Thursday, November 15, 2007

Estava agora sentado no sofá e lembrei-me que não me lembro de ter sofrido por ninguém.
Nunca me senti particularmente afectado por nada que aconteça aos outros, por muito que goste ou ache que goste dessa pessoa.

Não é uma coisa sádica, não tenho prazer na dor alheia, para ser sincero, não desejo mal nem a quem não gosto, daí que muito menos deseje a quem gosto.
Também não é que não me importe, sou um tipo presente quando acho que precisam de mim.
A questão é que não deprimo e nem fico dias a pensar no mal que aconteceu aos outros.
Não sou de partilhar as dores como se as sentisse na pele.

Já entrei e saí de relações e nunca me ficou a faltar um pedaço.
Já assisti a separações dolorosas mas nunca fiquei com aquele sentimento de que parecia que me estava a acontecer a mim.
Já, até, tive familiares [de quem gosto] em situações de alguma maleita e sempre achei que ia tudo ser tranquilo, não me passava pela cabeça que fosse correr mal então fiquei sempre tranquilo.

No meio de tudo isto, que se pode chamar de insensibilidade, lamento, em parte, não ter uma laceração profunda na pele, lamento não saber exactamente o que é isso de sentir a vida esvair-se por não ter aquela pessoa comigo ou por uma outra pessoa estar a passar um momento muito dificil.
Sinto-me uma bocado como o ar rarefeito pela altitude que, apesar de existir, não abunda.

Cada um preenche os seus vazios como entende.
Umas pessoas querem sucesso, outras querem fama, outras querem comer gajas, outras querem dinheiro, outras querem roupas, outras querem afecto... enfim, todas as necessidades terão uma explicação psicologica ou coisa parecida mas isso nem interessa.
A minha dúvida é outra, se tudo é vazio haverá alguma coisa que o preencha?

Muitas vezes acho que talvez seja esse o meu mal.
Desisti de encontrar o que me falta porque me falta tudo.
Se me falta tudo, acaba por ser a mesma coisa de não me faltar nada e se não me falta nada não há nada que queira.
Não posso dizer que seja um barco à deriva nem um papel perdido no chão. Para ser o barco precisava de estar em contacto com o mar e para ser o papel preisava de estar em contacto com o chão... e não sinto nada em baixo dos pés.

Deve ser por isso que sou do samba, é das poucas coisas que faz com que esta estadia no limbo se torne coerente, é aquele momento em que pouco interessa se há alguma coisa além do pandeiro no ouvido e o samba no pé.
Juro que não fumei nada mas talvez precise.

E quem não tem dono não é dono de ninguém.
"Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar,
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar"

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