Friday, August 17, 2018

Soberba?

Ontem, estávamos a falar e Ela diz-me:
K, é desagradável estar num jantar com pessoas e tu desligares; as pessoas estão a falar e tu não estás a ouvir.
- Eu sei...até é um bocado falta de educação e eu detesto ser mal educado...o que acontece é que a alternativa é pior. A alternativa é ir-me embora porque a dada altura não aguento mais...
Eu sei. Eu percebo mas é desagradável.
- Pá...eu vou no terceiro livro este mês. Comecei com Chomsky, passei pelo Asimov e agora esta a meio da "Antologia do Pensamento Geopolítico e Filosófico Russo - Sec. IX a XXI". Eu não dou para vulgaridades desinteressantes e pseudo-intelectuais. Eu não presto atenção a 80% do que as pessoas dizem.

Em boa verdade, este tipo de discurso causa-me algum desconforto mas dá-se que é verdade.
Tento não ser demasiado narcisista mas tento ainda mais ser realista sem ter de me desculpar por isso e o que a realidade me tem mostrado é isto: eu sou mais esperto que a maioria e muito mais culpo que um número ainda maior de pessoas.

O desconforto que esta linha de raciocínio me causa prende-se com o facto de não ser entendido; isto não sou eu a considerar-me melhor nem superior, em termos humanos.
Não considero valer mais, intrinsecamente, que uma pessoa analfabeta e não acho que deva merecer melhor tratamento.
Considero, contudo, que o facto de não dar para mim conviver com pessoas com interesses e níveis de conhecimento diferentes do meu não deverá ser criticado.
(este assunto é tão sensível para mim que até me preocupo com o que outras pessoas possam entender)

Também lhe disse que a minha vida é difícil, C. Sinto-me constantemente deslocado e a minha sorte é que a minha personalidade dá pra isso. Estou deslocado e sozinho mas vivo e convivo bem com isso. Novamente, por sorte junta-se a fome com a vontade de comer.

É-me difícil ter respeito por quem votou a segunda vez no Sócrates;
É-me difícil relevar que alguém acredite no Bruno de Carvalho;
É-me difícil desconsiderar o apreço que alguém tenha pelo Donald Trump.

Acho, aberta e sem subterfúgios, esta gente burra...mas não lhes desejo mal nem acho que devam ser apedrejados nem tratados como escumalha.
Não me peçam é para conviver com eles; não me peçam para entabular conversa.

Por exemplo:
as maiores plataformas baniram dos seus servidores o Alex Jones.
O Mundo liberal bradou em euforia porque foi feita justiça.

Pá...eu detesto o Alex Jones e lamento todos aqueles que o ouvem e apreciam mas, por exemplo:
1. estas plataformas, ao terem assumido uma posição quanto ao conteúdo que é transmitido, passarão a ser responsáveis e responsabilizadas por todo o conteúdo que é carregado livre e constantemente?
2. serão entidade privadas e de tão grande dimensão - eu sei, eu sei, são privadas e, por isso, fazem o que quiserem mas o seu carácter privado conflitua com a sua propagação e implantação - as mais aptas a decidir o que é aceitável ou não dizer?
3. agora que este arauto de uma Direita violenta e virulenta foi banido e terá de continuar o seu trabalho no sub-solo, será que ficamos melhor ou pior por não termos tão fácil acesso às loucuras desta gente? Não é melhor saber do que não saber?

...não dei por ela de nenhuma destas questões terem sido articuladas.
As pessoas só ficaram felizes porque um mentecapto foi banido.

A maioria de nós não vê um palmo à sua frente.

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