FÉRIAS
A menos que tenha algo de cool programado, as férias não são bem recebidas por mim. Demasiado tempo livre não me ajuda e as férias podem ser isso mesmo: demasiado tempo livre.
Ou passo a beber mais do que devo;
Ou passo a comer o que não devo;
Ou, pior dos piores, a pensar sem rumo.
(Quase) tudo isto está a ser evitado, desta vez.
Então:
O PLANO
Não gosto de planear demasiado mas o mínimo tem de ser orientado, caso contrário...vou para onde e vou fazer o quê?
Planeado em demasia é péssimo porque, além de chato, a vida é o que acontece enquanto estamos a fazer planos.
Decidiu-se, então, ir daqui para longe mas ainda dentro das fronteiras (é engraçado eu troçar de quem precisa de ir para o estrangeiro para desligar mas se eu ficar a menos de 100 kms de casa acho que só fui dar uma volta).
Decidiu-se, também, que se iria ver um determinado tipo de cenas mas não se decidiu que cenas, em concreto, e nem a sua ordem.
Decidiu-se ir para um Hotel porreiro, decisão que teve a minha iniciativa mas não tanto a minha vontade porque não gosto, particularmente, de hotéis. Paga-se mais do que o que se deve; tem mais gente do que devia ter; a gente que por lá anda consiste, normalmente, nos turistas que, apesar de serem o mesmo que eu, pretendo, sempre, evitar.
A EXECUÇÃO
O Hotel foi das minhas melhores experiências em geral e se me cingir ao território nacional há-de ter sido mesmo a melhor.
Porquê?
Ficava a uns 3 kms da estrada principal e a estrada que ligava a principal ao hotel não dava para chegar a mais lado nenhum;
Ficava a uns 15 minutos, de carro, da povoação - sim, POVOAÇÃO - mais próxima;
Era sofisticado e nada pretensioso, coisa muito difícil de arranjar.
E o melhor de tudo e ainda mais inesperado: éramos os únicos Hóspedes.
Fomos recebidos e aquilo pareceu-me muito solto e fiquei contente. Passados uns minutos, passei a achar que estava não solto mas sem ninguém mesmo.
Confirmou-se na manhã seguinte: a mesa do pequeno almoço - e o pequeno-almoço, naturalmente - estaca posta só para nós.
Sim, Hotel privado pelo preço de um quarto!
Poderia melhorar?
Poderia.
Jantámos fora 4 vezes e das 4 vezes só numa delas estava mais alguém no restaurante além de quem lá trabalhava:
Boa noite. O restaurante está aberto? Ainda servem? (eram oito da noite)
- Sim. Vou fazer. O que querem jantar?
Poderia melhorar?
Poderia.
Quando fomos visitar as cenas que tínhamos, sem muita precisão, programado, turistas vi, por cima, 10...
Época baixa. Dia da semana. Nada...
Viu-se o que se queria e como se queria.
Para os que pensam ah, ficaste no mesmo lugar... responderei que fiz 1.000 kms.
Fui a muito lado.
Pessoas, quase nada.
Vale muito a pena...
ACASOS
Poderia ter considerado tudo o que descrevi como acaso, que o foi, mas não serve para isto este sub-capítulo.
Este serve para ilustrar o porquê de gostar de me ir embora e o que considero ser o mais relevante sempre que se vai para algum lado.
O GPS levou-nos para os lugares de que mais gostei. Estradas de acaso que ligavam o ponto A ao ponto B mas onde tudo se passava.
Estradas belíssimas, vistas belíssimas, miradouros que não o eram, pontes magníficas, populações esquisitas e acampamentos do mesmo tipo.
Fomos abordados por uma velha que queria atenção e que nos explicou umas coisas que estavam escritas numa parede. Nem me importei de ter sido chamado de burro...a geração nova não sabe ler...;
Fomos abordados por uma velha que nos perguntou se íamos par ao sítio X porque queria boleia. Não íamos. Tinha-lhe dado boleia, se fosse;
Fui abordado pelo padeiro que passava na sua furgoneta e que perguntou quer ver o que levo aqui? e quando se preparava para continuar a vender respondi quero! e fui comprar coisas que nem queria.
Isto que descrevi não se programa porque não se consegue. E é por isso que não gosto de programação exaustiva.
Isto que descrevi será, provavelmente, a parte que melhor recordarei da viagem e não o monumento do Sec sei lá qual ou a Batalha de Qualquer Coisa que ocorreu no lugar Y.
Não se confundam! Eu adoro História e este tipo de coisas mas o que me faz - a mim e aos outros - diferente não é monumento que todos os olhos tocaram mas a velha que me pediu boleia.
Não aprendi isto agora mas gosto sempre de recordar.
Descobri que o inesperado é mais marcante quando fui para um lugar exótico e a minha primeira e mais vivida memória é a de pelicanos a pescarem. Não era inesperado os pelicanos estarem a pescar nem sequer a existência dos pelicanos...eu só não sabia...
SOLTAS
Trump
Eram umas 3 da manhã quando liguei a televisão porque estava há uma hora sem conseguir dormir.
Quando tal aconteceu, tomei nota de que o Trump ia à frente e pendei fode-se, isto ainda vai acabar mal! e acabou mesmo, como vim a descobrir uma horas mais tarde.
A vitória do Trump é menos surpreendente do que parece. Está na esteira da votação que o BE teve por vá, do Brexit e da subida da Le Pen.
Quando algo de surpreendente deste tipo acontece lembro-me sempre do que o Maher disse ao idiota do Piers Morgan (vou parafrasear):
Sabes qual é a série de tv com mais assistência nos EUA?
- Não...
NCIS.
- Nunca vi essa série.
Pois, nem eu. O que acontece é que os EUA não são NY e LA. Há muito mais gente...
Esta troca de impressões teve por base a vitória do Bush nas segundas eleições mas serve para o caso Trump.
A História já nos ensinou vezes sem conta que somos medrosos, merdosos e egoístas, bem como estúpidos.
Os Ingleses acham que saindo da UE os problemas deles estarão resolvidos;
Os Franceses acham que implementando a nunca desaparecida xenofobia vão voltar ao que, provavelmente, nunca foram;
Nós achamos que a esquerda caviar pode ser a solução para os nossos problemas;
Os Americanos acharam que um muro maior os vai resguardar daquilo que, possivelmente, ainda os mantém competitivos.
Aqui, ontem ou antes disso, houve uma manifestação de imigrantes ilegais que pretendem ser legalizados e perguntaram a um deles:
Está legal?
- Não.
Paga impostos?
- Pago.
Eu conheço gente assim. Não é mentira.
Eu conheço imigrantes ilegais que pagam a segurança social de que eu e vocês beneficiam.
Os alemães não andaram a receber refugiados em bardo apenas por serem porreiros. Eles, como nós, têm um problema demográfico; Eles, mais do que nós, precisam de quem se disponha a desempenhar as profissões mal pagas que os alemães não querem fazer.
Os alemães, povo, estão, contudo, fodidos com a situação porque não percebem o que ninguém lhes explicou.
Somos estúpidos...
Quem pensar que está mais seguro porque tem de se descalçar antes de entrar num avião, padece de neurónios.
Vejam o que fez um camião em França!
Sim, um avião dá mais sainete, pelo que há que amedrontar-nos para votarmos nos falcões que dizem que nos mantêm mais seguros mas, de facto, não mantêm. Só parece, quando muito.
Tinha mais para dizer mas não me apetece...
Sem Som
Todos temos problemas.
Eu não sou complicado mas sou muito difícil e outros serão o preciso oposto disto...muito lamentando os que sofrem das duas coisas em simultâneo.
Não vou discorrer sobre o que faz com que as coisas não funcionem porque são, potencialmente, infindáveis e a minha paciência não o permite.
Prefiro, por uma vez, falar daquilo que talvez fundamente o vale a pena.
Se vocês forem como eu, acharão a maioria das pessoas chatas.
Podem não ser como eu mas estou em crer haverá alguns.
Se vocês forem como eu, além de achar que a maioria das pessoas são chatas, são capazes de lhes dizer - quando necessário - ou picar a mula para não terem de as aturar.
Aqui haverá de haver menos de vocês que sejam como eu e, possivelmente, com bons motivos para isso, sendo um deles o facto de serem adultos e terem aprendido a papar chaços.
Ora,
tendo em conta o descrito, deverá ser raro poderem partilhar tempo em cima de tempo com alguém.
Deverá ser raro poderem estar ou em silêncio ou com coisas para dizer quando não há qualquer distracção à volta.
Deverá ser raro não pensar de vez em quando - quando têm a sorte de ser de vez em quando - o que será que o X e o Y estão a fazer ou o que será que está a dar na televisão enquanto ouvem o que não vos interessa. Por vezes, enquanto ouvem o que não vos interessa pela milionésima vez.
Para mim, por exemplo, é raro sentir que não quero estar noutro lado e, por ser raro, não costumo ficar imóvel durante muito tempo.
...e quando se sente que não se quer estar noutro lado, talvez seja momento de parar mesmo.
...e de volta ao meio:
a minha cabeça diz-me que vale a pena (não que é preciso!) tentar superar as falhas e os problemas e os issues próprios e alheios se se está perante o pouco comum.
A minha cabeça avisa o meu corpo mas o meu sangue nem sempre obedece. É uma luta cansativa. São décadas de reflexos a tentarem ser condicionados e convencidos que o que se faz normalmente não se há-de fazer em condições anormais e que devemos adaptar-nos quando o meio nos oferece o que queremos...que nunca é tudo o que queremos porque a perfeição não existe.
Então,
não haverá motivo melhor para se ser diferente do que quando se está perante algo diferente.
AGORA,
é só repetir 1.000.000.000 de vezes quando o sangue escaldar e esperar que não se esteja enganado.
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