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Como é sabido, não gosto de datas festivas apenas por serem festivas. Não preciso de motivos para celebrar e quando o faço por ser expectável e quase obrigatório a coisa raramente corre bem.
Se me querem deprimido, por princípio, metam-me nas últimas duas semanas do Ano.
O mesmo acontece com, por exemplo, aniversários, especialmente o meu porque o das pessoas que me interessam faço o que elas quiserem. É festa? Festa. É presente? Presente. É cantar? Cantar. O meu tem um sinal de proibido em tudo o que disse. Não há festa; Não há presente; Não há cantar. Infelizmente, em termos familiares ainda tenho de papar com o bolo porque não tenho coragem de o negar mas quanto a presentes e cantar, proibição.
Para que serve, no meu caso e em proveito próprio, este tipo de data?
Serve para haver um desfile de cadáveres a aparecer no meu telemóvel.
Em proveito próprio, é uma desculpa (às vezes) para ir jantar a um lugar que me apeteça com a pouca gente com quem me apetece.
Desta vez, foi uma pessoa porque não liguei às, talvez, mais 3 que gostaria que comparecessem; e foi uma pessoa porque a pessoa se lembrou de dizer para irmos jantar fora, caso contrário, nem isso.
Bem,
o jantar foi muito agradável porque foi com o gajo que, neste momento, talvez seja o meu melhor amigo (no masculino) e com quem tenho bastante em comum sendo que este comum apareceu de caminhos muito diferentes.
Pergunto-lhe, bastantes vezes, como ainda aturas o X e o Y? ao que me responde quase invariavelmente que oh pá, não sou como tu. Ainda aguento papar o chaço sem parecer que estou a papar...mas ultimamente tem sido cada vez mais difícil...
Estas pessoas a quem me referi não são más pessoas, foram meus amigos em tempos e o afastamento não partiu delas. O que eles estão a passar eu já fiz há muito, tanto eu como o gajo que jantou comigo. Eu já fiz todas as provas de vinho que consegui aguentar; Eu já fui a todos os restaurantes da moda que me era possível; Eu já me preocupei com a marca das minhas camisas mais do que devia; Eu já quis integrar-me e ser sofisticado e o que é engraçado é que sou muito mais sofisticado agora mas muito menos reconhecido como tal.
Eu (e Ele) já batemos a cidade de lés-a-lés à procura de lugares cool para levar as miúdas e evitar encontrar quem não se queria. Eu (e Ele) sabemos o que são taninos e castas e temperatura e aberturas e que folhas se usam para que charutos e a diferença entre o torpedo e o robusto e o corte macho e fêmea e ...e....e....enfim, aquilo que me parecia importante e sofisticado na altura, numa onde pedante que agora detesto.
Muitas das pessoas que conhecemos em comum chegaram aqui agora de onde já fomos embora há muito!
- Pá! Tou farto que me falem do filho da puta do (insert nome de restaurante) como se fosse a última maravilha. Não se pode comer bem, lá! Nunca lá fui nem irei mas não é possível!
- Tens toda a razão...a F foi lá por causa do jantar de Natal e o serviço e a comida são péssimos! Mas como é decorado pelo sei lá quem e tem Ferraris à porta...
É disto que falo. Andei tempo sem fim envolvido nestas coisas para não entender, sem lá colocar os pés, o que a coisa é. E é má. Só podia ser má. Como todas as coisas do tipo são...
Coisas com Graça
Como já por aqui tem aparecido e quem me é mais próximo sabe, a ideia de ser fisicamente mais fraco levanta-me muitos problemas no que concerne à imagem que tenho de mim e se para muitos isso seria um problema de somenos (porque forma ganha ao conteúdo), para mim não é.
Entramos num bar onde estava previsto irmos e aquilo estava insuportavelmente cheio.
No meio da confusão e dos bêbados (de onde não me excluo mas numa fase ainda baixa), despejaram-me, sem querer, uma cerveja no braço.
Há anos atrás isso poderia criar problemas mas, agora, desde que me peçam desculpa a coisa estará resolvida.
Estes (eram 3 gajos) pediram desculpa...e quiseram ir buscar mais cerveja para me oferecer...e continuaram a pedir desculpas durante mais tempo do que eu estava disposto a ouvir porque aquela interacção estava a cansar-me. E quanto mais irritado eu parecia (por me estarem a massacrar e não pela merda da cerveja) mais desculpa me pediam.
O gajo que estava comigo percebeu e pôs-se no meio e despachou, gentilmente, os gajos. Entendam, eu não estava em modo ataque mas a minha paciência estava a esgotar porque estava a ter dificuldades em ouvir o Tiro ao Álvaro.
Despachada a coisa, disse-me Tás a ver? Não me parece que olhem para ti e pensem em "fraquinho". São 3, não me tinham visto e não lhes pareceu boa ideia arranjarem problemas.
Provavelmente ele tem razão mas o que os outros pensam interessa aos outros.
Horas depois (e muitas outras coisas depois) estávamos na rua porque o tempo era óptimo e as coisas estavam demasiado cheias.
Apareceu um velho desgraçado com claros problemas mentais e oftalmológicos perto de nós. Apareceu, entretanto, também um idiota bêbado com a sua camisinha da moda e dar-lhe trela.
O velho queria um cigarro; o gajo atirou-lhe um cigarro que caiu ao chão e o velho, porque não via corno, continuou à espera do cigarro.
Isto passava-se meio metro à nossa frente.
O idiota ponderou e fez menção de obrigar o velho a pegar no cigarro do chão. Nesta altura, o que terá acontecido (eu não estava na cabeça daquele camelo) é que percebeu que os gajos que estavam atrás dele a falar tinham-se calado. A nossa conversa terminou sem termos combinado porque aquela merda estava a dar-nos nos nervos, o que ambos sabíamos mas não dissemos.
Então, o gajo tirou outro cigarro do maço, deu-o ao velho e acendeu-lhe o cigarro, Pegou, ele, no cigarro do chão e foi-se embora.
Quando a cena acabou, disse ao meu amigo pá...esta merda tava com todo o ar de que ia acabar mal. Se o gajo tinha obrigado o velhote a pegar no cigarro a vida ia-lhe ficar muito difícil...
Ele, naturalmente, estava a pensar no mesmo e também achou que o idiota tinha sentido o tempo mudar.
Porque não se falou em vez de se ficar calado a ver?
Porque apesar de estarmos os 2 numa fase muito mais calma da vida e muito mais tolerantes, como todas as pessoas somos só uma fina camada de verniz que conseguimos aplicar. Demora-se anos a evoluir mas apenas 1 segundo a voltar a ser selvagem.
Se 1 de nós tinha falado - o que já aconteceu em outras alturas e em outras situações - o outro tinha entrado, também, em modo neanderal e o idiota tinha apanhado na tromba.
Ficámos calados.
A coisa resolveu-se.
O Idiota manteve os dentes.
O Velho teve o seu cigarro.
Nós não voltámos no tempo.
...E A SOLIDÃO PARECE SEMPRE A SOLUÇÃO...
Como todo os anos, por volta destas altura as pessoas do passado dão uma passada. Algumas por quererem que não nos esqueçamos delas, outras porque é uma desculpa para estabelecer contacto, outras porque é um hábito...enfim, os motivos são contáveis mas não me apetece elaborar sobre o assunto porque o que cá me traz é outra coisa.
Podia falar da que andou a preparar terreno durante uma semana para que permitisse que viesse onde está para me ver, o que não fiz;
Podia falar da que depois de me dar os parabéns voltou ao não entendo por que me fizeste isto, ao que não obteve resposta diferente da que já ouve há mais de 5 anos;
Podia falar da que precisava de me dar notícias e ter notícias minhas, como acontece há muito mais tempo do que devia...e vou.
Esta conhece-me muito bem e porque me conhece muito bem percebe pelo tom e tipo de assunto que puxa se terá resposta ou não.
Como foi mãe, sabia que era uma coisa na qual tinha interesse e, presumo, não sabia que eu sabia; Então, mais um ano! Parabéns da L e do JM! Respondi que não sabia que já tinha sido mãe, porque quem mo poderia dizer, casualmente, já não é meu vizinho de trabalho, e desejei felicidades para ambos.
(Porque me levou isto a dizer que me conhece? Porque ela sabe que não deixo de me preocupar com as pessoas de quem gostei e sou especialmente fraco para crianças. Então, encaixou o nome do miúdo para que reposta não fosse o habitual Grato.)
Aproveitou, então, para me perguntar para onde me tinha mudado; para dizer que a X lhe tinha dito que tinha perdido muito peso e se isso era verdade; para me dizer que, como é habitual (ipsis verbis) tinha fingido que não a tinha visto num determinado sítio.
Parece tudo mais ou menos normal, certo?
Bem... não. Novamente, como me conhece bem, primeiro entrou com as minhas fraquezas e depois aproveitou para me perguntar o que não poderia perguntar ou, sequer, dizer porque não daria abertura a tal.
De qualquer maneira, poderão pensar: Então, K, é natural que gente para quem tenhas sido importante queira saber de ti! o que estaria certo caso o K em questão não fosse eu.
No meio (mais no fim) da sequência de sms que resumi, em cada um deles e em crescendo, tivemos gosto tanto quando me respondes, ps. quando fingiste que não me viste estavas acompanhado, beijo cheio de saudades, há momentos e pessoas que fazem parte, para sempre, do nosso Eu, e, se não me engano, só nós sabemos o que fomos um para o outro...mais ninguém...
Fui respondendo a tudo, com parcimónia.
Não fui só eu que fingi não ver, foi recíproco e não me pareceu que devesse dizer nada;
Não é por mal. É que é esquisito, no nosso caso, dizer "olá" porque fomos demasiado íntimos para conversa de circunstância e acho que isso te facilita a vida (como é evidente pelo teor das mensagens, eu estava certo e sabia).
Quando recebi a de só nós sabemos o que fomos um para o outro e que terminou com ela a assinar com o termo pelo qual eu a tratava, que não o nome, parei... estava a ir para onde eu sempre previ que fosse e não queria.
Fosse eu outro tipo de pessoa, uma pessoa mais feliz, suponho, e o que teria retirado daqui é que o tempo passa mas eu não. Sou uma tatuagem invisível que nenhum laser consegue ou conseguiu remover. Sou inesquecível para as pessoas que me foram realmente próximas e me conheceram.
Fosse eu outro tipo de pessoa, uma pessoa mais permeável, suponho, e o que teria retirado é que sou melhor do que aquilo que julgo, os meus defeitos não são tão terríveis como os vejo e, por isso, talvez seja capaz de fazer alguém feliz e independentemente de onde se encontrarem algumas pessoas posso sempre contar com elas.
Infelizmente, não sou este tipo de pessoas...
O que aconteceu, na realidade, é que senti validado o meu cinismo; comprovou-se, uma outra vez, que muitos desconhecem onde estão porque julgam estar noutro lugar; atestou-se que, como a política, a vida da maioria de nós é a arte do possível.
Já fui mais crítico em relação às pessoas que vivem dentro daquilo que lhes é mais cómodo ou que se contentam porque ou acham que não merecem mais ou que não podem ter mais.
Hoje compreendo-as mas não consigo ponderar da mesma forma no que à minha vida diz respeito.
Se Dante criou os 9 círculos de inferno, o 10º, para mim, será estar numa situação em que a pessoa com quem estou (nem preciso de estar casado ou ter filhos em comum) sabe que eu não sou A pessoa mas Uma pessoa; possivelmente a melhor escolha mas não A escolha.
Não admito, desde que saiba e esforço-me muito por saber, ser o prémio de consolação de ninguém.
Ah, K, mas não podes ver como prémio de consolação. A pessoa escolheu-te a ti. Foi a ti quem quis, independentemente de tudo!
Não. Não independentemente de tudo. Ficou dependente dessa pessoa ter achado que a outra, A pessoa, não iria resultar por um qualquer motivo mas não pelo motivo que devia ser: Gostar mais de outra pessoa.
Ela sabe que Ele não é quem deveria ser mas quem pode ser.
Ele - não o conheço, por isso extrapolarei - pode sentir o mesmo em relação a Ela mas não sabe que Ela senti isto.
Eles poderão ser muito felizes mas nunca tão felizes como poderiam ser e, eventualmente, isto ser-lhes-à suficiente.
Cinismo ou Realismo?
A teoria aponta para Cinismo porque a honestidade só chega ao ponto em que não causa desconforto excessivo.
A prática aponta para Realismo porque independentemente do quão honesto consigamos ser com os outros, a realidade tende a ser menos complacente.
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