Thursday, August 30, 2018

A URSS

Poderia parecer que iria dissertar sobre a URSS em si mas não será o caso. Tanto porque acho não saber o suficiente como porque não tenho muita paciência para cenas longas.

A URSS de que pretendo falar surgiu assim:
Ontem, dei por mim a pensar que talvez fosse melhor que o Mundo ocidental se tornasse, novamente, beato. Que passasse a andar de bíblia debaixo do braço. Que voltasse a peregrinar muito à missa. Que rezasse antes de ir para a cama. Que voltasse a temer, com vontade, a fúria de Deus.

Tendo com conta que não nutro qualquer apreço por religiões organizadas, isto soou-me a estranho.
Então, surgiu porquê?
Bem...para um rebanho se organizar torna-se necessário um nível de cultura e de entendimento que não vislumbro nas pessoas enquanto manada; se o rebanho não se organiza sozinho, o melhor é ter um pastor.

Lembrei-me, por exemplo, de como uma determinada parte do Iraque apreciou a chegada do ISIS ao seu território, apesar da enorme violência que o acompanhou e da perda de toda e qualquer liberdade.
Estas pessoas não eram más pessoas. Estas pessoas preferiram a ordem ao caos, ainda que a ordem chegasse à vergastada e à pedrada.

Este tipo de pensamentos ou esta forma fria e objectiva de ver o Mundo chateia-me mas não estou certo de ser errada.

A URSS surgiu acoplada à ideia que explanei quanto à religião mas não pelo cordel de ateísmo comunista nem pela desregulação que provocou a separação dos soviéticos da Igreja Ortodoxa.

Eu, um anti-comunista primário, pensei: pá...o Mundo unipolar que saiu da Guerra Fria não é impecável. Perdeu-se um contrapeso que tinha um valor que não foi e, possivelmente, não é reconhecido.
Uma das consequências que acompanhou o tombo de Berlim foi o abismo ainda mais profundo em que caiu África. Antes da queda, havia uma luta intestina entre URSS e EUA e esta luta forçava-os a cortejar estados africanos.
Esta corte resultava em apoio e no benefício de se ter duas propostas que podem concorrer uma contra a outra.

Agora, é unipolar.
É isto que tens, se quiseres. Se não quiseres, fode-te.

Uma outra consequência - esta ainda mais próxima da questão da religião - é que as preocupações geopolíticas parecem ter desaparecido e, com elas, o domínio que o Estado ou os Estados podem ter sobre a economia. E neste caso, refiro-me a Estado quando podia dizer Pessoas.

Desaparecida a ideologia concorrente, o vitorioso Capitalismo passou a ver auto-estrada, apenas.
A ausência de fronteiras e de preocupações fez com que o Capitalismo apenas galgasse terreno e nunca é boa ideia não haver predadores naturais ou, pelo menos, predadores concorrentes.

.....

Isto é muito desconfortável.
É muito triste eu sentir a falta de uma força Comunista quando detesto o Comunismo e é ainda mais triste saber, à partida, que o regresso poderia ser em alguma medida positivo mas sempre desejaria que acontecesse com outros.
Não aprecio desejar mal aos outros ainda que por um bem maior.

Apesar de não ter o mesmo asco às organizações religiosas, também apenas desejaria que elas viessem mostrar o cajado aos outros que precisam dele e não a mim.
Novamente, é desejar o que considero ser mau aos outros.

.......

Por fim, poderia, em tese, haver uma outra consequência, ainda:
Havendo um qualquer perigo real, poderia tornar-se necessário um planeamento além do sagrado trimestre.
Talvez se passasse a dar valor ao long term e se deixasse de ver o tono do António Costa a fingir que é jovem em Vilar de Mouros (acho que foi em Vilar de Mouros) e pudéssemos ter alguém que pensasse nesta merda toda a, vá, 10 anos.

Eu tenho fé nos humanos enquanto indivíduos; são capazes de coisas admiráveis.
Eu não tenho fé na humanidade; só me deixa ficar mal. 

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