Monday, December 18, 2006

Embrulho


Gosto das fragilidades de quem não se quer frágil.
Não é o acto de comiseração triste de quem procura a bengala seja ela qual for.
Ainda agora vi uma menina que quer, a todo o custo, ser mulher.
De tanto querer até acredita que o é até ao momento em que não basta querer e parecer...é preciso ser.
Esta será uma das poucas vezes em que não tenho vontade de ser corrosivo nem sarcástico e nem frio, não tenho vontade de, como em tantas outras situações parecidas, dizer "fizeste a cama....deita-te".
Tenho esperança na criança porque ela tem brilho.
Acredito na menina porque ela existe debaixo dos panos de seda vermelhos que lhe tapam o corpo.
Gosto dela porque apesar de ser uma ilusão não a vejo como falsa.
Nem todas as almas nascem velhas, como a minha.
Nem todos os corações são empedernidos, como o meu.
Nem todos os seres são matreiros e desconfiados, como eu.
Há dias, como o de hoje, em que a fragilidade dos outros é a minha luz nas trevas e a mão que me puxa pra cima sem sequer saber que eu ando nas profundezas.
Engraçadas estas coisas do não se saber porquê, estranhas estas coisas do sentir na armadura um arranhão que me faz sentir vivo.
A tua tristeza não é a minha.
A tua verdura não me é familiar.
O teu sofrimento nunca o vi.
A tua vergonha não me atravessa a pele....
Mas em dias como este invejo o açucar que cai nas mãos e se escorre pro chão.... não o tenho, nunca o quis, não o quero.... e em dias como estes sinto a sua falta.
Um dia aprenderás, um dia a pele enrugada ganhará aspereza, um dia serás mais como eu... mas nesse dia, em que a agrura não te tocará o açucar fugirá de ti.

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