Tuesday, March 17, 2015

Menos Mórbido do que Parece

Quando perecemos?
Se não estou enganado, um gajo, agora, está oficialmente morto quando se encontra em morte cerebral quando antes acontecia quando o coração parava de bater.
Será que continuamos vivos, por exemplo, quando deixamos de ser aquilo que somos ou quando nos esquecemos?

Imaginem-se as doenças degenerativas mentais. Quando apagamos interessa se temos a mesma cara e o mesmo corpo? O que nos preenche é menos importante? Será que quando passamos a ter outros gostos, quando esquecemos quem nos rodeia, quando nada do que vivemos recordámos continuamos vivos?
Parece-me mais certo que, nestes casos, nasça outra pessoa e morram, num qualquer futuro, duas pessoas.

Não sou adepto do live fast and die young, não me preocupa deixar um caixão bonito. Não vejo de que me serviria ser um bom preenchimento de madeira. Não vejo o que ganharia com isso. 
Este tipo de comportamento, à rock star, pode perpetuar o mito mas o que interessa isso ao mito que já se foi?

O meu problema é mais outro.
Interessa andar um gajo a arrastar-se no que não quer para um futuro incerto? É que há muita geração saúde que é atropelado por um carro e de pouco lhe serve ser vegan e ter umas artérias que são um sonho.
Quero eu ser este gajo que se priva daquilo que gosta sem saber, exactamente, para quê?
Ah, é para ter mais saúde e qualidade de vida!, pareço ouvir. E seria, se houvesse algum contrato que o garantiria.

Se um carro me atropelasse ou uma bala me encontrasse, hoje, haveria muita coisa que não teria feito e que gostaria de fazer. Mas o vinho, a cerveja, o samba, as directas em hotéis, os cigarros, as pancadarias, as vinganças, os sentimentos que me queimam e tudo o resto a que não me privei bala nenhuma e carro nenhum tirariam!

Não sou auto-destrutivo - ok, não estou completamente certo disso mas parece-me que não - mas não estou disposto a qualquer coisa por coisa qualquer.

Vamos ver:
imagine-se que tinha os filhos que não tenho, imagine-se que tinha um relacionamento que não tenho, imagine-se que encontrava fora uma felicidade que por dentro me escapa, imagine-se, em suma, que tudo o que tenho e me interessa deixava de existir apenas nos contornos da minha pele.
Neste cenário, é possível que achasse coisa diferente; não porque deixariam de me interessar as coisas que me interessam agora mas porque, eventualmente, haveria uma sobreposição, haveria algo que se tornaria mais importante e o próprio tempo teria um valor acrescido.

Não sendo assim, sacrificar tudo por coisa nenhuma parece-me parvo.
Diria, agora, que estou pronto a fazer cedências e não estaria a enganar ninguém ao dizê-lo. Estou pronto para isso, talvez. O problema que se coloca a quem tem o azar de se conhecer como me conheço é que estas cedências duram até me encher delas.

O que fazer, então?
Estou a pensar nisso há horas seguidas. 
Realisticamente, o que tenho de decidir é se entro no comboio e, a entrar, é todo, ou se cago e deixo a vida me levar, caso em que nem ponho os pés no apeadeiro.

Correndo o risco de ser melodramático, o que detesto, a frase que ecoa na minha cabeça é esta:
Eu não vou ser o gajo que nunca fumou e morreu de cancro nos pulmões!

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