Ideias por Ideologias
Acabei, por estes dias, de ler a biografia de Henrique Galvão, biografia essa que é muito interessante, o mesmo será dizer que a sua vida é muito interessante.
Esquecendo (com esforço) a germanofilia de que sofria, numa altura especialmente pouco recomendável, muito do seu pensamento e actuação é, na minha opinião, muito mais que válido. Foi ele que disse que é um erro trocar ideias por ideologias e, na forma como enquadra essa afirmação, não poderia estar mais de acordo.
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O discurso político de hoje em dia é muito polarizado, polarização que foi agudizada tanto pelo ciclo noticioso ininterrupto (é preciso alimentar a besta) como pelo facto de que o poder se tornou um fim em si mesmo de forma ainda mais absoluta. Não é novo, é só um pouquinho mais extremo porque se profissionalizou.
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Galvão, por exemplo, dava-se mal com toda a gente, desde comunistas a fascistas, desde colonizadores a colonos o que poderia ser feitio mas torna-se estranho quando, tanto quanto li, ele era o mais moderado de todas as facções, violentamente moderado.
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Não queria o fascismo mas era profundamente alérgico ao comunismo.
Não queria a colonização que vi mas era profundamente alérgico a uma independência tout cours.
Sendo certo que não perderei tempo a explicar como o vindo de referir se transformava em realidade, porque não é o escopo destas linhas, direi isto:
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Não é igual ser contra a ditadura e ser comunista;
Não é igual ser contra o comunismo e ser fascista.
Não é igual ser contra a independência absoluta das colónias e defender a ditadura;
Não é igual ser contra a aquele tipo de colonização e ser contra a existência de colónias.
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O problema é que esta, ontem como hoje, parece ser a mais radical das revoluções. Esta coisa de defender ideias que, no seu conjunto, talvez ainda não tenham encontrado um vocábulo que, por si, as defina.
Ser a favor não tem de ser a antítese de ser contra, as ideologias não deveriam vencer as ideias.
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