Saturday, March 07, 2015

...Vem da Citação Anterior

Pensei em evitar dizer que estou a ler sobre neurociência mas, como é evidente, decidi em sentido contrário. E pensei em evitar porque me causa alguma náusea parecer que leio coisas esquisitas para dizer que as leio; é uma coisa intrínseca em mim: prefiro sempre que achem que só me interessam mamas e parvoíce tanto porque me sinto melhor com isso como porque, normalmente, gente que gosta de coisas como as que eu gosto é chata porque não acha estimulante o supérfluo e eu acho.
(sim, calcanhar de Aquiles, ainda que não me queira comprar a um semi-deus o que ainda assim acabo de fazer: não me lembro de nada que me incomode mais do que ser chato).

Então, porque citei o que citei e porque me interessa esta coisa?
Há uns anos aprendi a explicação científica (que não explicarei) para o facto de estarem certas as pessoas que nos dizem antes de fazeres alguma coisa, conta até 10. Estas pessoas não sabiam o efeito neuronal da coisa e continuam a não saber mas, independentemente disso, estavam certas quanto ao benefício da medida.
Contraintuitivamente, constatar-se-á que os países mais quentes têm as gastronomias mais picantes. Contraintuitivamente porque é esquisito comermos coisas que nos fazem suar quando estamos num sítio onde muito se sua e desidrata. Pois. O suor faz com que o corpo se nivele, em termos de temperatura, e é por isso que as comidas são como são. As maioria dos habitantes destes países não sabe por que cozinha como cozinha mas, ainda assim, cozinha. Estão certos mas ninguém lhes ensinou os benefícios físicos.
Quando se nos atravessa um cão à frente desviamo-nos dele sem nos apercebermos disso. Melhor. Sem pensarmos nisso. Não ordenamos, conscientemente os nossos pés porque a nossa consciência é lenta mas, ainda assim, fazemos o que temos a fazer porque o nosso corpo (ou cérebro) apercebeu-se do que estava a acontecer antes de nós.
Há uns tempos, foi feito um estudo em que se descobriu que os melhores jogadores de futebol pensavam menos do que os que lhes eram inferiores. Outra vez: contraintuitivo. Pensar mais e melhor faz-nos melhor? Pelos vistos, nem sempre. O Messi finta-os porque eles lhes aparecem à frente e não porque pensou em fintar.

A questão dos olhos saltou-me aos meus porque acho isso há muito mais tempo do que aquele que decorreu entre a ter lido e agora.
Muitas vezes ouvimos que vemos o que queremos ver e é absolutamente verdadeiro. O problema que se coloca, normalmente, é que achamos que somos suficientemente espertos não para vermos o que queremos mas antes o que existe e como eu não me acho genial a esse ponto tendo a estar mais alerta e, com isso, os riscos de ver o que lá não está diminui mas, como a cena do cão e da comida, suponho que, ainda assim, veja muitas e muitas vezes o que vivi e não o que vivo naquele instante.

OS PAIS

Há uma crença, que alguns acham científica, de que passamos a nossa vida à procura do nosso pai ou mãe, dependendo da orientação que tivermos.
Apesar de parecer incestuoso, é duvidoso que o seja.

Nós crescemos sem darmos realmente conta daquilo que aprendemos, vivemos ou nos habituamos. É tanto assim que ninguém no seu perfeito juízo quereria ser toxicodependente quando teve um pai que o era ou alcoólico no mesmo tipo ou violento quando via o sofrimento que isso lhe causava. E ainda assim, as pessoas que crescem nestes ambientes têm mais propensão a sê-lo que as outras porque mesmo sendo horrível, sentem-se confortáveis e porque...as pessoas adaptam-se a tudo.

Da mesma maneira, se fores suficientemente pisado terás problemas de auto-estima que se resolvem ou sendo muito subserviente ou muito agressivo. É o mesmo sintoma com uma doença diferente.
Da mesma maneira, se fores suficientemente endeusado terás problemas de hipervalorização e estes são mais difíceis de resolver porque se não tiveres cuidado passarás a vida inteira com fome porque nunca receberás aquilo que entendes merecer receber.

Eu, por exemplo, tenho problemas com autoridade e consigo ver onde nasceram. Tenho problemas com regras, o que é mais ou menos a mesma coisa. Tenho prblemas com tom de voz, o que é, também, mais ou menos a mesma coisa.
Eu, por exemplo, não tenho relacionamentos com pessoas que não se preocupem em tratar de mim. Não que precise ou que deixe ou que queira mas é um sentimento que se recebe que não admito não ter. Sei onde começou e sei o que me leva a precisar dele.

Estes são dois exemplos de coisas que tanto podem ser boas como más. Tanto podem ajudar como prejudicar. 
Como sempre, o mais importante não são os sentimentos ou as coisas por si só. O contexto é tudo.

(só por curiosidade: fizeram uma cena em que cruzaram dados empíricos quanto a uma imensidão de gente que se casou. Constatou-se que era muito mais reincidente pessoas que tinham um sobrenome comum casarem-se. Consanguinidade? Não. As pessoas estavam familiarizadas com o próprio nome e sentiam-se naturalmente mais próximas de outras com quem tinham isso em comum.
É espantoso o que o nosso cérebro nos faz sem avisar, não é?)

CONTROLO

Quem sabe mais, tendencialmente, controla quem sabe menos.
Assumidamente, sou um control freak pelo que odeio sentir-me sem pé, daí que, por norma, tenho muita atenção ao que me rodeia e a quem me rodeia. Não necessariamente porque essas pessoas e situações me interessam particularmente mas porque não quero que o meu ambiente me domine (eu sei, eu sei, todos temos issues).

Há uma gaja que trabalha comigo com quem a coisa azedou de uma forma esquisita para o que estou habituado. 
Por norma, os meus primeiros contactos com as pessoas são difíceis e vão melhorando. É meio consciente e meio inconsciente. Consciente porque sei que assim é e não quero evitar; inconsciente porque sei que assim é e não consigo evitar.
Voltando,
dava-me bem com ela. Na verdade, era mais do que um relacionamento cordeal porque soube que ela conhecia, pelo menos, uma pessoa com quem me dou ou dei - já não a vejo há anos - muito bem.
A dado momento, numa conversa com cigarros pelo meio, soube que o namorado dela era bem mais velho que ela e a coisa resvalou para ele querer ter filhos rapidamente e ela achar que não queria e que não valia a pena.
Respondi-lhe o que me parece ser a verdade as mais das vezes: sabes. Eu não é que não queira, eu sempre quis muito mas não aconteceu e não me parece que vá acontecer. Por isso, o meu problema é outro. Na verdade, acho que é o mesmo das pessoas que dizem que não querem ter; o que elas realmente acham é que já vão tarde.
Ela concordou. O problema não é que não queria mas antes que já lhe parecia ser tarde.
Naquele momento, soltou o que terá descoberto ou, se calhar, nunca descobriu: abriu a porta para que eu percebesse o que ela era.

Ah, que diferença faz isso?
Toda.
Quando não tenho nada contra as pessoas e especialmente quando lhes tenho algum apreço, gosto de saber onde lhes dói quer para evitar quer para ajudar; quando tenho alguma coisa contra elas, gosto de saber exactamente pelo motivo contrário.

Para que fique claro: quando ela me disse o que me disse não me revelou algo específico sobre ela, revelou-me tudo sobre ela. Não é importante o facto de achar que é tarde para procriar, é importante o facto de que precisa de se esconder para se sentir segura mesmo para uma questão tão menor como esta.

Eu sei onde dói e ninguém gosta de sentir dor.
Controlo.

AS OUTRAS

 

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