. É um facto!

Muitos dos que trabalham comigo, por exemplo, podem muito querer ser tão espertos como eu e isso nunca vai acontecer;

Muitos dos atletas com quem convivi e que vi eram e seriam sempre muito melhores do que eu por mais que treinasse.

Poderia ser dito que podes sempre fazer mais e ser melhor, o que considero verdadeiro mas não que se te esforçares vais conseguir ter o sucesso que o Jordan teve. Não vais. Ou melhor, é um erro estatístico se fores.

Sucede que muita gente confia que as palavras/acções e realidade são uma e a mesma coisa mas não são.

...é um problema de educação, não é?

Sou plenamente favorável a dar toda a confiança que se conseguir a quem se está a criar mas é bom que essa mesma criança entenda que esforço é importante mas não tudo, às vezes perde-se e há gente que é melhor do que nós.

Medalhas de participação é o caralho!

(enquanto escrevia esta última frase, lembrei-me que a parteira estava a falar do neto e demonstrou orgulho quando disse que ele tinha chorado porque não tinha tido 5 a tudo. Pensei pá, não devias ter orgulho nisso...não é bom... porque apesar de não me lembrar de chorar pelo mesmo motivo, essa criança era eu)

 Mas o assunto nem era este...

Quando Ela descobriu que estava grávida, quis fazer um curso de maternidade.

Naturalmente, achei estúpido porque a quantidade de atrasados mentais que conseguem desenrascar-se prova que é muito mais do que possível! e disse-o convictamente. Mas, no mesmo fôlego, disse, também, que se quiseres, fazemos isso.

E disse-o porque saber mais é sempre melhor do que saber menos e estar preparado é melhor do que não estar preparado.

Se eu acho que o negócio da maternidade é nojento?

Acho.

Acho que é um negócio que se apoia no sentimento de culpa que consegue transmitir às futuras e recém mães caso não comprem um determinado produto ou não tirem um determinado curso. Detesto-o por isso.

...mas nem sempre é fácil, com o preconceito - justificado! - que descrevi aferir o que é mesmo preciso e o que nos tentam impingir.

 Bem, o curso, por peripécias várias, acabou por não ser feito mas tivemos um curso intensivo aquando do parto e nos dias que se seguiram.

Se o achei fundamental? Não, não achei...MAS!

Quando o meu irmão tinha uns meses de vida teve de ir para o Hospital com ar de quem ia tombar. Acho que esteve lá perto.

Pelos vistos, o médico meteu-lhe um termómetro no rabo, ele defecou-se todo e voltou, quase de imediato, ao normal.

Ora, a minha filha - acho que como todos os recém-nascidos e bebés - sofre de cólicas mas, em virtude do curso não precisará de um médico nem de ir para as urgências pelo mesmo motivo que o meu irmão foi; nós sabemos (e já fizemo) a cena do termómetro.

 

É muito fácil olharmos para trás e achar que aquilo é que era.

Lembra-me sempre da minha ex que me ligou a dizer que a nossa relação era incrível! Ela já não se lembrava do motivo de não ter durado ou de ter acabado. É selectivo.

Também eu sofro do mesmo, quando me esqueço. 

Mas, depois, um gajo vai ver a evolução das estatísticas da mortalidade infantil, por exemplo, e a realidade demonstra-nos que o avanço tecnológico é very cool. 

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